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Agroflorestas geram mais lucro que soja e gado na Amazônia

Modelo de viabilidade econômica elaborado pelo WWF-Brasil em parceria com a Embrapa apontou retorno médio anual de mais de R$ 4 mil por hectare – (Foto: Pretaterra/Divulgação)

Embora sejam as principais atividades escolhidas pelo crime organizado para desmatar e ocupar terras de forma ilegal no bioma amazônico, a produção de soja e a criação de gado estão longe de serem as opções mais rentáveis para região.
Segundo modelo de viabilidade econômica desenvolvido pelo WWF-Brasil em parceria com Universidade Federal do Acre, Embrapa e Secretaria Estadual de Meio Ambiente, a recuperação da vegetação nativa em sistemas agroflorestais pode gerar um retorno médio anual de mais de R$ 4.500 por hectare.
“A produção de soja, que tem uma rentabilidade maior que a da pecuária, varia de R$ 1.500 a R$ 2.500 por hectare ao ano, dependendo da região. E quando você compara os sistemas agroflorestais analisados, eles têm valores similares e, em alguns casos, muito maior”, explica Edegar de Oliveira Rosa, diretor de conservação e restauração da WWF-Brasil.
Segundo os dados de custo de produção, produtividade e preço médio da soja calculados pelo Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), a safra 2020/2021 de soja no norte do Estado, inserido no bioma amazônico, deve gerar um retorno de R$ 861,73 por hectare neste ano-safra.
Os pesquisadores avaliaram dois casos de implantação de sistema agroflorestal realizados em 2015 entre pequenos produtores inseridos na reserva extrativista Chico Mendes em Xapuri (AC). No primeiro deles, realizado em pastagens degradadas, a rentabilidade média anual foi de R$ 1.949,61 por hectare.
Já no segundo modelo analisado, implantado em área já em processo inicial de recuperação (o que reduziu o custo inicial de implantação do sistema), o resultado chegou a R$ 4.534,13, com uma taxa de retorno do investimento realizado de 111,2% ao longo de 20 anos.
Os resultados se aproximam de outras experiências na região consideradas pelo estudo, cujas taxas de retorno variaram de 13,5% a 145%, de acordo com o manejo e tipo de culturas escolhidos.

“O desmatamento está muito atrelado à ilegalidade, para colocar uma pecuária que, em sua grande maioria, é de baixíssima produtividade como forma de fortalecer a posse da terra, enquanto existem caminhos para o desenvolvimento da Amazônia que conciliam muito mais o contexto regional, com a inclusão das pessoas e a preservação da floresta”, destaca Rosa.

Segundo ele, faltam políticas de incentivo para a adoção do modelo, que exige um investimento inicial elevado – R$ 15.281,20 por hectare no primeiro modelo analisado e R$ 13.725 por hectare no segundo – e pode levar mais de dois anos para começar a dar retorno.

“Existe toda uma economia que pode ser gerada sem o desmatamento da Amazônia. O que precisa acontecer é, de fato, haver o mesmo nível de investimento e de condições para permitir que essas atividades sejam alternativa ao que hoje é o padrão na região, com desmate, fogo e pecuária”, conclui Rosa.

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