Por Elaine Patricia Cruz – Repórter da Agência Brasil - 18/12/2024 - Para cientista brasileiro,…
Após pressão de movimento popular, Monsanto se retira das Malvinas Argentinas
Em setembro deste ano, a Assembleia Malvinas Luta pela Vida completa três anos de resistência / Reprodução
Na Argentina e no Brasil, especialistas e atingidos indicam que Monsanto é uma ameaça social, econômica e ambiental
Durante a primeira semana de agosto, o site corporativo “Profesional” publicou a notícia de que a Monsanto começou a desmontar sua planta de “acondicionamento” de sementes de milho transgênico, destinada à produção de biocombustíveis e alimentos, que estava sendo construída desde 2012.
O fato é uma vitória de três anos de mobilização dos moradores e moradoras da cidade Malvinas Argentinas, na província de Córdoba, que se manifestaram contrários ao empreendimento e bloquearam o acesso às zobras logo que começaram. Eles estão organizados desde setembro de 2013 na Assembleia Malvinas Luta pela Vida, que irá completar três anos no mês que vem.
Sofia Gatica é uma das pessoas que participa ativamente do bloqueio, realizado pelos cordobeses. Ela participa do coletivo “Madres de Ituzaingó”, organizado para denunciar casos de morte, câncer e malformações dos moradores do bairro Itunzaigó e arredores, devido à pulverização de agrotóxicos lançados irresponsavelmente por produtores de soja da região. Reconhecida internacionalmente pela luta na defesa do meio ambiente com o Prêmio Goldman (2012), Sofia conversou com o Brasil de Fato diretamente do bloqueio nas Malvinas Argentina, enquanto aguardava que a Monsanto fosse efetivamente embora das terras cordobesas.
“Nós estamos aqui no bloqueio há três anos porque nossa gente está doente. Temos 33% da população com câncer e 80% das crianças com agrotóxico no sangue”, explicou a ambientalista. “Desde 19 de setembro de 2012 estamos bloqueando o acesso para que a empresa não possa ser construída. Mas não foi fácil, vivemos uma guerra, foi muito duro. Pensaram que iríamos ficar alguns dias e iríamos embora, mas tivemos que ficar aqui. Tentaram nos tirar com a força policial, mas nós resistimos. Uma vez nos colocamos debaixo dos pneus dos caminhões para não deixar passarem os materiais, desde então nós sabemos que o povo manda”, afirmou.
Para Sofia, a “Monsanto é morte”. “É uma corporação que vem roubar a saúde de seus filhos, que vem para levar o futuro do país”, disse. A corporação, segundo a ambientalista, mantém seus transgênicos à base de uma grande quantidade de agroquímicos, que são “pulverizados nos seus filhos, nas frutas, nas hortaliças”. “São eles que controlam o nosso sistema alimentar. O que nós estamos exigindo do governo é o direito de escolher o que comemos e queremos que os nossos camponeses tenham as suas sementes crioulas, que possam passar de mão em mão, sem ter que pagar um centavo a ninguém”.
A filha de Sofia morreu três dias após seu nascimento, quando seus rins deixaram de funcionar. “Assim como eu, outras mães também perderam seus filhos, com câncer, leucemia. A luta dessas mães garantiu importantes avanços na luta contra os transgênicos e agrotóxicos, como a aprovação de leis municipais”, que proibiram pulverizações nos arredores do bairro Ituzaingó.
Outra vitória foi a do primeiro juízo penal da América Latina contra produtores de soja, por afetarem a saúde da população. E a saída da Monsanto de Malvinas Argentina promete ser um novo triunfo local.
“É complexo, mas não é impossível. Mantivemos esse bloqueio por três anos. Então é possível impedir uma corporação. Se os de baixo se movimentam, os de cima caem”, conclui Sofia.
O Brasil de Fato procurou a Monsanto Argentina para comentar os rumores, mas não recebemos resposta até a publicação desta reportagem.
Monsanto no Brasil
Desde 2003 o Brasil vem aumentando a área plantada com soja transgênica. Hoje, dos 45 milhões de hectares cultiváveis no país, 42 milhões estão ocupados com soja, algodão e milho transgênico, sendo um dos maiores proprietários a Monsanto.
“O negocio da Monsanto são os transgênicos, eles querem vender transgênicos para vender glifosato”, afirma Najar Tubino, jornalista ambiental. “Eles dizem que estão melhorando as sementes, dizem que agora estão lançando sementes resistentes à seca. Eles mudam o padrão, com sementes cada vez mais caras, exigindo que o produtor compre mais sementes e mais veneno”, explicou o jornalista .
Como toda corporação, a Monsanto se utiliza da política, por meio da bancada ruralista. A empresa quer tirar dos rótulos as identificações dos produtos transgênicos e querem acabar com atribuições da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que já lançou diversos estudos advertindo sobre a contaminação de alimentos por agrotóxico, para criar uma agência de “defesa vegetal”, ligada ao Ministério da Agricultura.
Para o jornalista, junto ao problema das sementes, soma-se a questão da biologia sintética, a adulteração do DNA de qualquer coisa – que tem aparecido no Brasil como o mosquito para combater a dengue. “A biologia sintética é uma ameaça ao mundo inteiro, sustentada no negócio das grandes corporações, que adulteram a natureza sem saber as consequências dessas inovações”.
Tribunal Monsanto
Entre os dias 14 e 16 de outubro deste ano, um tribunal simbólico será formado em Haia, na Holanda, onde atingidos e atingidas pelas políticas da empresa no mundo inteiro farão suas denúncias, evidenciando aos olhos do mundo que o agronegócio mata. Entre os participantes estão membros da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida, que levarão o caso brasileiro à corte internacional.
Desde 2008, o Brasil, ocupa o 1º lugar como maior consumidor de agrotóxicos no mundo. Os impactos à saúde pública são amplos porque atingem vastos territórios e envolvem diferentes grupos populacionais, como trabalhadores rurais, moradores do entorno de fazendas e de áreas urbanas também, onde alguns desses alimentos são comercializados. Em 2011, mais de 100 entidades brasileiras promoveram a Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida, que tem o objetivo de sensibilizar a população sobre os riscos que os agrotóxicos representam e anunciar um novo modelo de produção de alimentos baseado na agroecologia.
Alan Tygel, membro da Campanha, lembra que por aqui a Monsanto atua com quatro fábricas. Uma em Camaçari e outra em São José dos Campos, ambas destinadas à produção de agrotóxicos e outras duas de produção de sementes; em Petrolina, no estado de Pernambuco e na cidade de Uberlândia, em Minas Gerais. “Desde os anos 2000 temos registrado que o mercado de agrotóxicos tem aumentado. Os dados de 2015 indicam que o faturamento é de quase 10 bilhões de dólares, tomando todas as empresas, entre elas a Monsanto”. “Depois dos EUA, o Brasil é o pais mais importante para a empresa. Só no Brasil teve um faturamento de quase 2 bilhões de dólares”, detalhou Alan.
“Ela tem um interesse, não só especifico dos agrotóxicos e as sementes, sendo que depende muito das legislações. Então elas atuam fortemente na construção das legislações nos diversos países, as chamadas Leis Monsanto que permitiram maior liberação na venda de patente”, criticou.
Alan indicou que, além dos prejuízos à saúde, esse modelo de desenvolvimento agrário gera uma profunda dependência do país em relação às multinacionais e fomenta a violência, que vem da mão dos latifúndios, registrado no aumento das mortes de camponeses em conflitos pela terra.
“Neste momento de golpe no país, o agronegócio se anima cada vez mais, como colocar em marcha projetos muito perigosos, como o Projeto de Lei dos Venenos, que imputa aos agrotóxicos o nome de ‘defensivos’ e facilita o registro desses venenos, criando uma agricultura ‘químico-dependente’ que sempre precisa de mais agrotóxicos, mais sementes transgênicas, mais veneno…”. exemplificou Alan, fazendo referência ao PL 3200, chamado de PL do Veneno.
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