Por Jean Silva* - Jornal da USP - 1 de novembro de 2024 - Tucuruvi,…
Atlas Agropecuário revela a malha fundiária do Brasil
Mapa da malha fundiária do Brasil
Uma colaboração entre o Imaflora, o GeoLab da Esalq / USP (Projeto Fapesp 2016/17680-2) e a KTH (Suécia) resultou na criação de uma base de dados georreferenciada da malha fundiária de todo o Brasil. Englobando aproximadamente 6,7 milhões de polígonos, a malha recobre todo o território nacional e, pela primeira vez, oferece aberta e publicamente para a sociedade uma visão do conjunto das terras públicas e dos imóveis privados do país.
A malha fundiária utiliza 20 categorias de bases de dados oficiais incluindo, por exemplo, as áreas protegidas nacionais e estaduais, as bases de imóveis e de assentamentos do INCRA e os polígonos de imóveis do CAR (Cadastro Ambiental Rural), que juntas recobrem 80% do país. Para as áreas sem recobrimento foi realizada uma modelagem complementar que (i) considera essa porção do território como sendo terra privada, (ii) estima os limites dos imóveis rurais a partir dos dados do Censo Agropecuário do IBGE de 2006, (iii) reproduzindo a distribuição de tamanho dos imóveis rurais censitados em cada município ou setor censitário. A cobertura desta área (20% do território) com uma malha fundiária probabilística é essencial para cobrir territórios desconhecidos e desconsiderados nos levantamentos censitários existentes.
Assim, a malha fundiária disponibilizada apresenta o recobrimento de todo o território nacional, sendo a melhor aproximação a respeito do tamanho, da localização e da distribuição das terras públicas e dos imóveis privados brasileiros e pode ser visualizada e baixada livremente no site do projeto Atlas da Agropecuária Brasileira.
A compilação revela algumas surpresas, como a abrangência das pequenas propriedades (menores que 4 módulos ficais), onde está presente a agricultura familiar. Quando comparada ao Censo Agropecuário de 2006, que ainda é a principal referência nos estudos atuais sobre a agropecuária nacional, encontramos 1 milhão de imóveis a mais nesta categoria. Os números obtidos se aproximam dos registros de ITR disponíveis na base do CAFIR, indicando que, ou por sub amostragem ou pela criação de novos imóveis a partir de 2006, a agricultura familiar é mais importante em número de imóveis do que estima o Censo.
Também revela que as grandes propriedades ocupam área similar à soma de todas as médias e pequenas propriedades (descontando-se as dos assentamentos) e também representam um valor próximo da soma das áreas protegidas do país, entre terras indígenas e áreas de conservação. Também ficam evidentes as assimetrias de distribuição de terras entre os Estados. Enquanto o Rio Grande do Sul tem 2% do território com áreas públicas protegidas, 1% dedicada a assentamentos e 89% ocupada por propriedades privadas; o Amazonas possui 52% da área protegida, 4% em assentamentos, 35% da terra pública ainda não destinada e 6% com terra privada.
Além disso, a malha aponta a existência de 86 milhões de hectares de terras públicas não destinadas, entre terras não tituladas do Programa Terra Legal e Glebas Públicas Federais e Estaduais. A área corresponde à soma dos Estados de São Paulo e Minas Gerais. Desse total, 98% estão localizados no Bioma Amazônia, principalmente nos estados do Amazonas (62%) e do Pará (15%), justamente em regiões desses estados caracterizadas pelo desmatamento e onde a fronteira agropecuária tem avançado nos últimos anos.
Da forma como foi desenvolvida, à medida que forem surgindo novas bases ou as bases existentes forem atualizadas, é possível gerar atualizações imediatas. Com isto, fica à disposição uma malha fundiária abrangente pela cobertura de todo o território nacional, inclusiva por considerar tanto o domínio público como o privado e que trata automaticamente diversos problemas que inevitavelmente surgem da compilação de grande número de fontes de dados. Outro aspecto importante é o fato desta malha ser disponível e os seus critérios de sobreposição serem abertos, poderem ser discutidos publicamente e isto gerar novas versões aprimoradas da própria malha.
Este é mais um produto do Atlas da Agropecuária Brasileira, um projeto que vem sendo desenvolvido por dois anos pelo Imaflora e pelo GeoLab da Esalq / USP. De acordo com Luís Fernando Guedes Pinto (do Imaflora), “além dos estudos produzidos, em uma página da internet o Atlas organizará e disponibilizará informações secundárias e originais sobre a geografia da agropecuária nacional. Nos próximos meses disponibilizará novas informações como o uso da terra, a aptidão agrícola, a distribuição, produção e produtividade das culturas em séries históricas, além de outras informações ambientais e sociais relevantes para o desenvolvimento rural e a conservação dos recursos naturais, como o desmatamento e o cumprimento do Código Florestal”.
O professor Gerd Sparovek do GeoLab acrescenta que “o Atlas fornecerá informações e análises para uma melhor compreensão da agropecuária brasileira e poderá apoiar decisões e a formulação de políticas públicas e privadas para o setor”.
Resumo da distribuição da terra estimada no Brasil
Categoria fundiária | Área (milhões ha) | Área (%) |
Áreas protegidas | 232 | 27% |
Terras Públicas Não Destinadas | 86 | 10% |
Terras Privadas | 453 | 53% |
Pequenas propriedades (<4MF)* | 114 | 13% |
Médias propriedades (entre 4 e 15 MF) | 104 | 12% |
Grandes propriedades (>15MF) | 234 | 28% |
Assentamentos | 40 | 5% |
Outros | 38 | 5% |
Brasil | 850 | 100% |
*Fora de assentamentos
Resumo da distribuição da terra estimada no Brasil por estado
UF | Área protegida | Não destinada | Terra privada | Assentamento | Outros | Área do Estado (Mha) |
AC | 46% | 19% | 25% | 10% | 1% | 17 |
AL | 6% | 0% | 84% | 3% | 6% | 3 |
AM | 52% | 35% | 6% | 4% | 4% | 154 |
AP | 68% | 13% | 7% | 9% | 3% | 13 |
BA | 7% | 0% | 87% | 3% | 4% | 56 |
CE | 5% | 0% | 83% | 6% | 6% | 15 |
DF | 61% | 8% | 13% | 4% | 14% | 1 |
ES | 4% | 0% | 91% | 1% | 5% | 4 |
GO | 4% | 0% | 90% | 2% | 4% | 33 |
MA | 20% | 6% | 59% | 10% | 5% | 33 |
MG | 4% | 0% | 89% | 1% | 6% | 59 |
MS | 4% | 0% | 92% | 1% | 3% | 36 |
MT | 19% | 5% | 70% | 5% | 2% | 89 |
PA | 51% | 10% | 23% | 9% | 6% | 127 |
PB | 1% | 0% | 89% | 4% | 6% | 6 |
PE | 4% | 0% | 85% | 4% | 7% | 10 |
PI | 10% | 1% | 82% | 5% | 3% | 25 |
PR | 5% | 0% | 85% | 2% | 8% | 20 |
RJ | 14% | 0% | 73% | 1% | 12% | 4 |
RN | 1% | 0% | 82% | 9% | 7% | 5 |
RO | 45% | 11% | 34% | 8% | 2% | 25 |
RR | 62% | 17% | 14% | 5% | 2% | 22 |
RS | 2% | 0% | 89% | 1% | 7% | 27 |
SC | 4% | 0% | 86% | 1% | 9% | 10 |
SE | 1% | 0% | 83% | 7% | 8% | 2 |
SP | 8% | 0% | 81% | 1% | 10% | 25 |
TO | 15% | 5% | 73% | 4% | 4% | 29 |
BR | 27% | 10% | 53% | 5% | 5% | 850 |
Acesse aqui o Atlas da Agropecuária Brasileira
Confira as notícias sobre o Atlas na Folha de S. Paulo e CBN.
Fonte – Imaflora de 20 de março de 2017
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