Por Sérgio Teixeira Jr. - ReSet - 12 de novembro de 2024 - Decisão adotada no…
Derretimento acelera, e Antártida perde 2,7 trilhões de toneladas de gelo em 25 anos
A Antártida está assistindo a um derretimento acelerado. Segundo imagens de satélites que monitoram o continente gelado, ele está perdendo 200 bilhões de toneladas de gelo por ano.
O efeito imediato desse derretimento para o meio ambiente é o aumento global do nível do mar em aproximadamente 0,6 milímetros anuais – um número três vezes maior se comparado com os dados de 2012, quando a última avaliação foi feita.
Cientistas fizeram um levantamento da massa do manto de gelo antártico no período de 1992 a 2017 e divulgaram novos números na publicação acadêmica Nature.
As informações divulgadas, bem como a tendência de aceleração do derretimento, terão de ser levadas em consideração pelos governos à medida que planejam futuras medidas para proteger as comunidades costeiras de áreas de baixa altitude.
Os pesquisadores responsáveis pelo levantamento afirmam que a redução da camada de gelo está acontecendo principalmente no oeste do continente, onde águas sob temperaturas mais elevadas estão submergindo e derretendo as frentes de geleiras que terminam no oceano.
“Não podemos dizer quando isso começou – não coletávamos medições no mar naquela época”, explicou o professor Andrew Shepherd, que lidera a Pesquisa de Comparação do Balanço da Massa de Gelo (Imbie, na sigla em inglês)
“Mas podemos afirmar que hoje está quente demais para a Antártida. Está cerca de meio grau Celsius acima do que o continente suporta. Sua base está derretendo cerca de cinco metros a cada ano, e é isso que está provocando o acréscimo ao nível do mar que estamos vendo”, disse ele à BBC News.
O levantamento indicou que, no total, a Antártida perdeu cerca de 2,7 trilhões de toneladas de gelo entre 1992 e 2017, o que corresponde a um aumento no nível global do mar de mais de 7,5mm.
Ajuda que vem de cima
Satélites de agências espaciais têm sobrevoado a Antártida desde os anos 1990. A Europa, em especial, observa a região há mais tempo, desde 1992.
Essas espaçonaves são capazes de capturar o derretimento medindo as mudanças na altura da camada de gelo e a velocidade com que ela se move em direção ao mar.
Missões específicas conseguem calcular, por exemplo, o peso do manto de gelo ao detectar mudanças na força da gravidade.
O trabalho da equipe liderada por Shepherd é organizar todas essas informações coletadas para explicar o que está acontecendo no continente gelado.
Glaciologistas que estudam a Antártida normalmente consideram três regiões distintas, pois elas se comportam de maneira ligeiramente diferente uma da outra.
Na Antártida Ocidental, dominada por geleiras de terminação marinha, as perdas estimadas subiram de 53 bilhões para 159 bilhões de toneladas por ano durante todo o período de 1992 a 2017.
Na Península Antártica, o território em forma de “dedo” que aponta para a América do Sul, as perdas subiram de 7 bilhões para 33 bilhões de toneladas anuais.
Segundo os cientistas, isso aconteceu, em grande parte, porque as plataformas flutuantes de gelo desmoronaram, permitindo que as geleiras que ficavam atrás derretessem mais rápido.
O lado leste do continente é a única região onde há registro de crescimento da camada de gelo. Grande parte dessa região está fora do oceano e acumula neve ao longo do tempo. Por isso, não está sujeita aos mesmos níveis de perda de gelo detectado em outras partes do continente.
No entanto, os ganhos, mensurados em aproximadamente 5 bilhões de toneladas por ano, são considerados muito pequenos se comparados com as perdas.
Os cientistas responsáveis pelo estudo salientam que esse crescimento identificado no lado leste da Antártida não compensa o que está acontecendo a oeste nem na Península do continente.
Acredita-se ser provável que um grande volume de neve tenha sido acumulado no leste da Antártida pouco antes da última avaliação, em 2012, e isso fez com que a situação do continente parecesse menos negativa do que a realidade.
Globalmente, os níveis do mar estão subindo cerca de 3 milímetros ao ano. Além da perda de gelo na Antártida, esse aumento é impulsionado por vários fatores, incluindo a expansão dos próprios oceanos quando eles aquecem.
Mas o que ficou claro na última avaliação dos pesquisadores é que a Antártida está se tornando um dos principais responsáveis por essa elevação.
“O aumento de três vezes coloca a Antártida no cenário como um dos maiores responsáveis para o aumento do nível do mar. A última vez que a gente observou o gelo polar, a Groelândia era a que mais contribuía”, disse Shepherd, que é afiliado à Universidade de Leeds, no Reino Unido.
Reação
A última edição da revista acadêmica Nature traz uma série de estudos que avaliam o estado do continente gelado e como ele pode impactar nas mudanças climáticas.
Um dos artigos, que trata de uma pesquisa liderada por americanos e alemães, avalia a possível reação do leito rochoso à medida que a grande massa de gelo acima dele se afina.
Na avaliação dos cientistas, o leito rochoso deveria subir – algo que os cientistas chamam de reajuste isostático.
Novas evidências sugerem que houve restrição nas perdas de gelo onde esse processo ocorreu no passado. À medida que o leito rochoso sobe, ele se depara com frentes flutuantes das geleiras de terminação marinha.
“É como apertar os freios em uma moto”, disse Pippa Whitehouse, da Universidade de Durham.
“Atrito na base do gelo, que estava flutuando, mas afundou novamente, retarda tudo e muda todo o fluxo dinâmico. Acreditamos que o rebote (no futuro) será rápido, mas não rápido o suficiente para parar a perda iniciada com o aquecimento”, completou.
Na última avaliação dos pesquisadores da Imbie, a participação da Antártida no aumento dos níveis globais do mar foi considerada a partir do rastreamento de projeções do extremo inferior dos oceanos e de simulações computacionais que analisaram a possível altura do oceano no final do século.
A nova avaliação acompanha o limite superior dos oceanos nessas projeções.
“No momento, temos projeções até (o ano) 2100. A elevação do nível do mar que veremos é de 50/60 cm”, disse Whitehouse à BBC News.
“E isso não vai impactar somente as pessoas que vivem perto da costa. O tempo de repetição de grandes tempestades e enchentes será acentuado.”
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