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Como outros países solucionaram a escassez de água

Inglaterra – Com uma população de cerca de 8,3 milhões de habitantes, a cidade de Londres, na Inglaterra, sofreu com a crises de água durante os anos 2000. A cidade, conhecida pela garoa constante, sofreu com as poucas chuvas e a situação se agravou em 2006. Neste ano, a solução oferecida pelo governo foi a construção de uma usina de dessalinização, responsável por tornar potável a água do mar. A usina foi escolhida por ser a opção mais econômica: devido a proximidade de Londres com o mar, seria mais viável dessalinizar a água do que transportá-la do Norte do país, por exemplo. Com custo de 270 milhões de libras, a usina inaugurada em 2010 pode fornecer água para 1 milhão de pessoas e chega a produzir até 140 milhões de litros de água potável se estiver funcionando a todo vapor. Para reduzir os gastos com energia — o processo de dessalinização custa, em média, duas vezes mais que o tratamento convencional de água — a usina utiliza biodiesel feito de óleo de cozinha, coletado nos restaurantes da cidade.

Austrália – A Austrália passou por uma grande seca que começou no fim dos anos 1990 e só foi oficialmente encerrada em 2012. Durante esse período, que prejudicou principalmente a agricultura, o país precisou rever todo o seu sistema hidráulico. As ações australianas atacaram duas frentes: econômica e de infraestrutura. Uma das ações foi, em 1994, dar o direito de posse de água aos cidadãos — algo equivalente, no Brasil, à propriedade da terra. Isso significa que os habitantes podem comprar e vender a água que recebem, de acordo com um limite de consumo por pessoa. A medida, de acordo com o governo, faz com que a água seja direcionada para diferentes locais de acordo com a demanda, porque sempre há uma reserva, independente do consumo da população. Se o consumo aumenta, o subsídio governamental cai e as pessoas passam a pagar contas mais altas. Além do benefício para o sistema de abastecimento, o mercado de água tem influência na economia: entre 2008 e 2009, o produto interno bruto do país teve um incremento de 220 milhões de dólares apenas referente à venda de água. A Austrália também investiu em usinas de dessalinização — a primeira foi inaugurada em 2006 na cidade de Perth, considerada a mais seca do país, e produz 45 bilhões de litros por ano, equivalente a 17% do total usado na cidade. Hoje são seis no país, sempre ativas. Em algumas regiões há também reuso de água: 21 bilhões de litros são tratados e reutilizados, 13,5% do total. Até 2030 a expectativa é que 30% da água seja de reuso.

Namíbia – A Namíbia é um dos países mais secos da África, rodeada por dois desertos: um que leva seu nome e o Kalahari. Ainda na década de 1960, o país que recebe 40% de sua água de lençóis subterrâneos, precisou encontrar uma solução para resolver a escassez de água provocada pelo clima e se tornou pioneiro em tratar esgoto para transformá-lo em água potável. Usado desde 1968, o processo mistura água de descargas e pias à água pura do reservatório, que segue para as torneiras das casas. A primeira estação tratava 8 000 metros cúbicos por dia e, em 2001, tratava 21 000 metros cúbicos. A capital Windhoek chegou a criou parâmetros de purificação de água, aceitos hoje pela Organização Mundial de Saúde e União Europeia. Em 2008, o país tinha 60% da área urbana coberta por redes de esgoto e estimava aumentar a porcentagem para 97% nesta década. Para conseguir a aceitação da população foi feita uma longa campanha publicitária. Hoje, a cidade orgulha-se de exibir excelentes níveis de purificação. No país, no entanto, o governo subsidia o setor hídrico e a tarifação da água enfrenta grande resistência popular, principalmente entre os agricultores do país.

Estados Unidos – Os dois principais exemplos de tratamento de água nos Estados Unidos são o Texas e a Califórnia. No caso do Texas, que tem o Sul e Oeste seco e com áreas desérticas, a água é reciclada para irrigação de parques e plantações desde o início do século XX. Em 1985, El Paso, a cidade mais seca do Estado, começou a tratar o esgoto e injetar essa água de volta no aquífero Hueco Bolson. A purificação é feita por processos químicos que incluem ozônio e carbono e o resultado é misturado à água pura do aquífero — o que impede que ele seque. Especialistas estimam que a água reciclada injetada no aquífero demore até dois anos para ser utilizada novamente. Atualmente, 6% do líquido consumido na cidade é reciclado, número que deve aumentar para 15% até o fim da década. Em Big Spring, uma área que viu todos os seus reservatórios secarem nos últimos anos, a central de reciclagem custou 12 milhões de dólares e, em meados de 2013, injetava cerca de 8 milhões de litros de água purificada por dia nos reservatórios da cidade — o uso geral da população é de cerca de 150 milhões de litros. Agora, após três anos sem chuvas, o governo mandou fechar lava-rápidos e proibiu a população de encher piscinas e já desenvolve projetos para oferecer água tratada dos esgotos para pelo menos 50% da população.

Já na Califórnia, a busca por soluções para a crise de água começou em 1972, após o lençol freático da região de Orange County, no Sul do Estado, onde fica a Disneylândia, ter chegado ao limite. Em 1976, a primeira estação de tratamento de esgoto começou a funcionar com uma dupla função: a de tratar o esgoto para lançá-lo novamente no lençol freático e a de evitar que o aquífero fosse contaminado por água do mar, evitando assim a salinização da água potável. Em 2004, a primeira estação foi demolida e substituída por outra mais moderna, um processo que durou três anos e custou 481 milhões de dólares. O tratamento de água inclui hoje as mais avançadas técnicas de purificação, feitas por meio de membranas e desinfecção com raios ultravioleta.

Japão – Depois de uma grande seca em 1964, o Japão implantou o reúso de água em todas as indústrias de Tóquio e Nagoya. Na década de 1980, o reutilização tornou-se a opção também para o consumo doméstico nas grandes cidades: a água é utilizada para descargas, limpeza e para derreter neve. Além disso, há cerca de dez anos todos os prédios com mais de 10.000 metros quadrados construídos em Tóquio devem ser equipados com sistemas de tratamento e reúso de água. Em Osaka e Fukuoma, a regra vale para os prédios maiores que 5.000 metros quadrados desde 2003. Os encanamentos duplos — para água potável e água de reúso — são também usados em prédios comerciais e públicos. Em 2000, o subsídio anual para o tratamento da água de reúso era de cerca de 196 milhões de dólares, média de investimento atual, que conta ainda com repasses de emergência em regiões afetadas por terremotos, como Fukushima. Nas residências, o custo da instalação do johkasou, aparelho que faz o tratamento da água, custa cerca de oito dólares, sendo que, dependendo da região, parte desse valor é subsidiado pelo governo.

Israel – Israel é internacionalmente conhecido por ter o mais avançado sistema de manejo de água do mundo. Em uma área desértica, suas fontes naturais são escassas para suprir a demanda dos cerca de 2 bilhões de metros cúbicos necessários para toda a população. Apesar disso, tem uma agricultura desenvolvida e raramente passa por crises hídricas. Os bons resultados vêm da combinação de diversas estratégias, centralizadas pelo governo. A primeira técnica de economia de água começou a ser utilizada no início do século XX, quando a principal ocupação do Estado era com a agricultura. Nessa época, os fazendeiros desenvolveram um tipo de irrigação mais econômico, chamado irrigação por gotejamento. Não é preciso encharcar toda a terra: a água é direcionada para as raízes das plantas. Além disso, o país desenvolveu técnicas de reúso sofisticadas, com o uso de membranas e processos químicos. Atualmente de 80% a 90% dos esgotos são tratados e reutilizados. Israel também tem uma das maiores usinas de dessalinização do mundo, em Ashkelon, inaugurada em 2005 e produtora de 13% de toda a água doméstica consumida no país. Atualmente, a usina é responsável por 40% da água potável fornecida no país, processo que custa entre 60 a 80 dólares por metro cúbico. Os níveis de perdas por vazamento são semelhantes ao da União Europeia, de 10%, e todas as crianças são educadas na escola a economizarem a água dentro das casas.

Fonte – Bianca Bibiano, Revista Veja de 19 de janeiro de 2015

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