Por Ellen Nemitz · ECO - 18 de dezembro de 2024 - Câmara ressuscitou “jabutis” da…
Como a economia circular pode revolucionar a indústria e criar riqueza através dos resíduos
A economia circular ganhou popularidade mundial entre as empresas nos últimos anos, graças aos seus benefícios ambientais onde os resíduos se transformam em recursos úteis para a fabricação de novos produtos. A economia circular também tem a capacidade de aumentar os lucros e a competitividade econômica das empresas, e este potencial tem sido largamente subestimado, segundo o professor Walter Stahel, amplamente considerado como um dos fundadores da economia circular.
A economia circular é um termo genérico para os modelos de negócios e processos industriais que não geram resíduos, mas sim, reutilizam os recursos naturais repetidamente. De acordo com a consultoria de gestão global Accenture, a economia circular pode adicionar cerca de US $ 6 trilhões para o crescimento econômico global em 2030. Na sua essência, a economia circular é “sobre a economia e competitividade”, segundo Walter Stahel me uma entrevista ao Eco-Business. “O impacto ecológico vem como um presente”.
A economia circular vai tornar o capitalismo mais sustentável e eficiente
O acadêmico suíço de 70 anos é conhecido por seu trabalho pioneiro sobre a extensão do ciclo de vida dos produtos, desde a década de 1970, muito antes de termos como economia circular, ciclo fechado e zero resíduos se tornarem termos usados nos negócios. Ele também é o cérebro por trás dos principais conceitos como a fabricação “do berço ao berço” (Cradle to Cradle), onde as mercadorias são feitas, desmontadas e re-transformadas em novos produtos de economia circular. Walter Stahel também criou a ideia da economia de serviços também chamada de economia do desempenho.
Este é um modelo de negócio dentro da economia circular, onde em vez de vender itens para os clientes, as empresas manterão a propriedade dos produtos físicos e os clientes pagam apenas pelo uso que delas derivam. Isso estimula as empresas a tornarem seus produtos mais duráveis pelo maior tempo possível. Isso ajuda a diminuir a obsolescência programada que é a principal responsável pelas toneladas de resíduos que vão parar nos ateros anualmente.
Um exemplo da economia de serviços é a fabricante de pneus Michelin, que vende quilometragem para seus clientes, e não pneus. Quando um pneu não está mais em condições de circular, a empresa simplesmente os substitui para os clientes, fazendo o recauchutamento e reparo dos pneus velhos em suas próprias oficinas. Outro exemplo disso são os carros autônomos elétricos que estarão nas ruas em poucos anos. Esses veículos farão parte das frotas de empresas de compartilhamento como a UBER, para atender aos clientes. Ter a posse de um automóvel não vai ser mais vantagem.
Arquiteto de formação, Walter Stahel vem alertando desde 1976 das vantagens financeiras e ambientais da economia circular na qual argumenta que fabricar carros, objetos e edifícios mais duradouros e mais fáceis de desmontar, pode criar mais postos de trabalho e, simultaneamente, reduzir o consumo de energia, água e utilização dos recursos. Em 1982, ele passou a criar um centro de pesquisa, o Product-Life Institute em Genebra, com o economista italiano Orio Giarini. A missão da organização é desenvolver modelos de negócios para reutilizar produtos, estender os ciclos de vida dos produtos e evitar o desperdício.
Desde então, muitas multinacionais tem abraçado este modelo de negócio como a empresa de computadores americana Dell, que começou um sistema de reciclagem de plástico para seus aparelhos, a gigante automobilística Renault coleta peças de automóveis usadas e as reutiliza em novas máquinas, a gigante do fast fashion sueca H & M recicla roupas usadas, esses são apenas alguns exemplos. Mas ainda assim, a maioria das empresas e os governos não compreenderam totalmente a escala de oportunidades que pode ser gerada pela economia circular, diz Walter Stahel.
Competitividade circular
A nível nacional, os países podem aumentar a sua competitividade econômica através do apoio a uma mudança para processos industriais que minimizam o desperdício e concentram-se na recuperação de recursos, diz Walter Stahel. Isso ocorre porque a economia circular, com seu foco na reciclagem, desenvolvimento de competências e de inovação, é com certeza mais trabalhoso do que o modelo linear de “extração, fabricação e descarte”, mas tem a vantagem de produzir gastando muito menos água, energia e matéria prima.
A diminuição dos recursos naturais também levaram muitos países a procurar maneiras de aumentar a sua capacidade de resistência a um défice no fornecimento de matérias-primas industriais. Assim, reciclar os resíduos pós-industrializados para fazer novos produtos é uma solução barata e eficaz.
Enquanto isso, as empresas vão descobrir que os recursos naturais virgens se tornarão cada vez mais caros e onerosos para se obter devido às várias regras sobre sua origem ambiental e a problemas causados pelas mudanças climáticas. Ao reutilizar materiais existentes, as empresas podem evitar os problemas e custos de aquisição de novas matérias-primas. Aproveitar 100 % dos recursos em novos produtos promete ser bem lucrativo no final.
Por exemplo, as empresas ainda estão procurando um modelo adequado que permita aos fabricantes de várias indústrias assumir a responsabilidade por todo o ciclo de vida de seu produto e ainda fazer um lucro ao fabricá-lo. Hoje, muitos fabricantes estão buscando os investimentos necessários para fazer isso, incluindo melhores matérias-primas, logística para recuperá-los no final da sua vida útil e a tecnologia para reutilizá-los em novos produtos. Mas esse é o futuro de toda a indústria.
Existe também um potencial para desenvolver novas formas para quebrar itens ao seu nível molecular, tais como a quebra de ligas metálicas ou polímeros orgânicos para obter seus componentes individuais, o que poderia ajudar a abrir novos mercados mundiais. No sistema de economia de serviços, a propriedade dos bens não é mais transferida para os clientes, e esse é o modelo de negócio mais lucrativo da economia circular, segundo Walter Stahel.
Nestes modelos de negócios onde as empresas tem a propriedade das mercadorias, elas têm uma capacidade garantida para recuperar todos os materiais usados para fazer o item, e como resultado, as empresas também ficam protegidas contra os picos repentinos nos preços das commodities. Felizmente, os governos ao redor do mundo estão lentamente tomando conhecimento da importância ambiental e econômica da economia circular.
A gestão dos resíduos de forma responsável é importante não só para os objetivos de sustentabilidade das empresas, mas também cria uma infinidade de oportunidades econômicas. Se as empresas e os governos se comprometem a integrar conceitos circulares e economia de serviços em seus modelos de trabalho, vamos ver “saltos quânticos” na competitividade dos governos e empresas, finaliza Walter Stahel .
Fonte – Renato Cunha, Stylo Urbano
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