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Crise demográfica pode levar a crise econômica na China
Por Nik Martin – DW – 23 de janeiro de 2023 – Foto: md/lf (EFE, AFP, AP, DPA, Reuters) – País registrou primeiro declínio populacional em 60 anos, e taxa de natalidade deve cair mais na próxima década. Redução da mão de obra terá reflexos na manufatura e pressiona Pequim a aumentar produtividade da economia.
A China registrou seu primeiro declínio populacional em 60 anos.
Com a expectativa de que a taxa de natalidade caia ainda mais na próxima década, a tendência é de que o legado da política de filho único, implementada no final da década de 1970 e revogada há seis anos, seja um significativo retrocesso econômico para o país.
O governo chinês divulgou que no ano passado a população de cerca de 1,4 bilhão de pessoas diminuiu pela primeira vez desde a Grande Fome em 1961.
A diminuição populacional em cerca de 850 mil pessoas ocorreu uma década antes da previsão de Pequim e das Nações Unidas e é resultado de um milhão de nascimentos a menos e um número elevado de mortes – que alguns observadores especializados em China atribuem à pandemia de covid-19.
A política de filho único – frequentemente implementada de forma brutal por meio de abortos forçados e esterilização – teve amplas ramificações para a sociedade chinesa.
Nasciam mais meninos do que meninas, devido a uma sociedade na qual os homens tinham maior probabilidade de conseguir um trabalho com segurança empregatícia.
E a falta de filhos exacerbou o envelhecimento da população.
Quando o governo mudou de rumo em 2016 e decidiu permitir até três filhos por casal, a taxa de natalidade já vinha caindo drasticamente há anos.
Na virada do século, nasciam 14,03 crianças por mil habitantes e, no ano passado, o número era de apenas 6,77.
Apesar de Pequim encorajar os casais a terem mais filhos por meio de isenções fiscais e subsídios, muitas pessoas seguem desestimuladas devido ao aumento do custo de vida.
Além disso, há um choque cultural entre os valores tradicionais e modernos, no qual a sociedade chinesa espera que as mulheres cuidem das crianças e dos idosos sem negligenciar suas carreiras profissionais.
População pode encolher 40%
A expectativa é de que a bomba-relógio demográfica da China tenha consequências de longo alcance.
As Nações Unidas estimam que a população da China pode cair para menos de 800 milhões de habitantes até o final do século.
Alguns especialistas acreditam que a China pode enfrentar um destino similar ao do Japão, cuja economia sofreu com anos de baixo crescimento como resultado da queda da taxa de natalidade e do envelhecimento populacional.
A China pode até ter dificuldades para ultrapassar os EUA e se tornar a maior economia do mundo, alertou Yi Fuxian, demógrafo e especialista em tendências da população chinesa da Universidade de Wisconsin.
“As perspectivas demográficas e econômicas da China são muito mais sombrias do que o esperado”, disse.
“A China terá que ajustar suas políticas social, econômica, de defesa e de relações exteriores.”
O crescimento econômico da China ainda é dominado pela manufatura.
Nos últimos 20 anos, a oferta aparentemente infinita de mão de obra barata do país ajudou a reduzir o custo de produtos de consumo, incluindo computadores, smartphones, móveis, roupas e brinquedos.
Mas o outrora polo de produção de baixo custo tem sofrido cada vez mais concorrência de outras nações asiáticas como Índia, Vietnã, Indonésia e Bangladesh.
Com o tempo, a escassez de trabalhadores mais jovens e produtivos tornará a manufatura na China ainda menos competitiva.
Na virada do século, nasciam 14,03 crianças por mil habitantes e, no ano passado, o número era de apenas 6,77 na China Foto: Wang Zhao/AFP/Getty Images
Aumento necessário de produtividade
“Para resolver esse problema, a China precisa aumentar a produtividade da força laboral, passando de uma economia de trabalho intensivo para uma de inovação e crescimento impulsionado pela tecnologia”, disse Xiaobing Wang, diretor de pesquisa do Manchester China Institute, em entrevista à DW.
“Caso contrário, a China cairá na armadilha da renda média.”
A chamada armadilha da renda média é uma situação de desenvolvimento econômico na qual países emergentes ou recém-industrializados, como Brasil e África do Sul, não conseguem capitalizar seu surto inicial de crescimento e a crescente riqueza da população é reduzida.
Em termos genéricos, é quando um país perde sua competitividade na exportação de bens manufaturados por causa do aumento dos salários.
A China foi declarada uma nação de renda média alta em 2010 e, dentro de um ou dois anos, pode vir a se tornar um país de renda alta.
O banco de investimentos Goldman Sachs divulgou no mês passado um relatório no qual afirmou que o Produto Interno Bruto (PIB) da China deve ultrapassar o dos EUA até 2035, muito antes da previsão anterior de 2050.
Primeiro, porém, reformas maciças nas instituições públicas, no sistema educacional e na cultura empresarial na China são imprescindíveis para evitar um crescimento econômico baixo – na última década, a média foi de 6,19% ao ano.
Pequim consegue reorientar para um novo curso?
Mas esse tipo de mudança sísmica será difícil para uma liderança acostumada a um governo autoritário, conforme foi testemunhado durante a pandemia.
A política de zero tolerância contra a covid-19 do governo forçou regras draconianas de quarentenas por quase três anos para tentar manter o coronavírus sob controle – sem sucesso.
Muitos observadores da China não creem que os líderes chineses estejam dispostos a adotar políticas mais liberais.
“Você tem que encorajar a inovação, encorajar as pessoas a pensar de forma diferente… E permitir que acumulem novas aptidões para que possam contribuir para esta economia em crescimento. Você também deve ter uma proteção muito boa dos direitos de propriedade intelectual. A China está melhorando nessas frentes, mas ainda não estão fazendo o suficiente”, disse Wang.
A produção de baixo custo na China tem sofrido cada vez mais concorrência de Índia, Vietnã, Indonésia e Bangladesh Foto: Wu Changwei/Xinhua/picture alliance
O demógrafo Yi afirmou acreditar que a população da China começou a diminuir quatro anos antes do admitido por Pequim e disse que a população chinesa já caiu para 1,28 bilhão de pessoas.
Outros economistas, no entanto, acreditam que as preocupações com a queda da taxa de natalidade na China são exageradas.
Segundo eles, a China ainda tem uma imensa população em idade ativa e uma idade regulamentada para a aposentadoria de 60 anos para homens e 50 ou 55 para mulheres.
“A idade de aposentadoria na China ainda é relativamente baixa”, disse Doris Fischer, presidente do departamento de Negócios e Economia da China da Universidade de Würzburg, na Alemanha.
“Assim, eles podem aliviar a pressão [sobre o mercado de trabalho] aumentando a idade de aposentadoria”, explicou em entrevista à DW.
O sistema previdenciário da China não é tão generoso quanto o do Ocidente, portanto é menos provável que o governo seja sobrecarregado por uma população que envelhece rapidamente, já que a maioria das pessoas garante sua própria aposentadoria – a principal explicação para a alta taxa de poupança na China.
Incentivos financeiros não funcionaram
Os líderes da China ofereceram benefícios fiscais, licença maternidade mais longa e subsídios de moradia para encorajar as pessoas a terem mais filhos.
E o presidente chinês, Xi Jinping, disse em outubro que o governo planeja adotar outras políticas de apoio.
As medidas, no entanto, até agora tiveram pouco impacto na tentativa de interromper a tendência de longo prazo de queda populacional.
Os pais chineses reclamam de esgotamento devido a empregos estressantes com longas horas de trabalho – apelidado de 996, pois muitas pessoas trabalham das 9h às 21h, geralmente seis dias por semana.
A pressão para garantir que as crianças recebam uma boa educação também é enorme e cara, especialmente quando os custos de aulas particulares e atividades extracurriculares são contabilizados.
E o ônus da criação dos filhos e dos cuidados com os idosos ainda recai majoritariamente sobre as mulheres chinesas, que cada vez mais estão se posicionando contra essa cultura.
“É uma avaliação muito realista quando as mulheres dizem ‘não conheci um homem que me apoie nesta tarefa de combinar o trabalho com o cuidado de crianças ou idosos e, portanto, simplesmente não vou me casar'”, disse Fischer, que acrescentou que o governo deve melhorar a prestação de cuidados infantis para os pais que trabalham.
Um outro fenômeno crescente na sociedade chinesa não é bom presságio para o declínio populacional do país.
Muitos jovens chineses desprivilegiados têm rejeitado a dedicação total ao trabalho e a busca por uma carreira exitosa, preferindo uma vida simples a ter filhos e comprar sua própria casa.
“Se o governo chinês pode ou não enfrentar com sucesso todos esses desafios é a chave para o crescimento da próxima década”, concluiu Wang.
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