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Crise Ambiental. Porque amanhã é sempre tarde demais.

Crise Ambiental | Porque amanhã é sempre tarde demaisImagem: Trás-os-Montes / Mirandela / Rio Tua – Pedrada no charco; Imagem: Manuela Araújo (fotografia; 10/2014)

Manuela Araújo, gestora do Parque da Devesa e ativista das questões ambientais, debruça-se sobre a crise ambiental a que o homem e o planeta Terra chegaram neste início do Século XXI.

Quando nos deparamos com a dimensão da crise ambiental (e social (…)), a nossa primeira reação é negar, agir como se ela não existisse. É nesse estado de negação que se encontra ainda a grande maioria da população. (…) Acabaremos mais tarde por perceber (…) que nos resta fazer a parte que nos cabe, esperando que possamos contagiar aqueles que nos rodeiam a fazer a parte deles.

Estamos a viver a maior crise ambiental da história desta civilização. Nunca como agora a humanidade enfrentou desafios tão grandes. A escassez de recursos, as alterações climáticas, a perda de biodiversidade e as desigualdades, colocam-nos num ponto em que grandes remédios já não chegam para grandes males. Vamos precisar também dos pequenos remédios, de todos eles.

A população aumenta, os recursos escasseiam

Hoje o nosso planeta sofre, agudamente, com o excesso de recursos que a espécie humana utiliza. Por um lado, o crescimento exponencial da população, que duplicou nos últimos 45 anos (de 3,7 mil milhões em 1970 para 7,6 mil milhões atualmente); por outro lado, o gigantesco consumo de recursos provocado por uma sociedade que usa e deita fora, que valoriza o ter em detrimento do ser e que dá primazia a uma economia sem ética, obsoleta, que depende do consumo e do crescimento; por último, um planeta que é finito. Tudo isto junto, e estamos numa crise sem precedentes na história da humanidade. Consomem-se mais 50% de recursos do que a Terra consegue regenerar, a pegada ecológica dos países ditos “desenvolvidos” é muitas vezes superior ao sustentável. Precisaríamos de muitos planetas Terra para continuar neste ritmo; mas há só um. Acrescentemos a isto ainda as alterações climáticas, e estamos num caldeirão explosivo.

As alterações climáticas já aí estão

O dióxido de carbono (CO2) é um gás que faz parte da composição da atmosfera. É essencial à vida, e a sua capacidade para provocar o efeito de estufa permitiu o desenvolvimento das sociedades humanas. Desde que a agricultura apareceu e as civilizações humanas se começaram a desenvolver, há cerca de 10 a 12 mil anos, e até à era pré-industrial (1750), a concentração de CO2 na atmosfera manteve-se abaixo das 200 ppm (partes por milhão); a partir daí, a queima do carvão e do petróleo e seus derivados, motivaram a revolução industrial e também o aumento da concentração de CO2 na atmosfera. Hoje ultrapassamos as 400 ppm e a atmosfera e o oceano estão mais quentes. Não faltaram avisos dos cientistas nas últimas três décadas sobre o efeito das emissões de CO2 no aquecimento global e nas alterações climáticas; mas a tal primazia da economia ensurdeceu políticos e populações. Hoje sentimos na pele e no nosso território as alterações climáticas: a seca, os incêndios devastadores; noutros lados, furacões mais intensos do que nunca e chuvas torrencialmente destruidoras.

A sexta extinção em massa

A sexta extinção em massa já começou, e foi a espécie humana, com os seus impactos territoriais e ambientais, que a causou. A desflorestação e a perda de biodiversidade são alarmantes. Os cientistas estimam que atualmente se extingam entre 11 mil e 58 mil espécies por ano. Só em animais vertebrados terrestres, extinguiram-se pelo menos 27600 espécies desde o início do século 20. Desde 1990, foram destruídos 129 milhões de hectares de floresta (o que corresponde a 14 vezes a área de Portugal), transformando-a em produção de monoculturas de alimentos para gado, produção de biocombustíveis, extração mineira (Amazónia), para a indústria alimentar (óleo de palma na Indonésia), ou mesmo para a extração de petróleo (areias betuminosas no Canadá). Para além dos impactos negativos na biodiversidade e nas populações locais, a desflorestação implica a redução drástica de absorção de CO2 e tem impactos diretos e indiretos no clima. O planeta sofre, mas o planeta vai sobreviver, com mais ou menos espécies; o mesmo não se pode dizer desta civilização e da espécie humana.

Penacova: Mondego – teia de aranha; Imagem: Manuela Araújo (fotografia; 11/2016)

As desigualdades a aumentar

Na era da globalização, as disparidades no estilo de vida humana são também sintoma de uma sociedade global profundamente em crise. As comunidades não vivem desligadas do ambiente que as rodeia e são afetadas pelo ambiente global, como vemos no caso das alterações climáticas. Enquanto que uma pequena parte da população, ligada ao mundo corporativo, acumula cada vez mais riqueza, a maioria, sobretudo dos países do hemisfério sul, é despojada de suas terras e vive em condições de miséria. Parece inadmissível, mas 1% da população global detém a mesma riqueza que os 99% restantes; aliás, os oito (apenas 8) homens mais ricos do mundo têm tanta riqueza como metade da população mundial. A escassez de recursos das populações mais desfavorecidas espoleta, inevitavelmente, conflitos, e a situação agrava-se. Nunca houve tantos refugiados como nos últimos anos.

Enfrentar a crise

Quando nos deparamos com a dimensão da crise ambiental (e social, pois estão e estarão sempre ligadas), a nossa primeira reação é negar, agir como se ela não existisse. É nesse estado de negação que se encontra ainda a grande maioria da população. Depois, quando paramos de negar e aceitamos os factos e as evidências, ficamos pessimistas, desanimados, revoltados ou mesmo desesperados. Acabaremos mais tarde por perceber que o pessimismo e o desespero não resolvem nada, que nos resta fazer a parte que nos cabe, esperando que possamos contagiar aqueles que nos rodeiam a fazer a parte deles.

Hoje é já muito tarde. Mas amanhã será ainda mais tarde. Talvez estejamos no ponto de não retorno. Ou talvez possa haver algo a fazer, talvez consigamos viver de forma mais sustentável e em harmonia com a natureza. Devemos a esperança às gerações futuras, aos nossos filhos (ou dos nossos amigos), netos e bisnetos; precisamos de fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para lhes deixar um planeta onde possam viver e ser felizes. Não chega esperar que os políticos ou os poderosos façam alguma coisa. Sim, é necessário que eles se empenhem. Mas não chega, temos de lhes exigir, e temos de dar o exemplo. Todos e cada um!

V. N. de Famalicão: Lemenhe – Crepúsculo; Imagem: Manuela Araújo (fotografia; set/2014)

Como disse Edmund Burk: “Ninguém cometeu maior erro que aquele que não fez nada, só porque podia fazer muito pouco”.

Fonte – Jornal Vila Nova de 10 de novembro de 2017

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