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Atitude de vendedores é barreira a carro elétrico

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Pesquisadores disfarçados de consumidores descobrem que funcionários de concessionárias mentem e omitem para empurrar veículos convencionais aos clientes na Escandinávia; imagine no resto do mundo

Pesquisadores europeus acabam de identificar mais um obstáculo no caminho da ampla adoção dos carros elétricos. Além do preço mais alto, dos subsídios aos combustíveis fósseis e da falta de incentivo da maioria dos governos, esses veículos ainda precisam enfrentar uma concorrência desleal: a má vontade dos vendedores nas concessionárias.

Um estudo feito em 15 cidades dos cinco países nórdicos, que envolveu visitas a 82 lojas, mostrou que na maioria delas os vendedores faziam pouco caso dos carros elétricos, davam informações erradas sobre seu desempenho ou simplesmente omitiam sua presença no estoque. Frequentemente tentavam induzir os potenciais compradores a adquirir carros com motor a explosão.

Os “compradores”, no caso, eram os próprios pesquisadores, liderados pelo mexicano Gerardo Zarazua de Rubens, da Universidade de Aarhus, na Dinamarca. Eles fizeram 126 incursões a concessionárias, supostamente interessados em comprar veículos elétricos, e sistematizaram as reações dos vendedores.

Ouviram coisas como “não compre isso, vai te levar à falência” e “se o carro a diesel já é livre de impostos por cinco anos, é porque ele deve ser ambientalmente amigável”. Em uma loja, o vendedor disse que o modelo requisitado não existia em versão elétrica – quando esta constava no catálogo da própria concessionária. Em outra, foram informados de que a autonomia do Golf elétrico é de 150 quilômetros, quando na verdade ela pode chegar ao dobro disso.

Segundo Zarazua e seus colegas, a atitude dos vendedores em relação aos carros elétricos era o principal fator influenciador da probabilidade de um consumidor adquirir um. E na Escandinávia, que tem os países mais sustentáveis do mundo industrializado, esse fator definitivamente joga contra: menos de 16% das visitas resultaram em probabilidade “muito alta” ou “alta” de compra de um elétrico.

“As concessionárias de veículos e seus vendedores funcionam como um imenso obstáculo à aquisição de VE [veículos elétricos] na região nórdica, o que reflete o favoritismo da indústria e dos governos em relação aos carros convencionais”, escreveram os autores, em artigo no periódico Nature Energy.

Boa parte do problema se devia simplesmente à falta de conhecimento dos vendedores escandinavos, pouco habituados ou não capacitados a lidar com a nova tecnologia (imagina na Jamaica). Mas as políticas de cada país em relação aos elétricos também influenciava, e muito, o desempenho dos vendedores.

O lugar com as atitudes mais amigáveis foi a Noruega, onde o governo adotou uma série de políticas para estimular os carros elétricos (os noruegueses querem banir o motor a explosão a partir de 2025). Os vendedores torciam mais o nariz para a tecnologia na Dinamarca, que recentemente acabou com os incentivos para a compra desses carros.

O preconceito dos vendedores se soma ao dos consumidores para criar dificuldades para os elétricos. Em 2016, por exemplo, a americana Jessika Trancik, do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), demonstrou que quase 90% dos deslocamentos de carro nos EUA poderiam ser feitos com uma única carga de bateria de um carro elétrico “popular”, o Nissan Leaf.

A pesquisa desmontou chamado mito da “ansiedade de autonomia”, uma noção de que veículos movidos a eletricidade não possuem autonomia suficiente para realizar os deslocamentos cotidianos necessários – e que obrigaria os usuários a parar para recargas demoradas de bateria numa rede de “postos de eletricidade” que não existe hoje nem mesmo nos EUA.

Sem um bom treinamento dos vendedores nas concessionárias, será muito difícil o mundo atingir a meta de 100 milhões de carros elétricos nas ruas em 2030.

“Enquanto o Tesla Roadster de Elon Musk literalmente orbita o espaço à nossa volta, no chão a adoção dos VEs ainda é limitada por uma série de barreiras”, escreveu Jennifer Lynes, da Universidade Waterloo (Canadá), em comentário ao estudo de Zarazua e colegas.

Fonte – Observatório do Clima de 21 de maio de 2018

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