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Colapso de insetos: “Estamos destruindo nossos sistemas de suporte à vida”

O cientista Brad Lister retornou à floresta tropical de Luquillo, em Porto Rico, depois de 35 anos para descobrir que 98% dos insetos haviam desaparecido do solo.

Ele pode notar a diferença de cara: não havia pássaros em nenhum lugar.

Aos poucos, Lister chegou à conclusão aterradora: a população de insetos que uma vez forneceu alimento abundante para as aves em todo o montanhoso parque nacional havia desmoronado.

No chão, 98% tinham ido embora. Nas copas frondosas, 80% haviam desaparecido. “É um verdadeiro colapso das populações de insetos na floresta tropical. Começamos a perceber que isso é terrível – um resultado muito, muito perturbador”, disse.

Desastre ecológico

Os insetos são 17 vezes mais abundantes que os humanos na Terra, e fundamentais para a cadeia alimentar. Seu colapso beira um “Apocalipse Ecológico” e o culpado mais provável é, de longe, o aquecimento global.

O trabalho em Porto Rico é apenas um dos poucos estudos que avaliam essa questão vital.

O número de insetos voadores nas reservas naturais da Alemanha despencou 75% em apenas 25 anos. O virtual desaparecimento de aves em uma floresta australiana de eucaliptos foi atribuído à falta de insetos causados pela seca e pelo calor. Lister e seu colega Andrés García também descobriram que o número de insetos em uma floresta seca no México caiu 80% desde os anos 80.

“Estamos essencialmente destruindo os sistemas de suporte de vida que nos permitem sustentar a nossa existência no planeta, juntamente com todas as outras formas de vida”, disse Lister.

Aquecimento global

Desde as primeiras visitas de Lister à Luquillo, outros cientistas previram que os insetos tropicais, tendo evoluído em um clima muito estável, seriam muito mais sensíveis ao aquecimento do clima. “Se você ultrapassar um pouco o ótimo térmico dos insetos tropicais, sua condição física simplesmente despenca”, esclarece o cientista.

Quando os dados chegaram, as previsões foram confirmadas de maneira surpreendente. “O número de períodos quentes, com temperaturas acima de 29° C, aumentaram tremendamente, de zero na década de 1970 para algo como 44% dos dias atuais”, argumenta.

Esse é o principal fator para explicar a situação, uma vez que dados importantes para o declínio de insetos em outras partes do mundo, como destruição de habitat e uso de pesticidas, não podem explicar a baixa das populações em Luquillo, há muito tempo uma área protegida.

Cascata

A primeira vez que Lister visitou Luquillo foi em meados da década de 1970. “Eu estava interessado na competição entre os lagartos do gênero Anolis. Eles são o grupo mais diversificado de vertebrados do mundo e se tornaram um paradigma para a ecologia e os estudos evolutivos”, explica.

Para estudá-los, era importante medir o número de insetos, pois esses são os principais alimentos dos animais. Lister não pensou muito sobre o assunto, mas, quando voltou ao parque nacional décadas mais tarde, a diferença foi surpreendente.

Dados sobre outros animais que se alimentam de insetos corroboraram os resultados. “As rãs e os pássaros também caíram simultaneamente em cerca de 50% a 65%”, disse Lister. A população de um deslumbrante pássaro verde que come quase nada além de insetos caiu 90%.

Lister chama esses impactos de uma “cascata trófica de baixo para cima”, na qual os efeitos colaterais do colapso de insetos são sentidos através da cadeia alimentar. “Eu não acho que a maioria das pessoas tenha uma visão sistêmica do mundo natural. Mas tudo está conectado e se os invertebrados declinam, toda a cadeia alimentar vai sofrer e degradar”, alerta.

O que precisamos fazer?

Para entender a escala global de um colapso de insetos que até agora só foi vislumbrado, Lister diz que há uma necessidade urgente de muito mais pesquisas em muitos outros habitats.

“Mais dados, esse é o meu mantra”, afirma.

O problema é que existem raros estudos sobre o número de insetos nas décadas passadas para servir de base. Lister não acha que este é um motivo para desistir, contudo: “Não há tempo como o presente para começar a se perguntar o que está acontecendo”.

Fontes – TheGuardian / Natasha Romanzoti, Hypescience de 16 de janeiro de 2019

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