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Consequências de agrotóxicos na saúde pública, parte I

CASSAL et. al. (2014) por meio de uma revisão, objetivam relatar os perigos da utilização indiscriminada de agrotóxicos e suas consequências na saúde pública.

A inspiração decorre pelo fato do Brasil estar entre os maiores consumidores de agrotóxicos do mundo e pelo impacto social e ambiental causado pelo uso desordenado destes.

CASSAL et. al. (2014) ressaltam que os riscos não se limitam ao homem do campo, atingem os mananciais de água, o solo, o ar, os animais, podendo também os alimentos comercializados nas cidades apresentaram resíduos tóxicos. Parte dos agrotóxicos utilizados tem a capacidade de se dispersar no ambiente, e outra parte pode se acumular no organismo humano, trazendo diversos efeitos agudos e crônicos.

No mundo todo, os efeitos dos impactos ambientais vêm sendo percebidos. Em relação à saúde pública, o uso crescente desses compostos tem causado severos efeitos, sejam eles agudos ou crônicos, em vários trabalhadores, principalmente da área rural, embora outros setores também sejam afetados.

O uso de agrotóxicos tem se difundido na agricultura, principalmente, nos últimos 30 anos. Especificamente o Brasil, se tornou um dos maiores consumidores desses produtos, ficando atrás somente do Japão e dos Estados Unidos (DAMS, 2006).

O Brasil encontrava-se entre os oito maiores consumidores de agrotóxicos do mundo (CARNEIRO & ALMEIDA, s.d.). Atualmente o Brasil ocupa o primeiro lugar no ranking de consumo de agrotóxicos no mundo (ORTIZ, 2012).

No Rio Grande do Sul o uso de agrotóxicos chega a quase o dobro da média nacional. Em 2010, de acordo com a ANVISA (2013), o mercado nacional movimentou cerca de U$ 7,3 bilhões e representou 19% do mercado global de agrotóxicos.

Um terço dos alimentos consumidos cotidianamente pelos brasileiros está contaminado pelos agrotóxicos, segundo alerta feito pela Associação Brasileira de Saúde Coletiva (ABRASCO), em dossiê lançado durante o primeiro congresso mundial de nutrição o World Nutrition Rio (ORTIZ, 2012).

Constatação se refere a existência de uma concentração do mercado de agrotóxicos em determinadas categorias de produtos. Os herbicidas, por exemplo, representaram 45% do total de agrotóxicos comercializados. Os fungicidas respondem por 14% do mercado nacional, os inseticidas 12% e, as demais categorias de agrotóxicos, 29% (ANVISA; UFPR, 2012).

O processo produtivo agrícola brasileiro está cada vez mais dependente dos agrotóxicos e fertilizantes químicos. A lei dos agrotóxicos (Lei Federal no 7.802, de 11 de julho de 1989, atualmente regulamentada pelo Decreto 4.074, de 4 de janeiro de 2002), define que essas substâncias são: “os produtos e os agentes de processos físicos, químicos ou biológicos, destinados ao uso nos setores de produção, no armazenamento e beneficiamento de produtos agrícolas, nas pastagens, na proteção de florestas, nativas ou implantadas, e de outros ecossistemas e também de ambientes urbanos, hídricos e industriais, cuja finalidade seja alterar a composição da flora ou da fauna, a fim de preservá-las da ação danosa de seres vivos considerados nocivos bem como substâncias e produtos empregados como desfolhantes, dessecantes, estimuladores e inibidores do crescimento”.

CASSAL et. al. (2014) destaca que esta definição exclui fertilizantes e químicos administrados a animais para estimular crescimento ou modificar comportamento reprodutivo. Segundo dados da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e do Observatório da Indústria dos Agrotóxicos da Universidade Federal do Paraná, divulgados enquanto, nos últimos dez anos, o mercado mundial de agrotóxicos cresceu 93%, o mercado brasileiro cresceu 190%.

Mato Grosso é o maior consumidor de agrotóxicos, representando 18,9%, seguido de São Paulo (14,5%), Paraná (14,3%), Rio Grande do Sul (10,8%), Goiás (8,8%), Minas Gerais (9,0%), Bahia (6,5%), Mato Grosso do Sul (4,7%) e Santa Catarina (2,1%). Os demais estados consumiram 10,4% do total do Brasil (IBGE, 2006).

Em relação às hortaliças, com base em dados disponíveis no dossiê ABRASCO (2013) o consumo de fungicidas atingiu uma área potencial de aproximadamente 800 mil hectares, contra 21 milhões de hectares somente na cultura da soja. Isso revela um quadro preocupante de concentração no uso de ingrediente ativo de fungicida por área plantada em hortaliças no Brasil, podendo chegar entre 8 a 16 vezes mais agrotóxico por hectare do que o utilizado na cultura da soja.

Referências

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Fonte – Roberto Naime, EcoDebate de 23 de fevereiro de 2016

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