Por Jean Silva* - Jornal da USP - 1 de novembro de 2024 - Tucuruvi,…
Degelo da Groenlândia está mudando o eixo de rotação da Terra
FOTO: CREATIVE COMMONS / LURENS)
Segundo cientistas da NASA, a perda da massa de gelo na Groenlândia é um dos fatores responsáveis pela mudança no eixo da Terra
Nosso planeta não é uma esfera perfeita. A singularidade de cada canto da Terra, com mares, continentes, montanhas e geleiras forma um “péssimo” modelo de bola. Essa agradável inconsistência tem efeitos até em seu eixo de rotação.
Quando ela gira, essa linha imaginária que passa pelos pólos norte e sul oscila bastante. Medições do que os cientistas chamam de “movimento polar” ao longo do século 20 mostram que o eixo de rotação se desloca cerca de 10 centímetros por ano. Ao longo de um século, esse índice é de mais de 10 metros.
Utilizando dados observacionais e baseados em modelos que abrangem todo o século passado, os cientistas da NASA identificaram pela primeira vez os três processos responsáveis por essa deriva – a perda de massa na Groenlândia, o rebote glacial e a convecção do manto da Terra.
“Montamos modelos para um conjunto de processos que são considerados importantes para impulsionar o movimento do eixo de rotação. Identificamos não um, mas três conjuntos de processos que são cruciais – e o derretimento da criosfera global (especialmente Groelândia) sobre o curso do século 20 é um deles “, disse Surendra Adhikari, da NASA. Laboratório de Propulsão a Jato em Pasadena, Califórnia.
A direção observada do movimento polar, mostrada como uma linha azul clara, comparada com a soma (linha rosa) da influência da perda de gelo da Groenlândia (azul), rebote glacial (amarelo) e convecção do manto profundo (vermelho). A contribuição da convecção do manto é altamente incerta. Crédito: (Foto: NASA / JPL-CALTECH)
Em geral, a redistribuição da massa dentro da Terra – como as mudanças na superfície terrestre, nos lençóis de gelo, nos oceanos e no manto – afeta a rotação do planeta. Como as temperaturas aumentaram ao longo do século 20, a massa de gelo da Groenlândia diminuiu.
Um total de 7,5 mil gigatoneladas – o peso de mais de 20 milhões Empire State Buildings – do gelo da Groenlândia derreteu no oceano durante este período de tempo. Isso faz da Groenlândia um dos maiores contribuintes de massa sendo transferido para os oceanos, fazendo com que o nível do mar suba e, conseqüentemente, um desvio no eixo de rotação da Terra.
Enquanto o derretimento do gelo está ocorrendo em outros lugares (como a Antártida), a localização da Groenlândia faz dele um contribuinte mais significativo para o movimento polar.
“Há um efeito geométrico de que se você tiver uma massa a 45 graus do Pólo Norte – que é a Groenlândia – ou do Pólo Sul (como as geleiras da Patagônia), terá um impacto maior na mudança do eixo de rotação da Terra do que uma massa que fica bem perto do Pólo “, disse o coautor Eric Ivins, também do JPL.
Estudos anteriores haviam identificado a recuperação glacial como o principal contribuinte para o movimento polar de longo prazo. Durante a última era glacial, pesadas geleiras deprimiram a superfície da Terra, como um colchão deprime quando você se senta nele. Quando o gelo derrete ou é removido, a terra sobe lentamente de volta à sua posição original. No novo estudo, que contou fortemente com uma análise estatística de tal rebote, os cientistas descobriram que esse movimento provavelmente foi responsável por apenas cerca de um terço da deriva polar no século XX.
Derretimento do gelo no Ártico (Foto: WIKIMEDIA COMMONS)
Os autores argumentam que a convecção do manto, que é responsável pelo movimento das placas tectônicas na superfície da Terra, constitui o terço final. É basicamente a circulação de material no manto causado pelo calor do núcleo da Terra. Ivins descreve como uma panela de sopa colocada no fogão. À medida que a panela, ou manto, aquece, os pedaços da sopa começam a subir e descer, formando essencialmente um padrão de circulação vertical – exatamente como as rochas que se movem pelo manto da Terra.
Com esses três amplos responsáveis identificados, os cientistas podem distinguir mudanças de massa e movimentos polares causados por processos terrestres de longo prazo, sobre os quais temos pouco controle, com os causados pela mudança climática. Eles agora sabem que, se a perda de gelo da Groenlândia se acelerar, o movimento polar provavelmente também.
Fonte – Galileu de 20 de setembro de 2018
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