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A indústria do plástico reage à campanha "Saco é um saco"

Plásticos podem ser bons, mas as sacolinhas plásticas não são, e significam um passivo ambiental que legamos para muitas gerações

Mudar hábitos e padrão de consumo não é tarefa fácil nem ocorre por “geração espontânea”, repentinamente, sem que algum fator novo surja no cenário e nos motive a agir de modo diferente. O fator novo é a crise ambiental, sem precedentes, e a consciência ecológica que vem aumentando no mundo inteiro, como mostram várias pesquisas. Como conseqüência, aumenta a disposição de todos os setores sociais de contribuírem para uma solução coletiva para os problemas criados pelo modelo atual de apropriação dos recursos naturais e dos bens ambientais.

Humanos são acomodados e preguiçosos por natureza, o único fator que mudará os péssimos hábitos que estão destruindo o planeta é a lei, a multa e finalmente a prisão por não cumprir a lei.

Este modelo, baseado na falsa abundância de recursos e na energia fóssil, mostra-se totalmente descolado dos limites que a natureza apresenta seja para fornecer matéria prima ou “serviços ambientais”, seja para assimilar os dejetos e/ou resíduos que produzimos. Capacidade de reposição de estoques e assimilação “natural” de resíduos faz parte hoje da nossa alfabetização ecológica e dos necessários limites que devemos impor às nossas expectativas exageradas de consumo coletivo e individual.

Muitas vezes, resolvemos os problemas dos resíduos com algum tipo de tecnologia mitigadora, como foi o caso dos filtros que mudaram, a partir dos anos 70, a paisagem das chaminés e suas fumaças negras, emblemáticas de um capitalismo selvagem que pouco ligava para a contaminação que causavam as fábricas nas zonas industriais e depois nas grandes cidades, tornando o ar irrespirável para milhões de pessoas.

Nenhum empresário colocou os filtros por livre e espontânea vontade e sim pela vontade da lei, que só foi criada somente após grandes mobilizações sociais como por exemplo em Cubatão, que na década de 80 do século passado tinha um nível de poluição intolerável, causando doenças crônicas em grande parte da população.

Leis só nascem a partir do anseio popular, não vemos leis sendo criadas a partir da consciência de políticos, que são eleitos para representar os interesses da sociedade mas infelizmente nem sempre agem sem pressão social.

O caso das sacolas plásticas, hoje em dia, também é emblemático e característico de um consumo exacerbado e irresponsável. Não vou repetir aqui os conhecidos argumentos que temos contra o uso indiscriminado, excessivo, escandaloso de sacolas plásticas no mundo e no Brasil. Os números falam por si: 12 bilhões de sacolas são utilizadas anualmente pelos brasileiros. Uma única rede de varejo de grande porte distribui por mês cerca de 100 milhões de sacolas. Além dos supermercados, temos as abundantes e gratuitas sacolinhas distribuídas pelas farmácias, padarias, lojas diversas e até mesmo bancas de jornais. Acumuladas nos lixões ou nos “aterros sanitários”, ou voejando como morcegos anêmicos pelas ruas, calçadas e praças, redes elétricas, as sacolas plásticas nos vitimam pelo “efeito bumerangue”, se voltam contra nós, e imprimem uma presença nefasta em enchentes, matança de animais marinhos e danos à paisagem.

Corrigindo, mais de 20 bilhões de sacolas são descartadas anualmente no país. Somente as 3 grandes redes, carrefour, wallmart e pão de açúcar jogam no ambiente 450 milhões de sacolas por mês, apenas no Brasil.

20% de todo o lixo coletado diariamente corresponde a plástico.

10% de todo o lixo coletado diariamente corresponde a sacolas plásticas de uso único. Temos que refazer os cálculos, pois os grandes geradores de plástico agora resolveram salvar o mundo fazendo sacolas 30% mais pesadas, com 30% mais plástico em cada uma delas.

Assim que o Ministério do Meio Ambiente lançou em junho de 2009 a campanha “Saco é um Saco” alertando a população para o problema, convidou cada cidadão para usar seu poder de consumidor e fazer uso consciente das sacolinhas plásticas; a indústria do plástico reagiu imediatamente: colocou na televisão uma campanha simpática para dizer que “plástico é legal”, que a sua adoção significou um inegável progresso, que não podemos viver sem ele (o plástico).

Fantástica é a verba que a máfia do plástico destinou em 2009 para campanhas publicitárias : 19 milhões para a plastimorte mentir para a população e convencer a todos que o plástico é fantástico e esconder a poluição causada pela máfia, uma poluição que ficará por cinco séculos assombrando a humanidade.

Plástico é legal? Pode ser sim, mas sacolinha plástica definitivamente não é. Enquanto não houver— e não há no momento — solução para uma destinação correta do pós-consumo, as sacolinhas plásticas significam um flagelo, um passivo ambiental que legamos para muitas e muitas gerações.

A única solução possível para o problema das sacolas plásticas de uso único no mundo é uma lei dando ano, mês, dia e hora para a proibição delas, com direito a multa e fechamento do local que distribuir estas sacolas, multa e prisão para quem for visto portando estas sacolas, encerramento das atividades da fábrica que ousar produzir este lixo que fica pelo menos cinco séculos sobre o planeta, poluindo e matando.

Não podemos viver sem as sacolinhas plásticas? Eis uma sentença duvidosa, uma vez que cidades como a rica Toronto, no Canadá, e a pobre Daca, capital do Bangladesh, baniram o uso das sacolinhas; na África, a paupérrima Tanzânia também as proibiu. A China recentemente adotou a política de cobrar pelas sacolinhas, um contra-incentivo ao seu uso.

Podemos e devemos sim, viver sem sacolas plásticas de uso único!

Lembrem-se de Xanxerê, SC, cidade que serve de modelo todas as outras cidades do país, que por iniciativa de seus supermercadistas e com o apoio da prefeitura, em primeiro de abril de 2009 corajosamente baniu estas sacolas e inspirou dezenas de cidades que estão se preparando para proibir a distribuição destas infames sacolas já em 2010.

Lembrem-se das muitas cidades e estados que desde 2007, enquanto não banem para sempre a sacola plástica de uso único já tomaram a primeira providência para desplastificar seus lares e esta providência é a aprovação da lei de substituição da sacola plástica de uso único convencional que demora 500 anos para sumir da face da terra, por sacolas plásticas de uso único feitas de plástico com ciclo de vida útil controlado, o plástico oxi-biodegradável, que em 18 meses já terá sumido sem causar danos ao planeta.

Chore máfia do plástico, chore xico tóxico, porque a guerra contra a sacola plástica de uso único que iniciamos em 2004 começou a ser ganha, batalha por batalha, cidade por cidade.

Supermercados, como é o caso do Carrefour, no Brasil, com mais de 500 pontos de venda, já não usam sacolas plásticas no seu país de origem, a França — e o Carrefour também definiu a meta de reduzir 50% do volume que distribui até 2013. Só não “zera” a distribuição agora porque “o consumidor quer o saco plástico”.

Bem, façamos as contas. Se o carrefour polui o país com 150 milhões de sacolas por mês, podemos dizer eles terão deixado de herança para nossos descendentes aproximadamente umas 10 bilhões de sacolas 2013. Isso sem falar que agora eles usam sacolas com 30% mais plástico e que só deixarão de usar 50% delas. Se contarmos o crescimento da população podemos dizer que em 2013 o carrefour estará poluindo nosso país com 100 milhões de sacolas por mês. Interessante, por que será que no país deles eles não fazem isso? Um frances vale mais que um brasileiro? Hmmm …

Enquanto não existir lei para banir estas malditas sacolas plásticas de uso único, isso aqui vai continuar sendo a casa da mãe joana. Cada um faz o que quer e o governo faz de conta que não está vendo, porque se admitir o que está acontecendo terá que interceder, fazer leis, trabalhar para limpar esta sujeira e isto parece que o governo não está disposto a fazer.

E pela lógica do Carrefour, então os traficantes de entorpecentes devem agir livremente e sem serem presos, pois os viciados querem drogas …

No “Dia do Consumidor Consciente”, o último 15 de Outubro, o Carrefour liderou, no setor, o movimento de adesões à campanha do MMA “Um dia sem sacolas plásticas”, oferecendo aos seus consumidores sacolas retornáveis. Outras redes igualmente grandes seguiram o mesmo tipo de atitude. Por que será que as grandes redes de supermercado, que compram essas sacolas com centavos de dólar o milheiro, quase sempre em países asiáticos, estão desistindo das sacolinhas?

A resposta é simples e tem lógica de mercado, além da ética: cada vez mais imperará a chamada logística reversa, ou seja, um tipo de regulamentação ambiental que responsabiliza o produtor ou o distribuidor pela coleta e destinação correta de embalagens e produtos cuja vida útil terminou. A Lei Nacional de Resíduos Sólidos (em vias de ser aprovada no Congresso) aponta claramente nessa direção. É uma tendência irreversível. Se os supermercados forem obrigados a recolher as sacolinhas plásticas, o que farão com elas? Além disso, será ético, sustentável, contribuir para o aumento desse passivo ambiental?

E como se posiciona o consumidor nesse contexto? Novamente, não é simples, pois sabemos que no nosso país é bastante comum a utilização da sacolinha plástica para acondicionar o lixo, sobretudo doméstico. É prático, confortável. Para quem, perguntamos? Como repetir diariamente esse comportamento sem nenhum questionamento? Tomamos, por acaso, remédio sem ligar para seus efeitos colaterais? O que fazer, perguntam os consumidores por meio dos sites de relacionamento que o MMA desenvolveu para a campanha? Como evitar o uso das sacolas?

Reduzir, recusar quando não for absolutamente necessário, é o primeiro passo.

Vamos debater, vamos ver se a sacolinha é mesmo necessária, ou apenas nos acostumamos a ela, sem fazer nenhuma conta das conseqüências. Vamos refletir sobre a quantidade de sacolinhas que utilizamos. Por que não exigir sacolas mais resistentes? Por que não separamos o lixo seco do molhado, facilitando a reciclagem das sacolas, hoje representando apenas 1%?

Gostaríamos de ter uma resposta confortável, definitiva, para cada consumidor aflito que nos consulta. Mas esta resposta não existe. Ela depende de decisão coletiva a favor de uma qualidade de vida que deveremos conquistar se desejamos um presente e futuro saudáveis.

Existe sim samyra, a resposta é banir a sacola plástica de uso único com multas para quem distribuir e usar, acondicionar o lixo orgânico somente em saco de lixo oxi-biodegradável feito de plástico reciclado – para criar demanda para o plástico reciclado e gerar renda para o reciclador -, usar container reutilizável – caixa de papelão, saco de juta, tambor de plástico ou do que quiser, desde que seja não descartável – para o lixo reciclável que deve estar limpo e seco e assim diminuir em 75% o uso do saco de lixo e as cidades realizarem compostagem com o lixo orgânico – o saco pode ser compostado junto – aumentando assim vida útil dos lixões e aterros em 95%.

A resposta está aí acima como uma receita de bolo, se o MMA quiser ler e aprender e agir. Mas, será que quer?

Fonte – Samyra Crespo, Secretária de Articulação Institucional e Cidadania Ambiental do Ministério do Meio Ambiente para o Akatu em 10 de novembro de 2009

Foto – Nadia D Miller

This Post Has One Comment

  1. Gostei muito da iniciativa de produzir estas sacolas, so tomei parte hoje(28/02/2010) pois fui comprar um remédio e a farmácia o envolveu nesta sacola.Esta campanha de evitar a sacolinha é ótima mais deveria ser mais divulgada na midia os danos que esta praga faz ao ambiente, fui fazer uma campanha em um supermercad pela faculdade cujo o tema foi o SACO È UM SACO e pude notar a desenformação por parte dos cidaões, muitos me perguntaram se realmente era verdade estes impactos que as sacolinhas trazem.Bom a campanha é boa de adquirir estas sacolas oxy-biodegradaveis,só depende da conciência de cada um para fazer valer esta iniciativa.

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