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“Conflito de interesses”. Estudo diz que Coca-Cola e Pepsi financiam organizações de saúde
Reuters / Carlo Allegri
As empresas de refrigerantes deram milhões de dólares a associações que lutam contra a diabetes, obesidade e as doenças cardiovasculares
A Coca-Cola e a Pepsi patrocinaram pelo menos 96 organizações de saúde nos Estados Unidos entre 2011 e 2015, incluindo algumas dedicadas a lutar contra a obesidade, enquanto ao mesmo tempo agiram contra pelo menos 29 propostas de lei que promoviam a redução do consumo de refrigerantes, segundo o relatório de dois investigadores da Universidade de Boston, Estados Unidos.
O estudo, publicado esta segunda-feira no American Journal of Preventive Medicine concluiu que a Coca-Cola e a Pepsi financiaram entidades que deveriam defender um menor consumo de refrigerantes, como a Associação Americana do Coração, a Associação Americana de Diabetes e o Centro de Controlo e Prevenção de Doença. Um conflito de interesses, salientam os autores, já que estas organizações são responsáveis por promover um estilo de vida saudável e por combater doenças como a obesidade e a diabetes através de campanhas e iniciativas públicas.
A Coca-Cola e a Pepsi “aproveitaram-se das suas relações com organizações de promoção da saúde para desenvolver associações positivas para as suas marcas”, afirmou Daniel Aaron, estudante de medicina na Universidade de Boston e principal autor do estudo. Ao mesmo tempo, estas empresas conseguem silenciar associações e críticos através de donativos, continua Aaron.
O estudante de medicina começou a interessar-se pelo tema quando percebeu a quantidade de eventos que promovem a saúde que são patrocinados por empresas de refrigerantes. “Fiquei muito surpreso”, afirmou ao The Washington Post. “Acho que nós não percebemos o quanto isto é comum”.
Entre 2011 e 2014 a Coca-Cola gastou mais de seis milhões de dólares anuais em financiamentos e a Pepsi mais de três milhões de euros por ano, segundo o jornal ABC.
Esta investigação surge apenas um mês depois de ter sido revelado que, durante os anos 60, a indústria do açúcar influenciou fortemente a investigação científica sobre doenças cardíacas nos Estados Unidos. As grandes empresas financiaram estudos que afirmavam que o colesterol e as gorduras saturadas eram os principais culpados pelos problemas cardíacos e que desvalorizavam os efeitos negativos do açúcar.
“Estudos anteriores sobre o patrocínio e empresas de álcool ou tabaco sugerem que a filantropia corporativa é uma ferramenta de marketing que pode ser usada para silenciar as organizações de saúde que podem aprovar iniciativas públicas contra estas indústrias”, afirmou Michael Siegel, professor de Saúde Pública e co-autor do estudo, que usa a influência das empresas tabaqueiras nas investigações científicas no século passado como exemplo.
“Agora, a maioria das organizações recusa receber dinheiro [das indústrias] de tabaco. As empresas de refrigerantes deviam ser tratadas da mesma forma”, continua Siegel.
No ano passado, a Coca-Cola foi acusada de patrocinar estudos falsos que afirmavam que o exercício físico era mais importante para ser saudável e perder peso do que uma dieta com pouco açúcar, segundo o Business Insider.
A Associação Americana do Coração afirmou num comunicado que continua a promover um menor consumo de bebidas com muito açúcar e que “nenhum financiamento ocasional tem influência” no trabalho e nas políticas que a associação defende, segundo o The Washington Post.
Fonte – Diário de Notícias de 10 de outubro de 2016
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