Como resultado do derretimento das camadas de gelo e geleiras, a taxa de aumento global do nível do mar cresceu desde que as medições de altímetro por satélite começaram em 1993, atingindo um novo recorde em 2021
Temperaturas cada vez mais extremas, juntamente com chuvas incomuns e desprendimentos de plataformas de gelo na Antártica, preocupam especialistas da Organização Meteorológica Mundial (OMM).
Para os cientistas, os eventos recentes podem considerados “sinais de alerta” de uma “tendência preocupante”.
As camadas de gelo de Antártica vêm perdendo massa desde pelo menos 1990, com a maior taxa de perda durante 2010 –2019, em uma tendência que deve continuar.
As mudanças do clima no continente, geralmente considerado estável, podem ter efeito em todo mundo.
Se o gelo da Antártica derreter completamente, por exemplo, o nível do mar poderia subir 60 metros. “Não devemos dar a Antártica como garantida”, alertam os cientistas.
Organização Mundial de Meteorologia
A Antártica, o continente mais frio, ventoso e seco do mundo, tem sido muitas vezes referida como um “gigante adormecido” estável.
No entanto, temperaturas cada vez mais extremas, juntamente com chuvas incomuns e mudanças nas plataformas de gelo, lembram-nos que isso não deve ser dado como certo.
O alerta foi feito pela Organização Meteorológica Mundial (OMM) na sexta-feira (01).
Durante a terceira semana de março, as estações de pesquisa na Antártica Oriental registraram temperaturas sem precedentes de até 40 graus Celsius acima da média do mês.
A estação russa Vostok, no meio do planalto de gelo da Antártica, atingiu uma alta provisória de -17,7 ℃, quebrando o recorde anterior de -32,6℃.
O Dome Concordia, uma estação de pesquisa ítalo- francesa no topo do planalto antártico, 3.233 metros acima do nível do mar, também experimentou sua temperatura mais alta de todos os meses.
Apenas um dia antes, estações meteorológicas registraram chuva na área costeira mais a montante, e temperaturas bem acima de 0°C.
“A chuva é rara na Antártica, mas quando ocorre, tem consequências nos ecossistemas – principalmente nas colônias de pinguins – e no balanço de massa do manto de gelo”, explicaram os cientistas franceses Etienne Vignon e Christoph Genthon.
“Felizmente, não há mais filhotes de pinguim nesta época do ano, mas o fato de isso acontecer agora em março é um lembrete do que está em jogo nas regiões periféricas: vida selvagem e estabilidade do manto de gelo”.
Os especialistas acrescentaram que, embora a temperatura quente no Dome Concordia (Dome C) seja uma fonte de entusiasmo para os climatologistas, “as chuvas na costa em março são uma fonte de preocupação para todos”.
De acordo com a OMM, o calor e a umidade foram impulsionados principalmente pelo que é conhecido como rio atmosférico – uma faixa estreita de umidade coletada de oceanos quentes.
No entanto, para os cientistas, ainda é muito cedo para dizer definitivamente se a mudança climática é a causa.
Recordes quebrados
“Este evento está reescrevendo livros de recordes e nossas expectativas sobre o que é possível na Antártica.
Isso é simplesmente um evento estranhamente improvável, ou é um sinal de mais por vir?
No momento, ninguém sabe”, twittou o cientista-chefe da Berkeley Earth, Robert Rohde.
Os eventos aconteceram logo após o gelo do Mar Antártico atingir sua extensão mínima após o derretimento do verão e cair abaixo de dois milhões de quilômetros quadrados (772.000 milhas quadradas) pela primeira vez, desde que os registros de satélite começaram em 1979.
A Península Antártica (a ponta noroeste próxima à América do Sul) está entre as regiões de aquecimento mais rápido do planeta, quase 3°C nos últimos 50 anos.
A remota Antártica Oriental, por outro lado, foi até agora menos impactada.
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