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Coleta de resíduos recicláveis cresce 23% e tem pico na quarentena

Por Bianca Zanatta – Estadão

O isolamento social decretado em São Paulo em março por conta da pandemia do novo coronavírus teve impacto na produção de resíduos domésticos na cidade. De acordo com a Prefeitura de São Paulo e a Autoridade Municipal de Limpeza Urbana (Amlurb), houve uma diminuição de 12% na coleta comum, que inclui resíduos orgânicos e rejeito, enquanto foram recolhidas 7,9 mil toneladas de recicláveis – um aumento de 23% em relação ao mesmo período do ano passado, em que a coleta seletiva somou 6,4 mil toneladas.

Em nota, a assessoria de imprensa da Prefeitura afirma que “esses números podem estar ligados a uma maior adesão dos paulistanos à reciclagem, assim como uma menor geração de resíduos nas ruas durante o período de quarentena por conta da pandemia”.

Para Carlos Silva Filho, diretor-presidente da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), no entanto, os números podem representar mais uma incerteza econômica do que consciência ambiental.

“As pessoas estão de fato procurando consumir menos, mas o aumento de resíduos recicláveis mostra também uma mudança no perfil de consumo, para mais produtos embalados e alimentos congelados”, sinaliza.

Um levantamento realizado pela associação revela variação de 20% a 40% no crescimento da coleta de materiais recicláveis no País, o que não significa que a reciclagem cresça na mesma proporção. “Boa parte do volume coletado tem sido encaminhada para aterros sanitários devido ao fechamento ou à diminuição da atuação nas unidades de triagem em diversas cidades”, alerta ele.

Vitório Reis, advogado e síndico do Club Park Butantã desde março deste ano. Foto: Felipe Rau/Estadão

Com as pessoas trabalhando, estudando e fazendo todas as refeições em casa durante a quarentena, lidar com o lixo tem sido um desafio também para os condomínios residenciais. O Club Park Butantã, que tem 400 apartamentos e quase 1,5 mil moradores, reforçou uma série de práticas e intensificou a comunicação com os condôminos.

Segundo Paulo Vicente, supervisor administrativo do conjunto de cinco torres, o auxílio de uma empresa terceirizada de coleta seletiva, que já havia sido contratada anteriormente e faz a retirada dos resíduos duas vezes por semana, é uma das peças-chave para lidar com o aumento de resíduos recicláveis.

Além disso, os moradores são orientados a acondicionar os resíduos em sacos pretos grandes para otimizar o espaço. A equipe responsável passou a revisar a separação de tudo duas vezes ao dia. “Unificar e organizar o cronograma entre o pessoal da limpeza e o serviço terceirizado também foi fundamental”, conta o administrador.

O advogado Vitório Reis, de 57 anos, assumiu o posto de síndico do Club Park Butantã em março e já teve que definir todas as medidas restritivas. “O descarte de recicláveis realmente cresceu bastante, até por uma questão de praticidade”, diz. De acordo com ele, o direcionamento para coleta seletiva no condomínio já era muito forte, mas o reforço das orientações deve ser contínuo porque “as pessoas tendem ao relaxamento depois de um tempo”.

Ajuda voluntária e compostagem

A formação de comissões internas de moradores voluntários é um ponto de eficácia. “Assim como temos comissão de jardinagem e de esportes, por exemplo, temos também a de lixo”, relata. “Fazemos cartazes e comunicados constantes e sempre conversamos com moradores da área da saúde que se prontificaram a nos dar uma assessoria e esclarecer dúvidas técnicas.”

O condomínio tem ainda uma orientação específica para unidades com pessoas que foram contaminadas pelo novo coronavírus – até agora, houve relato de dois casos. O lixo infectado é embalado em sacos apropriados e descartado em um lugar específico, a fim de evitar a propagação do vírus.

Sem previsão clara para o término do isolamento social, persiste a questão do que é possível fazer individualmente para diminuir o volume de lixo. “O resíduo orgânico, composto por cascas de frutas, verduras e restos de alimentos, representa em média 50% do resíduo domiciliar urbano, que poderia ser transformado em adubo, mas ainda é destinado a aterros sanitários”, diz Fernando Beltrame, presidente da consultoria em sustentabilidade Eccaplan e idealizador da campanha Sou Resíduo Zero.

“Com a quarentena, houve uma melhora na separação dos materiais recicláveis, porém o resíduo orgânico ainda é um desafio.” O especialista recomenda que a população faça a gestão da geladeira de casa e dos alimentos frescos, planejando as refeições de acordo com o que está disponível e com o prazo de validade.

As cascas e sobras podem ser usadas na compostagem e transformadas em adubo em casa mesmo, com a construção de minhocários em caixas ou baldes (a Eccaplan ensina como fazer online).

Quanto aos recicláveis, a orientação é evitar o consumo de materiais descartáveis, como copos, pratos e talheres plásticos, utilizar ecobags e dar preferência a produtos com pouca embalagem ou embalagens que incentivem a reciclagem.

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