Por Jean Silva* - Jornal da USP - 1 de novembro de 2024 - Tucuruvi,…
Cochonilha – Você come insetos?
Cochonilhas fêmeas
Se você come produtos industrializados com a cor vermelha, marrom, laranja ou rosada, como biscoitos, bolachas recheadas de chocolate (!) além das de morango, leites de soja sabor morango, acerola,…
Se você come produtos industrializados com a cor vermelha, marrom, laranja ou rosada, como biscoitos, bolachas recheadas de chocolate (!) além das de morango, leites de soja sabor morango, acerola, laranja, mamão, maçã, etc., doces, bolos, sucos de morango, sucos de goiaba, sucos de laranja (sim, de laranja!), balas, cereais, geleias, chicletes, sorvetes, campari, licores e outras bebidas alcoólicas, refrigerantes, cerejas em calda e se não for vegano e ingerir laticínios como iogurtes sabor morango, iogurtes sabor uva, queijos, embutidos (patês, salames, salsichas, mortadelas, etc.), carnes, gelatinas sabor morango e uva, pudins, xaropes para sucos em geral incluindo os de açaí, peito de peru light, temperos prontos, alimentos pré processados, rações para animais domésticos (inclusive aves), sopas e outros industrializados com os sabores cereja, framboesa, açaí, sim, você come insetos – come o pigmento vermelho produzido a partir de cochonilhas (“Dactylopius coccus”).
Além de comê-las, você também as utiliza quando usa xampus, sombras, batons, tintas, corantes de roupas, detergentes, etc. Além do corante carmim (“Dactylopius coccus”) que vai do laranja ao vermelho, as cochonilhas também fazem parte da produção de medicamentos (“Ceroplastes ceriferus”), verniz (“Llaveia axin”), cera (“Ceroplastes ceriferus”) e laca (“Laccifer lacca”).
Corantes são substâncias que apenas “colorem” os alimentos com a finalidade de melhorar o seu aspecto, fazendo com que tenham uma aparência mais próxima aos dos produtos naturais, deixando-os portanto, mais “apetitosos” aos olhos do consumidor. Não acrescentam nem sabor nem odor, apenas cor.
Bilhões de cochonilhas (são necessárias 70 mil fêmeas para se obter apenas meio quilo de corante. Para colorir uma bola de sorvete de morango são necessários, no mínimo, 40 insetos.) são criadas em laboratórios, fervidas, (elas são mortas por imersão em água quente ou por exposição ao calor de um forno) assadas, tostadas, esmagadas, maceradas, para dar origem ao corante vermelho ou corante carmim e esse corante é classificado como “natural” – o termo “corante natural” é extensivo aos produtos obtidos de animais (!).
Esse aditivo é normalmente especificado como “corante natural carmim de cochonilha”, “corante natural” , “C.I. 75470”, “E 120”, “vermelho 3”, “carmim” , “cochineal”, “ corante C.I.” , “INS 120” ou “corante natural ácido carmínico”. Ele não é tóxico ou cancerígeno como muitos corantes vermelhos artificiais, no entanto, pode provocar reações alérgicas, chegando mesmo a causar choque anafilático em alguns consumidores.
A longo prazo pode causar danos digestivos, metabólicos e neurológicos. E, o mais espantoso é que nas embalagens não está escrito qual é a matéria prima desse corante, isto é, que é de insetos. O consumidor não sabe o que está ingerindo. Declarar os ingredientes dos alimentos industrializados é lei federal mas as indústrias somente colocam os nomes científicos nos rótulos.
A cochonilha é um parasita de cactos, medindo de 3 a 5 milímetros de comprimento, nas cores marrom ou amarela. Cochonilhas são parentes próximas das cigarrinhas, cigarras e dos pulgões. A base do corante é o ácido carmínico, retirado dos corpos e ovos desses insetos. Os predadores naturais deles são a joaninha e alguns tipos de vespa.
O inseto é originário do México, Peru e América Central e seu corante é conhecido e utilizado desde as civilizações asteca e maia, principalmente para tingir tecidos. Durante o período colonial mexicano, a cochonilha se tornou o segundo produto em valor exportado do México, superado apenas pela prata. Esse corante era consumido em larga escala na Europa mas durante o século XIX a demanda diminuiu e quase parou no século XX, devido à forte concorrência de produtos industrializados, enquanto o corante cochonilha era produzido artesanalmente por indígenas.
Apenas nos últimos anos a cochonilha voltou a ser comercialmente viável (não tóxica e não cancerígena). O corante carmim consumido no Brasil é, praticamente todo, proveniente do Peru.
As fêmeas é que são usada como base do corante – figura da esquerda
E por que não usar beterrabas como corante vermelho? Porque o produto feito com as cochonilhas, um pó avermelhado, tem características “interessantes” para a indústria de alimentos: é muito estável ao calor, à oxidação e a variações de acidez (pH), isto é, não estraga facilmente. A quantidade de cada aditivo considerada “segura” para cada tipo de alimento é determinada pela “FAO”, (“Food and Agriculture Organization” – “Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura”) e pela “OMS” (“Organização Mundial de Saúde”).
A legislação brasileira em relação aos corantes, além de seguir as recomendações da “FAO” e “OMS”, possui a regulamentação do uso de aditivos para os alimentos realizada pela “ANVISA” (“Agência Nacional de Vigilância Sanitária”). A resolução “CNNPA no 44” estabeleceu as condições gerais de elaboração, classificação, apresentação, designação, composição e fatores essenciais de qualidade dos corantes empregados na produção de alimentos e bebidas.
Eticamente não é aceitável a morte de milhões desses animais apenas para dar “cor” a alguns alimentos para humanos se deleitarem. Veganos e várias organizações em defesa dos direitos dos animais alertam para o fato de ser essa matança brutal e extremamente fútil. Importantíssimo é conhecer todo esse processo de fabricação e boicotar alimentos que contenham o corante carmim. Além disso, para aditivos alimentares há muitos testes feitos em animais escravos (inclusive desenvolvimento de tumores), procurando as implicações desse corante na saúde humana, o que é bárbaro, moralmente inaceitável, além de inútil.
Fonte – Martha Follain, ANDA
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