Por Pedro A. Duarte - Agência FAPESP - 12 de novembro de 2024 - Publicado…
Amazônia. O Ibama e o desmatamento
“Lembramos que escolhemos defender o meio ambiente por amor à causa e conscientes da importância para as presentes e futuras gerações brasileiras e mundiais. Todavia, não venceremos esta luta sem instrumentos, infraestrutura e valorização. Continuaremos nossa luta dentro de nossas capacidades”, escreve Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA, em carta aberta, 02-12-2016.
Considerando a divulgação pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) apresentado no dia 30/11/2016 sobre o aumento, em um ano, da taxa de desmatamento da Amazônia em 29%, nós, chefes, gestores de núcleos e responsáveis pela Fiscalização do IBAMA nos Estados, reunidos em Brasília, vimos por meio desta Carta Aberta, alertar que:
Após 4 quatro anos de luta no controle das taxas de desmatamento na Amazônia, avaliamos que o aumento nos dois últimos anos é um reflexo da falta de prioridade que a agenda ambiental tem no Brasil com os sucessivos cortes de investimentos, enfraquecimentos legais, e ausência de concursos para recomposição do quadro de servidores do IBAMA, bem como nomeações de Gestores Estaduais cuja experiência não se fez na carreira ambiental, tampouco possuem qualquer comprometimento com a causa.
Como gestores responsáveis diretamente pela execução das atividades de combate ao desmatamento, alertamos que sem a adoção de medidas governamentais concretas, o quadro que se desenha para o próximo ano é o de continuidade do aumento do índice, situação que tira do Brasil o seu protagonismo no controle da emissão de gases de efeito estufa.
Anualmente, o contingente operacional empregado na Amazônia é reforçado por equipes de outros Estados e com isto há um prejuízo no funcionamento das Superintendências em matérias de fauna, pesca, qualidade ambiental, comércio exterior e as ações de proteção dos demais Biomas que têm índices de degradação ainda piores.
Ademais, lamentavelmente o contingenciamento orçamentário destinado ao órgão interrompeu o planejamento de 2016 e comprometeu as ações de fiscalização, resultando na retirada das equipes que atuam no combate aos crimes ambientais in loco, e permitindo assim o avanço do desmatamento.
Entendemos que muitas medidas são necessárias para a manutenção do controle do desmatamento na Amazônia, mas as principais fogem a governança da direção do IBAMA, que mesmo com todos os esforços ainda concorre com pressões advindas de outros setores que objetivam seus respectivos interesses econômicos e privados em detrimento do bem de uso comum de um povo e ainda um bem fundamental à sadia qualidade de vida, maculando a Constituição Federal de 1988.
Dentre as medidas necessárias destacamos as seguintes:
1) Reforço do orçamento para as atividades de fiscalização que vem sofrendo redução nos últimos anos: no ano de 2016 o IBAMA já arrecadou com taxas e multas mais de 436 milhões tendo de despesas discricionárias em torno de 250 milhões/ano, ou seja, o IBAMA é um órgão superavitário não justificando a redução e contingenciamento do seu orçamento.
2) Recomposição do quadro de fiscais por meio da realização de concurso público: o último concurso foi realizado em 2009 e houve uma redução significativa de fiscais sendo que atualmente 36% dos fiscais já atingiram o tempo de serviço necessário para aposentadoria.
3) Valorização do servidor que atua na fiscalização com atendimento dos pleitos estruturantes: atualmente, os agentes de fiscalização são designados por uma Portaria e não possuem quaisquer direitos diferenciados ou mesmo uma carreira específica regulamentada, dentre outros.
Alertamos que tais medidas são necessárias, mas não suficientes, a preservação da Floresta Amazônica depende ainda do envolvimento de toda a sociedade, que pode contribuir com o consumo responsável, buscando informações do mercado produtor e evitando os grandes fornecedores de produtos de origem vegetal e animal que são responsáveis direta e indiretamente por grandes áreas desmatadas na Amazônia.
Lembramos que escolhemos defender o meio ambiente por amor à causa e conscientes da importância para as presentes e futuras gerações brasileiras e mundiais. Todavia, não venceremos esta luta sem instrumentos, infraestrutura e valorização. Continuaremos nossa luta dentro de nossas capacidades.
Chefias de fiscalização do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA.
Brasília, 02 de dezembro de 2016
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