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As sacolas plásticas têm futuro?

Com uma queda na produção de 15% nos últimos três anos, as embalagens tradicionais perdem espaço para os modelos ecológicos

Em cem anos, o plástico passou de herói a vilão – por ironia, devido às mesmas características que popularizaram seu uso. Ser flexível, impermeável, resistente e pouco reativo a produtos químicos virou um problema quando essas qualidades começaram a ser associadas ao apelo do descartável. No Brasil, 90% de 1 bilhão de sacolas que mensalmente embalam produtos em lojas e supermercados vão parar no lixo. A situação já foi pior: há quatro anos, o país consumia 3 bilhões de unidades mensais, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Embalagens Plásticas Flexíveis (Abief) – e com a mesma taxa de descarte.

O varejo distribui anualmente mais de 20 bilhões de sacolas plásticas de uso único, sendo o principal culpado, o setor supermercadista. Essas sacolas ficarão poluindo o planeta por 500 anos.

90% das sacolas que saem das lojas e supermercados vão parar no lixo

Devido à fama de produto do mal, as sacolas plásticas têm recebido ataques de várias frentes. O golpe mais recente – e talvez o maior até o momento – foi o anúncio da rede Carrefour de banir esse tipo de embalagem de suas lojas em quatro anos. A decisão inclui as demais bandeiras do grupo: Atacadão e Dia%. “Em 2014, quando o processo estiver implantado em todas as lojas, teremos retirado de circulação 800 milhões de unidades por ano”, afirma Paulo Pianez, diretor de sustentabilidade do Carrefour. Com a mesma preocupação, outras redes do varejo adotam ações semelhantes, embora não tão definitivas. O grupo Fnac, por exemplo, distribui apenas sacolas de plástico biodegradável há cinco anos. Em 2010, deixou de oferecer os modelos maiores de embalagens descartáveis. Como opção, as lojas dispõem de uma bolsa retornável, feita de material reciclado, e que custa R$ 3. “Tivemos uma adesão acima da expectativa nos primeiros meses. Mais de 40% dos clientes passaram a usar o produto”, diz Patrícia Nina, diretora de operações da Fnac Brasil.

Na verdade, o Carrefour joga no ambiente anualmente 1 bilhão e 800 milhões de sacolas, o que corresponde a 150 milhões de sacolas distribuídas mensalmente pela rede. Só que lemos algo preocupante no início do mês, antes Pianez tinha dito que baniriam as sacolas em 2014 e na última entrevista ele já aumentou em um ano, isto é, disse que baniriam em 2015. Pianez, estamos de olho nas suas declarações.

A FNAC usa sacolas oxibiodegradáveis, que tem o ciclo de vida útil controlado, isto é, o fabricante, a pedido do comprador, estipula o tempo de vida que deve ter esta sacola, que pode variar de um ano e meio a cinco anos e depois estas sacolas serão biodegradadas, ou seja, voltarão à natureza em forma de água, CO2 e biomassa.

20% é a projeção de redução no consumo de sacolas plásticas em 2010

Com o cerco se fechando, o consumo brasileiro de sacolas plásticas cai anualmente. Em 2007, foram produzidas 17,9 bilhões de unidades. No ano seguinte, 16,4 bilhões, 8,4% a menos. Em 2009, 15 bilhões, uma queda de 16%. Neste ano, a Associação Brasileira de Supermercados (Abras) estima uma diminuição de 20%. “As campanhas contra o plástico afetam muito a indústria. O segmento de sacolas descartáveis representa 14% dos negócios do setor”, afirma Alfredo Schmitt, presidente da Abief. Sem alternativa, os fabricantes começam a se reciclar. Materiais oxibiodegradáveis, hidrossolúveis e biodegradáveis, que se dissolvem na natureza de três a 36 meses, ganham terreno na mesma velocidade com que o plástico tradicional perde mercado. No ano passado, representaram negócios da ordem de R$ 100 milhões.

As linhas ecológicas já representam 18% das embalagens flexíveis produzidas no país, de acordo com a Res Brasil, representante da marca de aditivos dw2 para a fabricação de polímeros de baixo impacto ambiental. Os compostos comercializados pela Res Brasil, quando acrescentados à fórmula básica do plástico, aceleram a decomposição dos polímeros em até 400 vezes. Ou seja, as sacolas aditivadas são absorvidas pela natureza em até três meses – contra mais de 100 anos da embalagem comum. “Estamos crescendo a um ritmo de 10% ao mês”, afirma Eduardo Van Roost, diretor-superintendente da empresa, que espera faturar R$ 5 milhões em 2010.

18% esse é o percentual que as linhas ecológicas já representam no total de embalagens flexíveis produzidas no país

Além dos plásticos de degradação rápida, o papel e o papelão ganham relevo entre as opções de substituição ao polímero comum. “Sacolas de papel são o nosso carro-chefe hoje – representam 70% dos nossos itens”, afirma Mauricio Groke, diretor comercial da Antilhas, uma das maiores fabricantes brasileiras de embalagens. “Com exceção dos supermercados, há uma tendência das lojas de migrar para esse tipo de solução.” O grupo deve investir R$ 10 milhões neste ano e impulsionar pesquisas de novos materiais e produtos. A meta é crescer 16% em 2010.

No mercado desde 1953, a Nobelplast dedicou mais de meio século à fabricação exclusiva de embalagens plásticas. Até despertar para a demanda por sustentabilidade, em 2004. A preocupação ambiental levou a empresa a criar a versão verde do próprio negócio: surgiu então a Nobelpack, com investimentos de R$ 3,5 milhões. “Hoje, 90% das nossas sacolas são produzidas com papel reciclado. Trabalhamos também com matéria-prima certificada, além de plásticos oxibiodegradáveis e biodegradáveis”, afirma Beni Adler, diretor-executivo da empresa.

85% a mais custa uma embalagem de papel comparada com a de plástico

O maior impedimento para a troca das sacolas tradicionais por opções menos agressivas ao ambiente é o preço. Cada unidade do plástico comum custa em média 2 centavos de real. “Uma embalagem oxibiodegradável tem valor 20% maior, em média. E uma de papel, é 85% mais cara”, compara Groke. O futuro das sacolas está mesmo é nas mãos dos consumidores. Irão comandar a mudança se estiverem realmente dispostos a pagar mais por opções de menor impacto ambiental ou forçar a cadeia produtiva a arcar com essa diferença de custo.

O valor de uma sacola oxibodegradável não custa nem 5% a mais do que uma sacola plástica convencional. Esses números estão equivocados para desincentivar o uso da tecnologia.

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Biodegradável

São feitos a partir de substâncias orgânicas, como milho, cana e batata. Se descartado, o plástico desaparece na natureza em questão de meses. A degradação ocorre pela ação de micro-organismos. No entanto, na ausência de oxigênio (caso seja enterrado, por exemplo), a decomposição gera gás metano, que contribui para o efeito estufa

Oxibiodegradável

Um aditivo acelera em até 400 vezes a dissolução do plástico tradicional – com a ação de luz, calor e umidade, reduz o tempo de 100 anos para 3 meses. Em uma segunda fase, micro-organismos terminam o processo e deixam como resíduos apenas dióxido de carbono e água

Compostável

É um tipo de plástico biodegradável, ou seja, com base vegetal, que se comporta como matéria orgânica comum. É produzido para ser usado no processo de compostagem, para a obtenção de húmus e adubo

Papel certificado

O selo do Forest Stewardship Council (FSC) assegura que o material da sacola vem de manejo sustentável das florestas. Isso significa preservação, extração responsável de matéria-prima e ajuda no desenvolvimento das comunidades

Papel reciclado

Existem dois tipos básicos: o pré-consumo, no qual a matéria-prima vem de resíduos de fábricas antes de chegar ao mercado (como as aparas) e o pós-consumo, que usa material descartado (como embalagens longa-vida). O segundo tipo ajuda a retirar lixo da natureza, por meio de coleta seletiva e da ação de cooperativas de catadores

Fonte – Sérgio Tauhata, PEGN

Foto – Jim Frazier

Não existe outra solução a não ser banir a sacola plástica de uso único. É a atitude mais lógica e sustentável a se tomar. Que venham as sacolas retornáveis de qualquer material, tecido, crochê, carrinhos de feira, mochilas, inclusive as sacolas retornáveis fabricadas com plástico, mas desde que com plástico com ciclo de vida útil controlado. Está na hora de assumirmos nossa responsabilidade para com as futuras gerações e nos livrarmos dessas aberrações, que nasceram para estimular o consumismo e a irresponsabilidade ambiental. Sacolas retornáveis, já!

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