Uma em cada três ruas da região central de Barcelona vai ser transformada em eixos verdes que vão priorizar pedestres e ciclistas ao invés de carros. Nestas vias, 21 cruzamentos serão transformados em espaços públicos de forma que todos que estiverem na região tenham acesso a um parque a menos de 200 metros.
“Queremos que Barcelona seja uma cidade sustentável, boa de se viver!”, explica Janet Sanz, responsável municipal pela área de ecologia, urbanismo e mobilidade.
“E sabemos que hoje, nos nossos espaços públicos, temos muitas atividades sociais e comunitárias. Mas sabemos também que o espaço público é dominado pelo transporte individual em carros – sejam veículos em movimento ou estacionamentos para esses veículos.”
O novo planejamento urbano vai ser implementado ao longo dos próximos 10 anos e terá um custo estimado de US$ 44 milhões. Este projeto é uma variante do conceito de “super quarteirões”, um desenho que limita o trânsito de automóveis em uma área de 9 quarteirões, permitindo que os veículos circulem apenas ao redor destes espaços.
Super quarteirões
“A ideia por trás dos super quarteirões é tirar espaço dos carros e devolver para as pessoas, já que 60% do espaço público é atualmente ocupado por automóveis”, relata Mark Nieuwenhuijsen, professores e pesquisador do Instituto de Saúde da Universidade de Barcelona, responsável pelo estudo dos impactos que os super quarteirões terão na saúde da população.
Barcelona’s Eixample district, which has been proposed as a future Superblock site. [Photo: JackF/iStock]
A proposta original do urbanista Salvador Rueda tinha como meta reduzir os níveis de poluição sonora e do ar, incentivando que mais pessoas praticassem atividades físicas nos espaços públicos, aumentando as áreas verdes e combatendo também a formação de ilhas de calor na cidade.
Em 2016, Barcelona criou um super quarteirão no bairro de Poblenou. Rueda havia idealizado 500 espaços similares em sua proposta, o que iria melhorar a saúde da população e poderia reduzir até 700 mortes prematuras por ano, segundo o estudo de Nieuwenhuijsen.
Releitura atual
Este novo planejamento urbano é uma versão simplificada dos super quarteirões uma vez que não impede o trânsito de veículos em toda a área envolvida, o que torna sua aceitação mais fácil.
“Existe uma resistência à limitação do usos de veículos em Barcelona”, explica o professor. Alguns comerciantes acreditam que diminuir a circulação de carros poderia ter um impacto negative nas vendas, quando o que se demonstrou é justamente o contrário – pedestres tendem e olhar vitrines e entrar em mais lojas do que motoristas.
Apesar destas mudanças serem consideradas “menores” que os planos originais, elas já ajudam a melhorar a região. O bairro de Eixample, escolhido para ser palco desta nova proposta urbana, foi redesenhado para receber grandes áreas verdes, mas ao longo dos anos foi ocupado por condomínios e outras construções.
Ao se limitar o tráfico e estacionamento de veículos em 21 vias, implantando ciclovias, bicicletários, parques infantis e áreas verdes, a saúde da população vai ser beneficiada pelo acesso à parques e espaços para atividades físicas e por um local mias silencioso, com o ar mais limpo e um clima mais ameno.
Menos carros, mais saúde
De acordo com Nieuwenhuijsen, esta iniciativa deve ser amplamente replicada. A troca por carros elétricos não oferece uma solução complete aos problemas urbanos relacionados ao uso de automóveis. A poluição causada pelos carros não vem exclusivamente dos gases liberados pelo motor, mas também está relacionada ao desgaste dos pneus que liberam micro plásticos e uma “poeira” altamente poluente.
O uso de carros também incentive o sedentarismo e aumenta a demanda por vias de circulação e estacionamentos que ocupam lugares de áreas verdes. Além disso, os veículos estão entre as principais causas de morte no mundo. Em uma cidade relativamente pequena, como Barcelona, faz todo o sentido priorizar outras formas de transporte, além de pensar em maneiras de reduzir a necessidade de deslocamentos – uma questão que deve ser incluída nas próximas propostas de planejamento urbano.
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