Por Pedro A. Duarte - Agência FAPESP - 12 de novembro de 2024 - Publicado…
Desmatamento da Amazônia deve causar mais secas às regiões Centro-Oeste, Sul e Sudeste
Por FolhaPress – 14 de junho de 2021 – Umidade produzida na floresta é que leva chuvas às regiões Centro-Oeste, Sul e Sudeste. (Foto: Fernando Donasci/Folhapress)
A seca histórica que fez a conta de luz aumentar é apenas uma amostra do que pode ocorrer se o desmatamento da Amazônia seguir aumentando e as emissões de gases do efeito estufa não forem controladas.
A umidade produzida na floresta leva chuvas às regiões Centro-Oeste, Sul e Sudeste.
E, com o aquecimento global, a tendência é que o planeta fique mais quente e seco.
A falta de chuva tem efeitos diretos e indiretos no bolso do consumidor.
Como a geração de energia no Brasil é feita na maioria por hidrelétricas, e a energia é usada para fabricar várias coisas, a alta na conta de luz afeta o preço de vários produtos que a gente consome.
A produção de comida também deve sofrer, já que depende de chuva ou irrigação. Além de tudo isso, pode faltar água para beber, cozinhar e tomar banho.
Dá para dizer que o desmatamento é a causa da seca?
José Marengo, climatologista e coordenador-geral de pesquisa e desenvolvimento do Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais), órgão ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações, afirma que a Amazônia é uma fonte de umidade importante para as regiões Centro-Oeste, Sul e Sudeste.
Apesar dessa relação e do aumento do desmatamento da Amazônia, ele declara que ainda não é possível dizer, com comprovação científica, que a seca de agora esteja diretamente relacionada à destruição da floresta.
Segundo ele, a principal causa para a crise hídrica é o fenômeno La Niña, que provoca a diminuição da temperatura do Oceano Pacífico e, consequentemente, mudanças nos ventos e nos regimes de chuva.
“Durante o verão choveu muito na Amazônia, o que está produzindo as enchentes agora.
Mas, quando chove em algum lugar, por compensação, não chove em outro.
O La Niña iniciou esse processo, isso se propagou e continua até o momento’, diz José Merengo.
Mas isso não significa que não haverá impactos.
Com o avanço do desmatamento, a tendência é de que períodos secos como o de agora se tornem cada vez mais frequentes.
Paulo Barreto, pesquisador associado do Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia), uma Oscip (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público), afirma que já há evidências de que o desmatamento está diminuindo a quantidade de chuvas na própria Amazônia.
“Isso tudo acaba se combinando com condições das outras regiões do país.
No Sul e no Sudeste, já houve muito desmatamento.
A vegetação é uma espécie de esponja, que ajuda a água a entrar no solo. Sem ela, o solo fica mais compactado e há menos capacidade de estoque de água”, diz o pesquisador.
Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima, uma rede de organizações da sociedade civil (como o Greenpeace e a WWF), ressalta que a relação entre a Amazônia e as chuvas em outras regiões do país é comprovada.
“Estamos mexendo em um fator essencial dessa equação [a Amazônia], e isso terá consequências.”
Combinação com aquecimento global
Para agravar o processo, a destruição da floresta contribui com o aquecimento global por causa da emissão de carbono.
Na seca de agora, o governo vai acionar usinas térmicas para garantir o fornecimento de energia, o que também aumenta a poluição.
Segundo Marengo, tudo isso vai se refletir no futuro.
“É um processo complexo e de longo prazo. O que acontece na Amazônia vai ser sentido gradualmente no futuro. Essa seca é uma amostra do que pode acontecer se a floresta for desmatada e o planeta continuar se aquecendo.”
Ministério do Meio Ambiente não comenta
Procuramos o Ministério do Meio Ambiente, pedindo um posicionamento sobre o aumento do desmatamento e sua relação com a seca, mas não obteve resposta até a publicação deste texto.
“Rios voadores” levam umidade da Amazônia
A umidade produzida na floresta é distribuída para outras regiões do país pelo fenômeno chamado de “rios voadores”.
O processo começa quando ventos vindos do Oceano Atlântico, os chamados ventos alísios, chegam à Amazônia.
Na floresta, o ar é abastecido com ainda mais umidade.
Depois, os ventos seguem seu caminho, mas acabam barrados pela Cordilheira dos Andes.
Nessa etapa, parte da umidade vira chuva, abastecendo os rios da própria Amazônia; e outra parcela acaba retornando a outros pontos do Brasil, podendo virar chuva.
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