Por Ellen Nemitz · ECO - 18 de dezembro de 2024 - Câmara ressuscitou “jabutis” da…
Crescimento e demografia em xeque
Gary Gardner, Tom Prugh e Michael Renner, diretores do projeto O Estado do Mundo 2015, do Worldwatch Institute, criticam a busca incessante do crescimento pelos países ricos.
O estudo usa a expressão “ameaças veladas à sustentabilidade”. Que ameaças são essas? As informações sobre a crise ambiental já não são bem conhecidas?
A consciência a respeito das muitas ameaças ambientais de fato aumentou nos últimos anos, e as pesquisas comprovam a vontade das pessoas ao redor do mundo para enfrentá-las. Mas frequentemente falta senso de urgência que responda à gravidade das ameaças. Além disso, muitas questões de sustentabilidade subjacentes são premissas – sobre a viabilidade do crescimento econômico infinito e o papel da energia barata, por exemplo – que ainda não foram examinadas. Confrontar esses pressupostos de forma aberta e direta é essencial para criar um caminho rumo a um futuro sustentável.
Que mensagens este estudo de 2015 traz como substancialmente novas em relação aos anos anteriores?
Destacamos três. A primeira, de que os danos ambientais têm um impacto econômico muito subestimado. A noção de stranded assets – ativos que poderão nunca ser aproveitados por motivos ambientais – estão levando os principais analistas financeiros a reavaliar carteiras de investimento em todo o mundo. Um exemplo são as reservas de petróleo, que podem nunca ser bombeadas por causa de questões climáticas. A escassez de água na China está levando ao abandono de lavouras e hidrelétricas. Como as condições ambientais vão se deteriorar em muitas regiões e de forma global, carteiras de investimento vão sofrer. A segunda refere-se à preocupação de que mais de 60% das 400 doenças infecciosas em seres humanos que surgiram nos últimos 70 anos foram de origem animal. Essa transmissão é cada vez mais provável com o crescimento do comércio internacional e as viagens, a pecuária intensiva, e a ocupação humana de áreas selvagens. E a terceira é de que o crescimento econômico, por muito tempo um objetivo político de governos nacionais, pode já não ser aconselhável, pelo menos nos países ricos, em que grandes economias continuam a ultrapassar os limites ambientais. Há anos que ativistas pedem o não-crescimento, mas agora pesquisadores acadêmicos no Canadá demonstraram que esse objetivo pode ser gerido de uma forma que reduza o emprego, aumente a equidade, freie as emissões de carbono e outros danos ambientais. Os países pobres ainda precisam crescer para gerar prosperidade e oportunidade para o seu povo, mas os ricos devem encontrar maneiras de manter um elevado nível de bem-estar para a população, em vez de uma produção cada vez maior de bens por pessoa.
O estudo cita Naomi Klein para frisar que o grande nó está no sistema econômico dominante – o capitalismo e a busca do crescimento, ainda que “verde”. Que revisões ou reformas estruturantes são necessárias neste sistema, e até que ponto são viáveis?
Em primeiro lugar, é preciso redescobrir o papel essencial da formulação de políticas de interesse público. Para isso é preciso afastar-se da ideia de que as forças do mercado vão resolver os problemas sociais e ambientais. Isso exige que as empresas privadas não cresçam tanto a ponto de ficar mais poderosas do que órgãos dirigentes democraticamente eleitos. Em segundo, precisamos transformar as normas pelas quais as empresas privadas são regidas – passando do interesse restrito ao acionista para o amplo interesse dos stakeholders, que incluem os trabalhadores, as comunidades impactadas pelas empresas e o ambiente natural. Temos visto o surgimento das “B-corp”, mas ainda são raras. Outras alternativas são as empresas controladas pelos trabalhadores e as cooperativas. Mas isso requer apoio dos governos e do público para ser bem-sucedido.
O estudo coloca a civilização humana como vítima de seu sucesso. Os avanços tecnológicos permitiram expandir a população e a pressão sobre recursos naturais. Para reduzir essa pegada, basta recorrer novamente à tecnologia, ou uma diminuição demográfica se faz necessária?
O número de pessoas que a Terra pode suportar depende muito da maneira como as pessoas querem viver. Nações ricas, auxiliadas por tecnologia e energia abundante, conseguiram um estilo de vida material outrora inimaginável, mas, depois de um certo nível, o aumento de felicidade não seguiu o mesmo ritmo do aumento da riqueza. Usada com sabedoria, a tecnologia pode ajudar a aliviar a crescente pressão sobre a biosfera, mas provavelmente não será capaz de criar uma civilização sustentável até que o número de seres humanos decline. O objetivo deve ser o de atingir um menor número de pessoas ao longo do tempo buscando a equidade na distribuição da riqueza, melhor educação e oportunidades econômicas para as mulheres, e outras políticas de “aterrissagem suave”.
Fonte – Amália Safatle, Página 22 de 02 de fevereiro de 2016
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