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Britânicos usam criatividade para acabar com desperdício de alimentos

Alimentos doados por um supermercado para serem distribuído em Londres por voluntários da FoodCycle

O Reino Unido, um dos países que mais descartam alimentos no mundo, começa a agir contra o desperdício, graças a iniciativas para ajudar pessoas de baixa renda.

“Saio por causa disso, para ter uma conversa rápida… Não é só pela comida”, afirmou Bassia Hamech, de 76 anos, quando lhe serviram um prato de sopa quente em um refeitório no leste de Londres, administrado por uma organização beneficente chamada FoodCycle.

O local serve almoços semanais vegetarianos para até 50 pessoas no bairro de Hackney, muitas delas com problemas de saúde ou em risco de isolamento social.

Uma das voluntárias, a artista Anne Engel, disse que as doações mais generosas provêm dos vendedores de frutas turcos da região, enquanto os grandes supermercados são menos confiáveis e, às vezes, doam apenas um saco de pão.

“Oferecemos a eles todo tipo de comida fresca e maravilhosa”, disse Engel, que conseguiu mangas, hortelã e ovos para incrementar uma cozinha repleta de frutas e verduras que iriam parar no lixo por serem esteticamente inadequadas ou um pouco passadas.

Com os ingredientes, foi montado um cardápio composto de sopa, fritada italiana e salada de frutas.

“Trata-se de mudar a atitude com a comida, temos muitos voluntários que têm medo de comer algo que passou da validade”, disse Engel.

O ano de 2016 foi uma referência para os ativistas internacionais que tentam evitar que a comida acabe no lixo. A Itália e a França aprovaram leis para facilitar que os estabelecimentos comerciais possam doar estes alimentos.

A Grã-Bretanha está atrasada com relação aos seus vizinhos por não ter legislação sobre o tema, deixando grupos comunitários e alguns negócios preencherem o vácuo.

O país descarta cerca de 10 milhões de toneladas de alimentos ao ano, segundo cifras da organização beneficente Waste and Resources Action Program (WRAP).

A série de TV britânica “War on Waste” (guerra ao desperdício) tem ajudado a despertar a consciência da população.

O conjunto da UE joga no lixo 88 milhões de toneladas de alimentos ao ano, segundo estimativas de 2012.

Do lixo a Selfridges

Os clientes habituais da nova onda de bares e lojas de alimentos antes condenados ao lixo inclui ativistas bem-intencionados, pessoas de baixa renda e gente em busca de companhia.

Um ex-voluntário da FoodCycle, Ben Whitehead, contou ter conseguido 15 toneladas de frutas desde que pediu que lhe doassem o que seria jogado fora no mercado local.

“Eles me ofereceram 12 caixas de abacaxis realmente incríveis. Estava de bicicleta, eles me olharam e riram”, contou, lembrando o primeiro contato que teve com os comerciantes.

Depois de fazer experiências com diferentes frutas consideradas não suficientemente aptas para o consumo, Whitehead criou uma empresa em 2015, chamada SpareFruit, que seca rodelas de maçã e peras para transformá-las em aperitivos similares às batatas fritas.

A Snact, que produz frutas secas similares, surgiu em 2014 após arrecadar 14.000 libras esterlinas (17.000 dólares, cerca de 56.300 reais) por meio do financiamento coletivo.

As duas empresas esperam crescer em 2017 e chegar às prateleiras das lojas de luxo Selfridges. Esta possibilidade demonstra quanto a atitude britânica mudou, como Whitehead descobriu quando perguntou aos consumidores se comeriam algum alimento que seria descartado de outra maneira.

“A resposta de todo mundo foi: ‘desde que seja limpo e sadio e seja bom para comer, por que não?'”, lembrou.

Fonte – Rosie Scammell, AFP de 03 de janeiro de 2017

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