Por Ellen Nemitz · ECO - 18 de dezembro de 2024 - Câmara ressuscitou “jabutis” da…
A liberação do metano ártico pode criar um cenário apocalíptico
Existem bombas relógios climáticas explodindo ao redor do mundo. O artigo “Methane Hydrate: Killer cause of Earth’s greatest mass extinction” (Uwe Branda et. al., 2016) publicado na prestigiosa revista Palaeoworld, em dezembro de 2016 faz um alerta preocupante: “O aquecimento global provocado pela liberação maciça de dióxido de carbono pode ser catastrófico. Mas a liberação do hidrato de metano pode ser apocalíptica”.
A pior extinção em massa da Terra foi causada por mudanças climáticas descontroladas. O evento de extinção em massa do Permiano-Triássico (também conhecida como a Grande Agonia) ocorreu há aproximadamente 250 milhões de anos e eliminou 96% da vida marinha e 70 por cento da vida em terra. O artigo confirma que a causa deste evento foi o crescente nível de dióxido de carbono e metano que desencadeou o aquecimento global.
Diversos pesquisadores têm discutido, há tempos, o que desencadeou o evento de extinção em massa, se as chuvas de meteoros ou as erupções vulcânicas em larga extensão. Agora os pesquisadores têm reexaminado os gases presos em rochas antigas e descobriram que o evento de extinção foi em grande parte impulsionado pela mudança climática. Eles descobriram que as erupções vulcânicas liberaram grandes quantidades de dióxido de carbono no ar, o que teria elevado em até 11º C as temperaturas globais.
Essa subida da temperatura levou ao derretimento do permafrost que tinha armazenado grandes quantidades de metano. O derretimento do permafrost levou à libertação deste metano que provocou um rápido aquecimento global. Ou seja, a emissão de dióxido de carbono de depósitos vulcânicos pode ter iniciado o aumento de temperatura, mas foi a liberação de metano de sedimentos do permafrost da região do ártico que levou a temperatura média do Planeta a 29º C e é considerado a causa final do evento biótico apocalíptico.
Algo semelhante acontece atualmente. A humanidade já liberou aproximadamente 1.500 gigatons de dióxido de carbono, desde o ano 1850. Isto já elevou a temperatura global a mais de 1º C em relação ao período pré-industrial, segundo a WMO. E este aquecimento está provocando o degelo do Ártico, do Alasca e da Sibéria. A exposição do permafrost pode liberar 50 gigatons (50 bilhões de toneladas) do metano ártico, o que é equivalente a pelo menos 1.000 gigatons de dióxido de carbono.
O jornal “The Siberian Times” revelou ano passado que a temperatura quente do verão derreteu o permafrost causando a liberação de gases congelados no solo. Imagens impressionantes de vídeo do fenômeno (ver no link abaixo) mostram como o chão tremeu como gelatina sob os pés dos cientistas. Outras descrições dizem que a superfície da tundra – em uma região de permafrost a cerca de 765 quilômetros ao norte do Círculo Ártico – borbulhou ou tremeu.
Medições feitas por pesquisadores em expedições para a ilha Belyy descobriram que após a remoção de grama, o solo “borbulhante” liberou a concentração de dióxido de carbono (CO2) 20 vezes acima do normal, enquanto a liberação do metano (CH4) foi 200 vezes maior. Os cientistas alertam que esse fenômeno pode ter consequências imprevisíveis sobre o aquecimento global.
Mais ao sul, nas penínsulas de Yamal e Taimyr, os cientistas observaram uma série de crateras que de repente se formaram no permafrost. O jornal informa que quando as crateras apareceram pela primeira vez na Península de Yamal – conhecida pelos habitantes locais como “o fim do mundo”, eles provocaram teorias bizarras quanto à sua formação. A maioria dos especialistas agora acredita que eles foram criados por explosões de gás metano desbloqueado pelo aquecimento das temperaturas no extremo norte da Rússia.
Relatório da Organização Meteorológica Mundial (WMO), publicado dia 21 de março, mostra que o ano de 2017 mantém a mesma tendência de alta do aquecimento global de 2016 e, segundo os cientistas da instituição o mundo está entrando em um “Território Inexplorado”. Pela primeira vez no Holoceno os dois polos (Ártico e Antártica) batem recordes de degelo ao mesmo tempo. Quanto menos gelo no mar, mais o oceano absorve a luz solar e aumenta a temperatura e, consequentemente, menos gelo se forma. Por exemplo, os cientistas russos descobriram prados verdes nas ilhas do Ártico. A vegetação brotou de sementes antigas que dormiam no permafrost durante 10.000 anos. Desta forma, aquecimento global se retroalimenta e coloca todo o Planeta em perigo. Isto significa aceleração da subida do nível dos oceanos e uma grande ameaça para as áreas litorâneas do Globo habitado.
Os cientistas alertaram sobre o potencial impacto catastrófico do aquecimento global e da liberação de gases de efeito estufa (GEE) congelados no solo ou sob o mar. Ou seja, mesmo que a humanidade consiga reduzir ou até mesmo eliminar as emissões de GEE nas próximas décadas, esta ação já pode vir tarde, pois o efeito feedback pode liberar o dióxido de carbono e o metano do permafrost desencadeando um aumento da temperatura que pode repetir uma nova era de extinção em massa da vida da Terra, num cenário realmente apocalíptico.
Referências
Uwe Branda et. al. Methane Hydrate: Killer cause of Earth’s greatest mass extinction, Palaeoworld, Volume 25, Issue 4, Pages 496–507, December 2016
Dahr Jamail. Release of Arctic Methane “May Be Apocalyptic,” Study Warns, Truthout, 23/03/2017
Now the proof: permafrost ‘bubbles’ are leaking methane 200 times above the norm, The Siberian Times reporter, 22 July 2016
José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal.
Fonte – EcoDebate de 03 de abril de 2017
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