Por Pedro A. Duarte - Agência FAPESP - 12 de novembro de 2024 - Publicado…
Como o tipo da estrada influencia a fauna silvestre
Por Ingridi Camboim Franceschi – FaunaNews – 16 de novembro de 2023 – O tipo de estrada influencia no efeito barreira dependendo da espécie de animal silvestre que vive na região. .
Sabemos que as estradas podem alterar a movimentação dos animais na região em que está presente, podendo impactar na distribuição da fauna, bem como nas atividades de forrageio e de reprodução.
Contudo, o que ainda nos perguntamos é se há diferença nas alterações de comportamento das populações silvestres entre vias não pavimentadas e pavimentadas e, também, em rodovias simples (duas pistas) e as duplicadas (quatro pistas).
Avaliar isso em campo (realidade) é um grande desafio, pois capturar e marcar indivíduos e, posteriormente, conseguir acompanhar seus movimentos não é um método barato e simples.
Pesquisa realizada com roedores
Entretanto, recentemente, um estudo capturou e acompanhou os movimentos de alguns indivíduos de populações de três espécies de roedores diferentes: rato-d’água-do-sul (Arvicola sapidus), rato-do-pinheiro-mediterrâneo (Microtus duodecimcostatus) e rato-argelino (Mus spretus).
O objetivo da pesquisa foi avaliar a força do efeito barreira imposto pelas estradas nessas três espécies com diferentes tamanhos corporais e preferências de hábitat.
Os autores testaram vários fluxos de veículos e tipos de rodovias em relação a quantidade de cruzamentos dos indivíduos.
Os resultados mostraram que cada espécie reage de forma diferente a cada mudança na estrada, seja pelo fluxo de veículo seja pelo tipo de revestimento.
Tal fato demonstra que a mobilidade individual e a localização da área de vida das espécies são fatores importantes nas respostas em relação às estradas.
Também foi encontrado que a probabilidade de mortalidade por evento de cruzamento aumenta à medida em que aumenta a média de intensidade de tráfego para as três espécies.
Porém, o risco de mortalidade anual é maior na rodovia pavimentada simples.
Especificamente, foi observado uma influência negativa entre a intensidade de veículos e o uso do espaço para o rato-d’água-do-sul.
Enquanto, o rato-argelino apresentou comportamento neutro em relação a intensidade de veículos e o comportamento de evitação da estrada devido a pavimentação.
Os resultados também sugerem que animais generalistas podem explorar múltiplas áreas e diferentes tipos de vegetação, podendo ignorar as estradas e ter altas taxas de cruzamentos.
Por outro lado, espécies de hábitats específicos seriam mais restritas a alguns tipos de vegetação e, quando inseridos numa matriz inadequada para eles, podem ser mais afetados pelas estradas e apresentar taxas de cruzamento mais baixas.
O que foi evidenciado pelo rato-d’água-do-sul (espécie dependente de ambiente aquático), que evitou estradas pavimentadas e apresentou baixas taxas de cruzamento.
Em contraste, o rato-do-pinheiro teve a maior taxa de cruzamento e a estrada pareceu ter um efeito neutro sobre essa espécie.
Para muitas espécies, declínio populacional não será associado ao efeito barreira por evitar estradas ou fluxo de veículos, mas muito provavelmente será devido as mortalidades por colisões com veículos.
Isso ocorre principalmente se a população não dá conta de repor novos indivíduos na mesma intensidade que perde.
Dessa forma, ocorrerá um declínio populacional no longo prazo – é o caso do rato-do-pinheiro no estudo mencionado.
Esse trabalho ressalta como características das estradas podem agir como efeito barreira para diferentes espécies e resultar em variadas reações de comportamento conforme suas características biológicas.
Realizar trabalhos assim são fundamentais, entretanto são de elevado custo, tanto por equipamentos quanto por manejo, manutenção e revisão dos dados.
Além disso, quanto maior a espécie, como animais de médio e grande porte, maior o custo desse método de avaliação.
Apesar de ser extremamente importante para entender a dinâmica das espécies em relação às rodovias, essas avaliações também podem ser aplicadas em outros contextos, como as ferrovias.
Sobre o autor / Ingridi Camboim Franceschi
Graduada em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde é mestranda, sendo integrante do Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias (NERF). Seus interesses estão relacionados à conservação do meio ambiente e à ecologia de rodovias, com foco em mastofauna.
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