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Correntes da Antártida podem entrar em colapso e causar ‘desastre’ no clima, alertam cientistas

Por BBC – 30 de março de 2023 – O derretimento do gelo pode desencadear uma reação em cadeia desastrosa, alerta um novo estudo australiano – Foto: Nasa via BBC

O rápido derretimento do gelo na Antártida está causando uma drástica desaceleração nas correntes oceânicas profundas e pode ter um efeito desastroso no clima, alerta um novo relatório produzido por uma equipe de cientistas australianos.

De acordo com o estudo, os fluxos profundos de água que impulsionam as correntes oceânicas podem diminuir em 40% até 2050.

Essas correntes transportam calor vital, oxigênio, carbono e nutrientes ao redor do globo.

Pesquisas anteriores sugerem que uma desaceleração na corrente do Atlântico Norte pode fazer com que a Europa fique mais fria.

O novo estudo, publicado na revista científica Nature, também adverte que a desaceleração pode reduzir a capacidade do oceano de absorver dióxido de carbono da atmosfera.

O relatório descreve como a rede de correntes oceânicas da Terra é impulsionada em parte pelo movimento descendente da água salgada fria e densa em direção ao fundo do mar perto da Antártida.

Mas, à medida que a água doce da calota polar derrete, a água do mar se torna menos salgada e densa, e o movimento descendente diminui.

Essas correntes oceânicas profundas, ou overturning (capotamento), permaneceram relativamente estáveis ​​por milhares de anos nos hemisférios norte e sul, segundo os cientistas, mas agora estão sendo afetadas pelo aquecimento do clima.

“Nosso modelo mostra que, se as emissões globais de carbono continuarem no ritmo atual, o overturning da Antártida vai diminuir em mais de 40% nos próximos 30 anos — e em uma trajetória que parece caminhar para o colapso”, afirmou Matthew England, oceanógrafo da Universidade de Nova Gales do Sul, em Sydney, que liderou o estudo.

“Se os oceanos tivessem pulmões, este seria um deles”, acrescentou.

Adele Morrison, que contribuiu para o relatório, explicou que, à medida que a circulação oceânica desacelerou, a água na superfície atingiu rapidamente sua capacidade de absorção de carbono, e não foi substituída por água não saturada de carbono de profundidades maiores.

O Estudo Atlas de 2018 mostrou que o sistema de circulação do Oceano Atlântico estava mais fraco do que havia sido por mais de 1.000 anos — e havia mudado significativamente nos últimos 150 anos.

O documento sugeriu que mudanças na Circulação Meridional de Capotamento do Atlântico (Amoc, na sigla em inglês) poderiam resfriar o oceano e o noroeste da Europa, afetando os ecossistemas nas profundezas do mar.

Uma representação fictícia da interrupção da Amoc foi apresentada no filme sobre desastre climático O Dia Depois de Amanhã (2004).

Mas, de acordo com Morrison, uma desaceleração do overturning no sul teria mais impacto sobre os ecossistemas marinhos e a Antártida em si.

“O overturning traz à tona nutrientes que afundam quando os organismos morrem… para reabastecer de nutrientes o ecossistema global e de pesca”, diz ela à BBC.

“A outra grande implicação que poderia ter é um feedback sobre quanto da Antártida vai derreter no futuro. Isso abre caminho para águas mais quentes que podem causar um aumento do derretimento, o que seria um feedback adicional, colocando mais água derretida no oceano e diminuindo ainda mais a velocidade da circulação”, acrescenta.

Os cientistas gastaram 35 milhões de horas computacionais ao longo de dois anos para produzir seus modelos, que sugerem que a circulação em águas profundas na Antártida pode ser reduzida ao dobro da taxa de declínio do Atlântico Norte.

“Impressiona ver isso acontecer tão rápido”, disse o climatologista Alan Mix, da Universidade do Estado do Oregon, nos EUA, coautor da última avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês).

“Parece que está entrando em ação agora. Isso é manchete de jornal”, disse ele à agência de notícias Reuters.

O efeito da água derretida da Antártida sobre as correntes oceânicas ainda não foi levado em consideração nos modelos do IPCC sobre mudanças climáticas, mas será “considerável”, de acordo com Matthew England, autor do estudo.

 

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