Por Ellen Nemitz · ECO - 18 de dezembro de 2024 - Câmara ressuscitou “jabutis” da…
Coronavírus e a Sindemia Global
“…Na nossa avidez de lucro, deixamo-nos absorver pelas coisas e transtornar pela pressa. Não nos detivemos perante os teus apelos, não despertamos face a guerras e injustiças planetárias, não ouvimos o grito dos pobres e do nosso planeta gravemente enfermo. Avançamos, destemidos, pensando que continuaríamos sempre saudáveis num mundo doente”. Estas foram as palavras do Papa Francisco no último dia 27 de março. Palavras tão coerentes, pois o modo como condicionamos o nosso planeta a partir das nossas ações tornou o nosso habitat, o único em que a nossa vida é possível no mundo que conhecemos, insalubre.
Analisando este vírus, ele é tão coerente também com o nosso estilo de vida, que 80% das pessoas infectadas são também portadoras de pelo menos uma doença crônica não transmissível, ou seja, doenças que não são herdadas, portanto, consequência dos nossos hábitos, entre elas, obesidade, doenças cardiovasculares e diabetes. Outra população muito atingida também é a de fumantes.
Assim que o vírus passou a se espalhar mundo a fora, rápida foi a disseminação de informações quanto a hábitos a serem adotados a fim de melhorar a nossa saúde e fortalecer nossa imunidade perante o agente invasor. Adotar um padrão de alimentação saudável, realizar exercícios físicos mesmo que em casa, e a própria adoção de terapias relativas à saúde mental, como psicoterapia e meditação, passaram a se tornar presentes na rotina de uma parte da população. Aos privilegiados pela possibilidade de realizar o isolamento social, a qualidade de vida se tornou uma prioridade. Concomitante a este isolamento, cenas da natureza se recuperando em diferentes locais, além da visível melhora da qualidade do ar, passaram a também serem registradas.
Está mais que claro, e a ciência já vinha apontando, que a saúde do ser humano é completamente atrelada à saúde do planeta. A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera as mudanças climáticas uma pandemia e, associada às pandemias da obesidade e da desnutrição, compõem a chamada Sindemia Global. Uma sindemia é uma sinergia de pandemias ocorrendo simultaneamente, causando efeitos uma sob a outra, além de apresentarem determinantes comuns. Mais uma vez, observamos a pertinência deste agente, pois muito evidencia que o surgimento do vírus deu-se em consequência de diferentes impactos de atividades humanas sob os ecossistemas: a expansão agrícola sob áreas florestais, o que acaba expondo diferentes espécies animais ao convívio com humanos, a alta demanda por consumo de espécies exóticas como morcegos e outros, o comércio de alimentos realizado sem saneamento adequado, que ocorre em diferentes locais do mundo, inclusive em Wuhan, considerado o local origem do vírus.
Segundo a OMS, mesmo os poderosos avanços alcançados nos últimos 50 anos na área da saúde podem ser revertidos nos próximos 50 anos devido às alterações climáticas, e, talvez, estes 50 anos já estão tendo seu início com o covid-19. A pandemia do corona vírus é temporária frente aos impactos ambientais que o planeta já vinha sofrendo junto com o desenvolvimento humano, portanto as transformações neste mesmo desenvolvimento após esta pandemia devem ser alvo de melhoras. Como não é possível tratar a saúde humana isolada da saúde ambiental, são necessárias ações sinérgicas pela busca de um mundo saudável, como também o deseja aquele que leva o nome do Padroeiro da Ecologia.
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