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Agricultura urbana pode ser a chave para segurança alimentar

Além da economia, prática valoriza a produção e o consumo de alimentos da época.

O Rio de Janeiro tem hoje a quarta cesta básica mais cara do país, além de uma elevada importação de alimentos provenientes de outros estados que abastece os Ceasas e chegam aos mercados para serem vendidos ao consumidor final. Com apenas 3,3% da população vivendo em áreas rurais, a produção agrícola do estado não supre as necessidades de consumo. As hortas urbanas surgem então com uma saída para melhorar esse quadro e garantir a segurança alimentar. O tema foi debatido nesta terça (25) durante o encontro da Câmara de Agronegócios e reuniu na Escola do Legislativo representantes do IBGE, Embrapa, IBGE, Emater, além da ONG AS-PTA, que atua no fortalecimento da agricultura familiar e na promoção do desenvolvimento rural sustentável no Brasil.

“A segurança alimentar vem da agricultura familiar e da agricultura urbana e não do agronegócio que produz apenas 15 tipos de commodities voltadas principalmente para exportação”, afirmou a pesquisadora da Embrapa Agrobiologia Marta Ricci. Além disso, a agricultura familiar tem um peso importante para a economia brasileira, a 8ª maior produtora de alimentos do mundo com um faturamento anual de US$ 55,2 bilhões.

Segundo a Embrapa, agricultura urbana engloba diversas atividades relacionadas à produção de alimentos e conservação dos recursos naturais dentro dos centros urbanos ou em suas respectivas periferias surgindo como estratégia efetiva de fornecimento de alimentos, geração de empregos, contribuindo para a segurança alimentar e nutricional dos habitantes das cidades. É considerada uma prática sustentável, que proporciona também maior eficiência econômica para os cidadãos, valorizando a produção e o consumo de alimentos da época, além de reduzir as despesas com deslocamentos e transporte dos produtos.

Durante o encontro, Marta apresentou o novo projeto da Embrapa Agroecologia para estimular a adaptação de tecnologias e construção coletiva do conhecimento destinado à agricultura urbana na região metropolitana do Rio de Janeiro. A iniciativa está sendo desenvolvida em parceria com a AS-PTA, UFRRJ, Embrapa Tecnologia de Alimentos e Embrapa Solos. “O projeto começou em maio quando recebeu os primeiros recursos e veio num bom momento em que a população está descobrindo as hortas urbanas. Os gargalos na criação e manutenção dessas pequenas hortas nos levou a criar esse projeto de pesquisa, capacitação e adaptação de métodos já existentes para esse modelo de agricultura urbana”, afirmou Marta.

Despertar a consciência ambiental em crianças é jovens é o intuito do programa Embrapa & Escola que busca fortalecer os laços que unem os ambientes urbano e rural, orientando os participantes sobre a necessidade da preservação do meio ambiente, a importância da sustentabilidade e de práticas que garantam uma melhor qualidade de vida. As ações promovem uma aprendizagem e reflexão sobre as interfaces da ciência e da tecnologia com o setor agrícola e ambiental.

“A ideia é que esse público conheça o potencial da agricultura que pode ser desenvolvida na sua casa, escola ou comunidade, não só na parte alimentar, mas também na educação ambiental. Ao saber que o que ele está produzindo ali é sustentado pelo solo e pela água e que precisamos cuidar desses recursos naturais para ter uma alimentação saudável”, disse o pesquisador da Embrapa Solos, Cláudio Capeche. Hoje as demandas para a realização do programa parte das próprias escolas, mas já está em curso uma aproximação com a Secretaria de Educação, junto com o projeto Hortas Cariocas para ampliação do projeto.

As ações de apoio e extensão rural realizadas pela Emater-Rio foram apresentadas pelo gerente técnico estadual de olericultura Wellington Machado. Segundo ele, apesar de não contar com diretrizes estaduais para atuação nesta área especifica, diversos escritórios têm executado projetos para atender este público, por meio de demandas levantadas em suas localidades e com características de trabalho específicas, voltadas predominantemente para segurança alimentar e nutricional, socioeconômica, assistencial e terapêutica. Entre os exemplos estão a capacitação de comunidades e suas lideranças, agentes públicos e comunitários na implantação e manejo de hortas, o assessoramento  e apoio a implantação de hortas urbanas (escolar, terapêuticas, comunitárias e socioassistencial), além do assessoramento de equipes pedagógicas de escolas públicas, equipes dos serviços de assistência social e/ou equipes de serviços médico-hospitalares para o desenvolvimento deste trabalho. “Utilizamos espaços ociosos que passaram a ser trabalhados promovendo a agricultura urbana no estado com iniciativas em Itaguaí, São Gonçalo, Nova Iguaçu, Volta Redonda e Bom Jardim, por exemplo”.

Já os resultados preliminares do Censo Agropecuário e os desafios de mapear as hortas urbanas no estado do Rio de Janeiro foram abordadas pelo gerente técnico do Censo Agro do IBGE, Antônio Florido. “Se você for procurar no Censo Agropecuário a tipologia do agricultor urbano não vai encontrar porque ele só traz os estabelecimentos enquadrados como agropecuários. Um apartamento com uma horta na varanda não é um estabelecimento agropecuário por definição, mas escolas e hortas comunitárias são e buscamos essas informações dos perímetros urbanos em órgãos que atuam nessas áreas e seus cadastros para fazer uma varredura. Porém, é possível criar uma tipologia da agricultura urbana definindo os critérios e estratificar dos dados que o Censo Agro nos dá para ver ser é possível identificar nas variáveis existentes, quais agricultores se enquadram como urbanos”, explicou.

Segundo o coordenador do programa de Agricultura Urbana da ONG AS-PTA, Márcio Mendonça, a ausência de um plano nacional de agricultura urbana enfraquece que os estados desenvolvam seus próprios planos, além de ser necessária uma reflexão dos planos diretores e planos estratégicos dos municípios que permitam a promoção da agricultura urbana em seus territórios por meio das políticas públicas. “O potencial da agricultura urbana no estado está associado à possibilidade de se usar espaços públicos ociosos para a produção de alimentos saudáveis aliados ao acesso às políticas setoriais que tangenciam a agricultura urbana como o PNAE e agricultura familiar”, concluiu.

Fontes – Fórum de Desenvolvimento do Rio / CicloVivo de 26 de junho de 2019

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