Por Amália Safatle - Pagina22 - 15 de novembro de 2024 - Segundo pesquisa da Market…
A pedido da COESUS, Beto Richa veta artigo que permitia pesquisas sísmicas para fracking
O Paraná é pioneiro na luta contra o fracking, proibindo essa tecnologia altamente impactante para ao ambiente, a economia e para as pessoas.
Governador paranaense ouve as vozes e pedidos de centenas de cidades que estão participando da maior campanha realizada pela sociedade civil no país
O governador do Paraná, Beto Richa, sancionou ontem, 22, a Lei 18.947/2016 que suspende o licenciamento para exploração do gás de xisto através do fraturamento hidráulico, método não convencional conhecido por FRACKING, com veto ao Artigo 3º que permitia pesquisas sísmicas. A sanção e a justificativa do veto foram publicados na edição de hoje, 23, do Diário Oficial do Paraná.
Alertado pela COESUS – Coalizão Não Fracking Brasil pelo Clima, Água e Vida – e 350.org Brasil sobre os riscos e impactos decorrentes dos testes para aquisição sísmica e pesquisas no Estado, o governador acatou parecer da Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento (SEAB) e vetou o Artigo 3º com base no princípio da precaução para não “concordar com a pesquisa sobre uma atividade que, sabidamente, é portadora de alto potencial de poluição de nosso ar, nosso solo e nossa água, podendo futuramente, colocar em risco o sucesso da atividade agropecuária, a mais importante para a economia do Estado e para a saúde do seu povo”.
De acordo com Juliano Bueno de Araujo, fundador da COESUS e coordenador de Campanhas climáticas de 350.org, o veto representa o esforço contínuo de três anos de intenso trabalho da campanha Não Fracking Brasil que sensibilizou, mobilizou e orientou representantes de organizações e entidades da sociedade civil, de sindicatos rurais e de trabalhadores, presidentes de cooperativas agrícolas, lideranças políticas, religiosas e do movimento ambiental, academia científica, voluntários, parlamentares e gestores públicos.
Com o veto ao Artigo 3º da lei 18.947/2016, os caminhões vibradores contratados pela ANP não poderão continuar os testes para aquisição sísmica no Paraná, que são tão nocivos quanto a tecnologia em si.
“Com o veto, o governador Beto Richa garante assim a continuidade da pujança agrícola do Estado do Paraná, da saúde dos milhões de paranaenses e da biodiversidade, proteção da água e clima colocados em riscos pelo fracking”, afirmou Juliano. Ele enfatizou ainda que “a proibição das pesquisas sísmicas é mais um passo para banirmos definitivamente o fraturamento hidráulico e a exploração de outros hidrocarbonetos do Paraná”.
Banimento do fracking
Para a diretora da 350.org Brasil e coordenadora nacional da COESUS, Nicole Figueiredo de Oliveira, a “proibição das pesquisas sísmicas reforça a importância da ida em 2015 dos deputados estaduais à Argentina para ver em primeira mão aquilo que não queremos para o Paraná nem para o Brasil”.
A missão foi organizada pela COESUS e levou parlamentares brasileiros para as Províncias de Neuquén e Rio Negro, na região de Vaca Muerta, para conhecerem a contaminação provocada pelo fracking, especialmente para a produção agrícola.
Região de Vaca Muerta, na Argentina, visitada pelos parlamentares a convite da COESUS e 350.org Brasil.
Desde 2013 COESUS realiza a campanha Não Fracking Brasil, tendo como gestores a 350.org Brasil, Fundação Internacional Arayara, Cáritas Paraná, Sindicatos Rurais e instituições de pesquisa, somados ao apoio e participação de centenas de Câmaras de Vereadores, Prefeitos, empresários, agricultores, cientistas, ambientalistas e climatologistas. Mais de 200 cidades já aprovaram modelo de Projeto de Lei sugerido pela campanha para proibir o fraturamento hidráulico.
Nicole adianta que as leis municipais que proíbem operações de fracking continuam sendo necessárias e importantes, mas que é preciso pressionar o Congresso Nacional para a aprovação de uma legislação nacional proibindo o fraturamento hidráulico e a exploração de outros combustíveis fósseis.
“Esse veto é a prova de que quando nos mobilizamos e unimos esforços, conseguimos sim revertes políticas públicas equivocadas e que colocam em risco a vida das pessoas e o ambiente. Temos que continuar pressionando os governantes para que nenhum projeto fóssil receba investimentos no Brasil e América Latina, devendo optar pela energia renovável, limpa e segura”, completa.
O que é o fracking
Fraturamento hidráulico, ou FRACKING, é a técnica destrutiva de extração do gás metano aprisionado em microbolhas no subsolo, num tipo de rocha chamada folhelho pirobetuminoso. Para sua extração, milhões de litros de água, misturados com areia e mais de 700 produtos químicos contaminantes, pelo menos uma dúzia deles radioativos, são injetados no subsolo sob alta pressão, fraturando a rocha.
Onde o fracking acontece não há água, o solo fica infértil, o ar poluído e as pessoas e animais são contaminados pelo metano e os químicos usados no processo de extração do gás de xisto. Foto: Internet
A vida média de cada poço é de um ano e meio a três, sendo que depois resta tão somente deserto radioativo irrecuperável. Os milhões de litros de água contaminados perdem-se parte no subsolo, parte em ‘piscinas’ a céu aberto que retornam à superfície. O fluído tóxico do fracking contamina os lençóis freáticos e os aquíferos, além do solo, impedindo a produção de alimentos, o abastecimento humano, a dessedentação de animais, a pesca, a agricultura, a indústria e o lazer.
Somente parte do metano liberado pelo fracking é aproveitado, permanecendo o restante livre, tornando água e solo passíveis de incêndios, contaminando o ar e prejudicando a saúde humana e o meio ambiente.
Se não fosse o bastante, o gás liberado contribui para o aquecimento global e para as mudanças climáticas, que põe em risco a sobrevivência de todas as formas de vida, inclusive a humana. Outro efeito do fracking é a ocorrência de terremotos, seja na fase de testes, pesquisa ou durante a exploração comercial.
Fonte – Por Silvia Calciolari, Não Fracking Brasil de 23 de dezembro de 2016
Fotos – COESUS/350Brasil
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