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Boris Johnson apresenta sua ‘Revolução Industrial Verde’ ao Reino Unido

Por Benjamin Mueller e Stanley Reed c. 2020 – The New York Times – 28 novembro de 2020 – Imagem  Anthony Devlin/Reuters.

Cinco anos depois de decidir eliminar o uso do carvão, o Reino Unido quer encerrar a venda de carros movidos a gasolina e a diesel em dez anos

O plano é visto como a peça central do esforço do primeiro-ministro Boris Johnson para pressionar outros países a reduzir suas emissões no período que antecede as principais negociações sobre o clima, que serão efetuadas no ano que vem no Reino Unido.

Esse foi um sinal inicial para o presidente eleito Joe Biden de que o Reino Unido e os Estados Unidos poderiam encontrar uma causa comum, apesar do iminente tumulto do Brexit, ao qual Biden se opôs.

Usina termelétrica de Jänschwalde, na Alemanha.

Usina termelétrica de Jänschwalde, na Alemanha. Foto: n-tv

Este se baseia em tecnologias – como o uso de hidrogênio para aquecer residências – que alguns analistas alertam que foram exageradas. O nível geral de investimento está muito aquém das dezenas de bilhões de dólares prometidas recentemente pela Alemanha e pela França para gastos relacionados à proteção do clima. Alguns analistas também mencionaram que o plano não fez o suficiente para encorajar as empresas a investir em empregos de energia limpa no Reino Unido.

“Sucessivos governos britânicos fizeram um excelente trabalho para garantir que nosso país abandone rapidamente o carvão e o gás e passe a usar fontes limpas de energia elétrica. No entanto, esse anúncio do primeiro-ministro é realmente a primeira vez que testemunhamos um nível semelhante de ambição para conter a poluição de carros e o aquecimento doméstico. Resta saber se o governo está disposto a gastar o suficiente para cumprir essa ambiciosa meta de zero emissão líquida de carbono até 2050”, disse Joss Garman, diretor da Fundação Europeia do Clima no Reino Unido.

Em um país onde a compra de veículos elétricos representa menos de sete por cento das compras totais de carros novos, a decisão de Johnson de proibir a venda de veículos novos movidos a gasolina e a diesel até 2030 foi um forte sinal aos consumidores e fabricantes. (Em uma pequena concessão à Toyota, que fabrica carros híbridos na região central da Inglaterra, o Reino Unido poderá vender alguns modelos híbridos até 2035.)

Para dar suporte à transição para veículos elétricos, Johnson frisou que o governo gastaria 1,3 bilhão de libras (R$ 9,26 bilhões) na instalação de pontos de recarga, e centenas de milhões de libras em subsídios aos consumidores para tornar os carros mais acessíveis.

Ainda assim, os analistas afirmaram que o governo não estava fazendo o suficiente para incentivar a produção de bateria para os veículos elétricos, apresentando grandes desafios à indústria de veículos motorizados, que empregou 166 mil pessoas no Reino Unido em 2018. A saída do Reino Unido da União Europeia já fez com que os investimentos na indústria automobilística despencassem.

Carro elétrico na Alemanha

Carro elétrico: o “fator cool” dos veículos elétricos poderá gerar vendas de até 450 milhões até 2035 (Sean Gallup/Getty Images)

“Sem uma ajuda extra do governo e sem a entrada de outras empresas, a indústria automobilística do Reino Unido terá dificuldades de sobreviver à transição para veículos elétricos”, analisou Peter Wells, diretor do Centro de Pesquisa da Indústria Automotiva da Escola de Negócios Cardiff.

Até 2030, as melhorias nos carros elétricos e na infraestrutura correspondente podem tornar muito mais simples persuadir as pessoas a comprá-los. Mas analistas explicaram que ainda era relevante que o governo estivesse indo além de simplesmente definir novos produtos ou o padrão da indústria, realmente interferindo na escolha dos consumidores.

A proibição de 2030 inclui vans de entrega movidas a gás e a diesel, provavelmente uma das peças centrais da economia pós-pandemia. “Esse foi um sinal muito claro da determinação do governo. Ele não teria incluído esse tema apenas para decoração”, observou John Gummer, lorde Deben, presidente do Comitê de Mudanças Climáticas, órgão que monitora a redução das emissões.

Desde que o Reino Unido venceu a candidatura para sediar as negociações internacionais sobre as mudanças climáticas em Glasgow, no próximo ano – evento que alguns analistas veem como o mais significativo que o país já sediou desde os Jogos Olímpicos de 2012 –, o governo tem enfrentado pressão para exigir muito dos novos líderes mundiais.

A pressão só aumentou com a eleição de Biden, que está ansioso para melhorar o cenário das mudanças climáticas em seu governo, mas muito menos apaixonado pela saída do Reino Unido da União Europeia.

Alguns membros do Partido Conservador de Johnson, particularmente aqueles alinhados com o recém-falecido líder Dominic Cummings, argumentaram que o foco em energia limpa faria com que as pessoas de áreas industriais em dificuldades, que passaram a apoiar o primeiro-ministro na eleição do ano passado, se afastassem do partido.

Mas Johnson, que tem um histórico de lançar dúvidas sobre a ciência climática, está agora tentando apresentar o plano como uma salvação dos empregos e dos negócios nessas regiões, como as Midlands.

Por permitir a construção de torres maiores, parques offshore são mais eficientes.

Os parques eólicos no litoral, que Johnson colocou no topo de sua lista verde, estão ajudando a criar empregos em áreas que antes eram fortemente industrializadas, assim como o plano, envolvendo as gigantes do petróleo BP e Equinor, de capturar o dióxido de carbono emitido pelas indústrias locais nessas regiões e bombeá-lo para um reservatório abaixo do Mar do Norte.

“Imagine o Reino Unido quando uma Revolução Industrial Verde ajudar a melhorar o país. Você vai preparar o café da manhã usando a energia do hidrogênio antes de entrar em um carro elétrico, que foi carregado durante a noite com baterias feitas nas Midlands”, escreveu Johnson no “Financial Times” na terça-feira à noite, sugerindo que os planos poderiam criar 250 mil empregos verdes.

Em grande parte, o tipo de guerra cultural contra a ciência climática que ajudou a impedir as ações nos Estados Unidos não conseguiu criar raízes no Reino Unido.

Uma recente pesquisa conjunta da Climate Outreach, grupo sem fins lucrativos, e da YouGov, respeitada empresa de pesquisas, mostrou que apenas três por cento dos entrevistados no Reino Unido não acreditavam que as mudanças climáticas eram reais. Quase 60 por cento das pessoas disseram que gostariam que o partido político em que votaram fizesse mais para desacelerar as mudanças climáticas. “A formulação de políticas públicas deve atender ao desejo público de ação”, argumentou Garman.

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