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Austrália poderá em breve exportar a luz do sol para a Ásia
Por Martin LaMonica – The Conversation
Austrália poderá em breve exportar a luz solar para a Ásia através de um cabo submarino de 3.800 km
A Austrália é o terceiro maior exportador de combustíveis fósseis do mundo – e este fato gera intenso debate à medida que as mudanças climáticas se intensificam. Enquanto a economia depende fortemente das receitas de exportação de carvão e gás, e esses combustíveis geram gases de efeito estufa quando queimados pelo mundo.
Atualmente, a Austrália não exporta energia renovável. Mas um novo projeto solar ambicioso está para mudar esta realidade.
O projeto proposto da Sun Cable prevê uma fazenda solar com capacidade de dez gigawatts (com cerca de 22 gigawatt-hora de armazenamento em baterias) distribuída em 15.000 hectares na região de Tennant Creek, no território norte Australiano. A energia gerada fornecerá a empresa e será exportada para Cingapura através de um cabo submarino de 3.800 km.
A Sun Cable, e outros projetos similares em andamento, explorariam os vastos recursos em energia renováveis no país. Eles prometem fornecer uma alternativa aos negócios de exportação de carvão, minério de ferro e gás.
Como especialistas no desenvolvimento de energia renováveis no leste asiático, damos boas-vindas à Sun Cable. Será a pioneira de uma nova indústria de exportação de energia renovável, onde criará novas indústrias de manufatura e novos empregos na construção. É importante ressaltar que isso poderá colocar a economia da Austrália em uma trajetória do pós-combustível fóssil.
Benefícios de custo a longo prazo
A Sun Cable foi anunciada no ano passado por um grupo de empresários australianos. Os proponentes do projeto dizem que forneceria um quinto da energia consumida em Cingapura até 2030 e substituiria uma grande parcela da eletricidade gerada por combustível fóssil usada atualmente em Darwin.
Para exportar energia renovável para o exterior, um cabo de corrente contínua (CC) de alta tensão (HV) ligaria o Território do Norte da Austrália a Cingapura. Em todo o mundo, alguns cabos HVDC já transportam energia por longas distâncias. Um cabo de corrente contínua de ultra-alta tensão conecta o centro da China a cidades costeiras do leste, como Xangai. Os interconectores de rede HVDC mais curtos também operam na Europa.
O fato da transmissão a cabo HVDC de longa distância já ter se mostrado viável é um ponto a favor da Sun Cable.
O custo de geração de energia solar também está caindo drasticamente. E o baixo custo marginal (custo de produção de uma unidade) da geração e transporte de energia renovável oferecem mais vantagens.
O maior obstáculo financeiro da proposta de mais de US$ 20 bilhões cobria os custos iniciais do capital. Em novembro do ano passado, os investidores bilionários australianos Mike Cannon-Brookes e Andrew “Twiggy” Forrest forneceram financiamento inicial no valor de até US$ 50 milhões. Cannon-Brookes disse que, embora a Sun Cable parecesse um “projeto completamente insano“, parecia viável do ponto de vista da engenharia.
A previsão é que a Sun Cable seja concluída por volta 2027.
Mostrando viabilidade nos negócios
A proposta também traria negócios para empresas locais de alta tecnologia. A Sun Cable contratou a empresa 5B de Sydney para usar sua tecnologia de pré-fabricação de “painel solar” para acelerar a construção de sua fazenda solar. A empresa pré-montará os painéis solares e os entregará no local em contêineres, prontos para uma montagem rápida.
O governo do Território do Norte da Austrália também apoiou, concedendo o status de “projeto principal” da Sun Cable. Isso ajuda a eliminar possíveis barreiras no investimento e de aprovação.
Em toda a Austrália, planos similares de exportação de energia renovável estão surgindo. O Projeto de Hidrogênio Renovável de Murchison, na Austrália Ocidental, utilizará a energia produzida por parques eólicos e solares para criar hidrogênio renovável, transportado para o leste da Ásia como hidrogênio líquido.
Da mesma forma, o planejado centro de energia renovável da Ásia poderia gerar hidrogênio renovável na região de Pilbara, na Austrália Ocidental, a 15 gigawatts. Isso também seria exportado e fornecido para as indústrias locais.
Esses projetos estão alinhados à ambiciosa estratégia de hidrogênio renovável do governo da Austrália Ocidental. O governo está se esforçando para tornar o hidrogênio limpo uma opção de exportação num futuro próximo.
Soluções confiáveis
A geração e transmissão de energia a partir de recursos renováveis evita os riscos de segurança energética que afetam os projetos de combustíveis fósseis. Projetos renováveis usam dispositivos fabricados, como células solares, turbinas eólicas e baterias. Tudo isso gera segurança energética (acesso de uma nação a um suprimento de energia suficiente, acessível e consistente).
A Austrália controla suas próprias atividades de fabricação e, embora o sol possa não brilhar todos os dias, sua incidência é previsível ao longo do ano. Por outro lado, o suprimento de petróleo, carvão e gás é limitado e fortemente sujeito a tensões geopolíticas. Apenas alguns meses atrás, no Oriente Médio , ataques a duas grandes instalações de petróleo da Arábia Saudita afetaram 5% do suprimento global de petróleo.
Além de exportar eletricidade produzida em sua própria fazenda solar, a Sun Cable poderia lucrar com a possibilidade de outros projetos exportarem eletricidade para a Ásia através do uso compartilhado de sua infraestrutura de transmissão.
Isso encorajaria futuras exportações de energia renovável, especialmente para os países da ASEAN que estão necessitados por energia (Associação das Nações do Sudeste Asiático) – Indonésia, Malásia, Filipinas, Cingapura e Tailândia.
Isso fortaleceria as relações econômicas da Austrália com seus vizinhos da ASEAN – um importante objetivo geoeconômico. Em particular, poderia ajudar a reduzir a crescente dependência das exportações da Austrália em relação à China.
No entanto, como em qualquer projeto de grande escala, a Sun Cable enfrenta muitos desafios.
Além de aumentar o capital restante da empresa, deve atender aos padrões de interconexão e aos requisitos de segurança para implementar a infraestrutura necessária. E eles precisarão ser gerenciados à medida que o projeto evolui.
Como o cabo de alimentação irá correr ao longo do fundo do mar sob as águas da Indonésia, sua instalação exigirá negociações estratégicas internacionais. Também tem existem especulações de interesses de mineração na área da conexão e pode apresentar algum risco à segurança nacional, já que pode enviar e receber “dados de desempenho e de clientes”. Mas essa preocupação ainda não é validada atualmente, já que nos faltam detalhes relevantes.
Felizmente, nenhum desses desafios é insuperável. E dentro de uma década, a Sun Cable poderia tornar realidade a exportação de energia renovável australiana.
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