Por Ellen Nemitz · ECO - 18 de dezembro de 2024 - Câmara ressuscitou “jabutis” da…
A revolução de sermos o mundo que queremos transformar
Atualmente na política, depois de ter passado pela vida empresarial e pelo terceiro setor, o vereador Ricardo Young, palestrou sobre o tema Mundo em Transição, abrindo o primeiro dia do VI Congresso Brasileiro de Jornalismo Ambiental, ocorrido no SESC Vila Mariana, na cidade de São Paulo, entres os dias 20 e 22 de outubro de 2015.
Além de Young, personalidades das boas práticas ambientalistas, como Nelton Friedrich, André Trigueiro, Paulina Chamorro, Dal Marcondes, Mário Osava, Mário Mantovani, Alan Dubner, Fernando Von Zuben, Rachel Rosemberg, entre outros, compartilharam suas ideias e ideais para encaminharmos da melhor forma a aproximação, com a sociedade em geral e com os diferentes órgãos (políticos, empresariais ou não governamentais), de um tema que ganhou espaço em tempo recorde nas diferentes mídias: o meio ambiente em transição da forma tal como conhecemos até os dias de hoje.
Do ponto de vista do setor público, a ideia, mais apresentada como angústia pelas próprias palavras de Young, está ligada à transição do onde estamos e para onde seguiremos. “Vivemos o colapso do sistema produtivo e da economia intensiva”, afirmou o vereador.
De fato, o sistema tal qual se apresenta, está em pleno colapso. Estamos num modelo de sociedade que traz à reboque consequências sistêmicas de ordem planetária e só há uma saída civilizatória: a transição radical para o mundo sustentável. E, talvez, esta seja a maior de todas as angustias existentes.
O geógrafo Jared Diamond, em seu livro Colapso (vencedor do Prêmio Pulitzer), afirma que o futuro de todos os grupamentos humanos sempre dependeu da forma como encararam ou enfrentaram os desastres ambientais que os aguardavam. O Planeta Terra, observa Diamond, é um ambiente altamente mutável, no qual o sucesso e a continuidade da vida estão intimamente associados à sua capacidade de se adaptar às mudanças. Sociedades que souberam cuidar dos seus recursos naturais foram mais bem sucedidas ao se antecipar às alterações climáticas e ambientais de modo a conseguir sobreviver à elas. Povos que, ao contrário, exploraram em excesso esses recursos, movidos pela necessidade ou pela imprevidência, traçaram o caminho do próprio fracasso.
A isto chamamos de “eco-suicídio”, ou seja, a incapacidade de entender a fragilidade do meio ambiente combinada com a ganância que leva a exploração dos recursos naturais muito além do limite sustentável.
Para nós, jornalistas ambientais, está claro que sustentabilidade não é o que, normalmente, temos informado e sua construção e a construção deste conceito é nosso esforço cotidiano. É preciso ter claro que sustentabilidade não é apenas reciclar, consumir com consciência (se é que isso é possível), não é apenas regeneração dos serviços ambientais ou consciência de ecossistemas à beira do colapso da sua regeneração. Sustentabilidade é sobretudo uma forma de ser no mundo, é uma forma de integrar valores e entender o paradigma de que não somos nós humanos um milagre, o milagre é a vida.
A Declaração Universal dos Direitos Humanos é o melhor exemplo, apesar da virtude e da dignidade que este documento tem. Ele é um modelo típico de nosso antropocentrismo, de nossa visão limitada ao entendermos que a sobrevivência humana é tudo. E assim, nos matamos, eliminando e mitigando a vida no Planeta e aprisionando sempre toda a discussão sobre todo o modelo civilizatório à questão da produção e da economia. Pelo menos, este é o conceito que vem sendo trabalhado nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, tema central da COP 21, que deverá ocorrer em Paris, dezembro próximo.
Então, de cara, nosso grande desafio de um modelo civilizatório sustentável é passar a honrar a vida em primeiro lugar, como a razão de existir da nossa espécie. E reconhecer que as outras espécies, num sistema quase que milagroso de interdependência, sustentam suas redes e a possibilidade de vida no Planeta há milhares de anos.
Esta é uma mudança de paradigma que não se dará no fazer. O fazer é racional e não necessariamente traz amor, não necessariamente introjeta valores, traz renúncia ou nos torna mais humildes e menos arrogantes. A grande revolução é a revolução do ser, de sermos o mundo que queremos transformar, como Gandhi colocou de forma tão sábia.
Elisa Homem de Mello é jornalista especializada em sustentabilidade hídrica e energética. Escreve voluntariamente para Envolverde.
Fonte – Elisa Homem de Mello, Envolverde de 26 de outubro de 2015
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