Atafona, distrito de São João da Barra no litoral norte fluminense, é mais uma cidade que está sendo engolida pelo mar.
Não é a única no Brasil com este problema, mas talvez uma das mais afetadas pelo processo de erosão costeira.
Ela fica na foz do Paraíba do Sul, pouco antes de uma mudança de curso do litoral brasileiro.
Do Rio Grande do Norte até o Cabo de São Tomé o contorno da costa segue a linha norte-sul, a partir de São Tomé acontece uma mudança e ela passa a correr no sentido leste-oeste.
Atafona fica pouco acima (ao norte) do cabo.
O início do processo de erosão em Atafona, Rio de Janeiro
A dica foi dada acima, Atafona, um antigo vilarejo de pesca que se transformou em balneário, começou a sofrer o processo de erosão nos anos 50 do século passado.
Mas ele se intensificou com o passar do tempo, o aumento do nível do mar, e sua localização especial na foz de um grande rio bastante alterado pela ação humana.
Como grande parte das cidades antigas, Atafona fundada por pescadores oriundos de Cabo Frio no século 17, foi erguida às margens do rio, à beira-mar.
O rio lhe dava fartura de água, e o mar, a comida, condições essenciais para a vida.
Mas, passado o tempo e o tradicional crescimento desordenado, a geografia parece estar se vingando.
Segundo estudo da Universidade Federal do Rio de Janeiro, e Universidade Federal Fluminense, “A velocidade com que a erosão tem atuado na área de estudos chega a alcançar uma taxa de 7,8m/ano, em pontos mais críticos, próximos ao pontal arenoso, imediatamente na parte meridional da foz do rio Paraíba do Sul.”
“Os primeiros registros que se têm notícia da erosão costeira em Atafona datam de 1954, na Ilha da Convivência, que hoje já foi praticamente toda engolida e seus habitantes forçados a deixar suas casas e buscar moradia em outros lugares.”
Duas mil pessoas já foram atingidas e 500 casas atingidas
“Na praia de Atafona o evento veio a ocorrer cerca de cinco anos depois, mas a destruição se intensificou na década de 1970 e não parou até os dias de hoje.
A Prefeitura de São João da Barra calcula que o avanço do mar já destruiu 500 residências e comércios.
Moradores locais e pesquisadores estimam que este número pode ser ainda maior e que o número de pessoas forçadas a se deslocar, inclusive migrando para outras cidades ou estados, tenha passado das 2 mil.”
O litoral é um espaço frágil e importante do ponto de vista da biodiversidade, que sofre naturalmente os processos de erosão. Ventos, ondas, ressacas, correntes marinhas, são alguns dos protagonistas. Por isso ele deve ser o mais livre possível de intervenções humanas. Mas não é o que acontece. As cidades antigas, ou as construções modernas, estão hoje ameaçadas. A erosão costeira já atinge perigosos 60% do litoral do País, tragando às vezes cidades, outras vezes as ‘casas pé na areia‘, um equívoco de parte dos brasileiros.
O rio Paraíba do Sul
Mas, talvez o mais importante no caso de Atafona é sua proximidade com a foz do Paraíba do Sul.
Ele nasce da confluência dos rios Paraibuna e Paraitinga, no estado de São Paulo e seus cursos d’água com cerca de 1.130 KM, atravessam o Vale do Paraíba, percorrem a região de Minas Gerais até desaguar no Oceano Atlântico.
No passado, era uma região rica em Mata Atlântica.
Hoje, o que sobrou da Mata Atlântica, cerca de 12,4%, apenas subsistem em áreas da Serra dos Órgãos e dos parques nacionais da Serra da Bocaina e de Itatiaia.
O Paraíba do Sul, antes caudaloso, despejava suas águas com força contra as do oceano.
Acontece que este é mais um rio maltratado pela ação humana. Ao longo do tempo ele perdeu suas matas ciliares, o que acentuou o processo de assoreamento. Com isso, menos água passou a correr em seu leito o que tornou a vazão para o oceano bem menor.
Deus é Fiel mas não ajuda o São Francisco
Hoje ela é de 250m³ por segundo. De acordo com o Comitê da Bacia do Paraíba, o ideal seria uma vazão de 500m³ a 800m³ por segundo.
O processo de erosão na região em função das alterações no rio, além dos outros fatores, é o mesmo que se vê na foz do São Francisco.
Reservatórios para usinas hidrelétricas
A pá de cal foi a construção de reservatórios de usinas hidrelétricas, como Paraibuna, Santa Branca e Funil. Com isso, menos água passou a descer até a foz. Não deu outra. Segundo o estudo mencionado, “aparentemente, o fator que provoca erosão em Atafona é o desequilíbrio do balanço entre o aporte sedimentar e a deriva litorânea.”
Desvio do curso do rio
O site da Agência Nacional de Águas confirma outra obra que levou à diminuição da vazão. “Além disso, se destaca também pelos acentuados conflitos de usos múltiplos da água e pelo peculiar desvio das águas para a bacia hidrográfica do rio Guandu, com a finalidade de gerar energia e abastecer a população da Região Metropolitana do Rio de Janeiro.”
Ou seja, o Paraíba do Sul deixou de transportar ‘aportes sedimentares’ até sua foz. Em consequência, o mar penetrou por seu leito e adjacências. Isso, aliado às ressacas, ondas e vento, contribuiu para o aumento do processo erosivo justamente onde a cidade foi erguida. O estudo confirma a localização do problema: “A erosão em Atafona diminui à medida que migramos para sul.”
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