Por Ellen Nemitz · ECO - 18 de dezembro de 2024 - Câmara ressuscitou “jabutis” da…
Caminhamos rumo a um mundo com projeções de aumento de temperatura realmente preocupantes
O aquecimento global não é um fenômeno novo, já que acompanha e descreve a história profunda do planeta. No entanto, o que na atualidade se destaca é o impacto da atividade humana nos processos de mudança climática, assinalados pela ingrata recorrência de eventos extremos. Isto foi provado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas durante a Cúpula de Paris (2015), que contou com a contribuição de cientistas e referências internacionais. Não obstante, as nações mais poderosas investem migalhas no cuidado do meio ambiente, porque temem a desestabilização de suas economias. Deste modo, os compromissos se estampam em instrumentos e declarações que nunca se traduzem em ações concretas.
Sobre tudo isso conversa Nazareno Castillo Marín, doutor em Ciências Biológicas (UBA) e professor de Ecologia e Microbiologia Ambiental na Universidade Três de Fevereiro. Ele foi diretor de Mudança Climática na Secretaria de Ambiente e Desenvolvimento Internacional no Ministério presidido por Sergio Bergman. Aqui descreve as estratégias de mitigação e adaptabilidade que se procura promover no âmbito local e internacional, destaca a necessidade do compromisso mundial diante da mudança climática e, por último, conta a quantas anda o seu último material de divulgação O ambientalista cientista publicado pela editora universitária Eduntref.
Você é doutor em Ciências Biológicas. Por que se especializou no estudo do meio ambiente?
Quando entrei na universidade, em princípio, estava mais orientado à biologia molecular e celular, embora, em seguida, me direcionei para o campo das ciências da terra e a ecologia. Logo comecei a me interessar pela mudança climática e, além disso, nunca me atraiu muito a ideia de trabalhar em um laboratório. De modo que fiz uma especialização em temas ambientais e dali decidi pensar em um doutorado vinculado aos fenômenos atmosféricos.
Você começou com a análise da mudança climática quando ainda se tratava de uma temática sem tanta relevância na agenda midiática e política…
Exato. Eu o estudava quando ainda não existiam tantas áreas de pesquisa voltadas para isso. Hoje é um tema de importância central e de muita circulação nos meios de comunicação. Desta maneira, consegui ocupar um cargo em gestão como diretor de Mudança Climática durante 7 anos (2007-2014) e, atualmente, sou diretor de Financiamento Internacional no Ministério do Ambiente e Desenvolvimento Sustentável.
Se a mudança climática é um problema global, que atividades podem ser promovidas e executadas na Argentina?
Em relação à mudança climática, podem ser desenvolvidas duas grandes áreas. Por um lado, as políticas de mitigação que apontam para a realização de projetos cujo objetivo é reduzir as emissões ou capturar o CO2 que já foi emitido. De modo que se estimulam aqueles estudos sobre como é possível gerar energias renováveis em vez de combustíveis fósseis, ao mesmo tempo que se busca implementar diversas estratégias de eficiência energética e promover um manejo florestal mais apropriado. Existe uma fonte de financiamento que se canaliza através do chamado Fundo Verde do Clima, que os governos e as empresas privadas podem acessar. E, por outro lado, uma segunda área na qual se trabalhou menos é a que tenta resolver de que maneira os seres humanos devem se adaptar à mudança climática.
Por que trabalharam menos sobre as condições de adaptabilidade dos seres humanos?
Nesse âmbito é mais complicado, porque devemos encaminhar ações que não contam com financiamento internacional e devem ser sustentadas com fundos domésticos. Basicamente, porque não interessa aos países desenvolvidos colocar dinheiro na nossa adaptação, já que não se beneficiam em nada. É diferente, como comentava, no âmbito da mitigação, porque na medida em que os gases se misturam na atmosfera não importa onde são emitidos, já que se trata de um problema global.
E que políticas podem ser projetadas neste sentido?
Pode-se propor a capacitação dos produtores agrícolas para que adequem as datas de suas colheitas e o plantio em função do clima (ordenamento territorial em base às precipitações), fomentar que os municípios contem com sistemas de alerta antecipado diante de eventos extremos, proporcionar seguros contra secas e inundações, planejar obras de canalização e deságue, códigos de edificação nas cidades. Aqui, o Ministério do Ambiente tem pouca competência na realização de ações concretas, já que tem um papel mais associado às tarefas de coordenação.
A que se refere?
A que as ações concretas dependem diretamente de outras pastas, como do Ministério da Agroindústria ou do Ministério de Minas e Energia, de acordo com cada caso.
Você é diretor de Financiamento Internacional, e o aquecimento global é um problema que compromete as vontades, sobretudo, dos grandes líderes do mundo. O que pensa sobre uma posição tão controversa como a de Donald Trump?
Penso que sua posição em relação à mudança climática não é muito animadora. Os Estados Unidos não aceitaram o Protocolo de Kyoto (ratificado em 2005 por 187 países), apesar de serem o principal emissor de gases de efeito estufa. No Acordo de Paris (2015), Obama assegurou a redução das emissões, embora os compromissos sejam voluntários e não legalmente vinculantes. Por essa razão, será difícil que no futuro Trump se comprometa com esses compromissos. Por outro lado, o fato controverso é que os Estados Unidos são um dos principais financiadores das pesquisas e dos eventos científicos sobre mudança climática. Eles contribuíram com parte significativa do suporte da última convenção.
Quer dizer que investem muito dinheiro em meio ambiente e comunicação, apesar de que não se interessam muito em instrumentar políticas para sua proteção…
Sim, são grandes financiadores. Inclusive, se deixassem de investir haveria menos reuniões e encontros com paineis de cientistas internacionais como aqueles que são realizados. Eles se preocupam em demonstrar ao mundo que concentram esforços no tema e observam a mudança climática como um ponto estratégico, embora temam que afete a sua economia.
Neste marco, como imagina o futuro da mudança climática?
Caminhamos rumo a um mundo complicado, com projeções de aumento de temperatura realmente preocupantes. No mundo não existe um compromisso real para solucionar as problemáticas ambientais, porque investir na diminuição das emissões, em geral, leva ao aumento dos custos e à diminuição da competitividade. De modo que os países se recusam a este tipo de ações. No futuro próximo (já que existem sinais de sobra no presente) haverá muitos eventos extremos e será preciso acostumar-se a conviver com eles.
Por último, além do seu trabalho em gestão você é professor, e em 2016 publicou um livro de divulgação. Como anda O ambientalista cientista?
No livro, faço uma analogia que associa o planeta a um restaurante, com o objetivo de ilustrar a demanda excessiva de recursos naturais e o modo como a taxa de consumo supera a taxa de regeneração da natureza. Utilizo regras nemotécnicas que ajudam os leitores a recordar os temas. O trabalho recupera problemáticas ambientais de caráter global (como o ozônio e a desertificação) e local (mineração, resíduos sólidos urbanos), e depois, em uma segunda etapa, proponho estratégias tecnológicas e políticas para combatê-las. Trata-se de um material de divulgação que se propõe despertar o interesse do público leitor para temas que circulam o tempo todo e que, além disso, fazem parte e condicionam a sua existência.
Fonte – Pablo Esteban, Página/12, tradução André Langer, IHU de 23 de fevereiro de 2017
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