Por Ana Flávia Pilar - O Globo - 11 de novembro de 2024 - Com modelo…
Desmatamento nas bacias hidrográficas da Mata Atlântica pode agravar crise hídrica no Brasil
Portal Ambiente Legal – 9 de setembro de 2021 – Represa do Jaguari, em Joanópolis (SP), faz parte do Sistema Cantareira. (foto Ismael Rocha)
- 35 das 47 bacias hidrográficas das Unidades de Gerenciamento de Recursos Hídricos da Mata Atlântica sofreram desmatamento entre os anos de 2019 e 2020
- Dez delas concentram 80% do desmatamento total das bacias do bioma em Estados como Minas Gerais, Paraná, São Paulo e Bahia
- Divulgação dos dados ocorre no momento em que Brasil vive pior crise hídrica dos últimos cem anos na Região Sudeste
O desmatamento da Mata Atlântica vem atingindo também as principais bacias hidrográficas que compõem o bioma.
Das 47 localizadas em Unidades de Gerenciamento de Recursos Hídricos (UGRHs), 35 tiveram desflorestamentos em suas áreas entre 2019 e 2020 – sendo que dez delas concentram 80% do desmatamento total nas bacias.
Os dados são do Atlas da Mata Atlântica, estudo realizado pela Fundação SOS Mata Atlântica em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, unidade vinculada ao Ministério de Ciência Tecnologia e Inovação (INPE/MCTI).
Bacias hidrográficas compreendem o território de drenagem de rios e nascentes que fluem para o rio principal, que é alimentado por seus afluentes e subafluentes.
A gestão integrada do solo, das florestas e da água no território da bacia hidrográfica é estratégica para a segurança hídrica.
O Atlas revela que as bacias que concentram o desmatamento no período estão entre as mais importantes do bioma Mata Atlântica.
De acordo com o ranking, as bacias dos rios São Francisco, Jequitinhonha, Pardo, Iguaçu, Doce, Paraguai, Paraná, Uruguai, Paranapanema e as Bacias Litorâneas Estaduais da Bahia são as mais afetadas (ver tabela abaixo).
Se o Sul e o Sudeste do Brasil já vivem a pior crise hídrica dos últimos 100 anos, esse cenário pode deixar o país em situação ainda mais crítica no que diz respeito ao abastecimento, à geração de energia e à irrigação para a produção de alimentos.
“O relatório que acaba de ser divulgado pelo Painel Intergovernamental Sobre Mudanças Climáticas (IPCC) neste mês de agosto deixa claro que a crise climática se tornará cada vez mais grave, com eventos extremos se tornando frequentes, caso nossa sociedade não tome medidas urgentes. O desmatamento crescente nas bacias hidrográficas da Mata Atlântica, no entanto, mostra que não estamos dando atenção aos alertas da ciência e da própria natureza ”, afirma Luis Fernando Guedes Pinto, diretor de Conhecimento da SOS Mata Atlântica.
Luis Fernando explica ainda que, mais do que acabar com o desmatamento, a restauração das florestas é essencial para tentarmos evitar um cenário de catástrofe.
“O reflorestamento é fundamental para nos garantir alimentos, água, energia, comida e, claro, reduzir os efeitos das mudanças climáticas. E a restauração da Mata Atlântica, especificamente – que concentra 70% da população do Brasil e responde por 80% da nossa economia – geraria benefícios não só para a população e a economia nacionais, mas também para o planeta e a humanidade como um todo”, completa.
As bacias atingidas estão localizadas nas regiões Sul, Sudeste, Nordeste e Centro-Oeste, e estão em estados como São Paulo, Paraná, Minas Gerais, Bahia, Goiás, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Distrito Federal.
“A segurança hídrica depende de soluções baseadas na natureza, especialmente nesta década da Restauração dos Ecossistemas, instituída pela ONU para que países e sociedade se unam no esforço conjunto de recuperar as florestas.
E a Mata Atlântica é essencial para garantir os serviços ambientais de mantenedora do ciclo hidrológico”, alerta Malu Ribeiro, diretora de Políticas Públicas da SOS Mata Atlântica. “Sem a mata, as nascentes são impactadas, não há recarga de aquíferos e os rios e reservatórios ficam ameaçados por eventos climáticos como secas e cheias.
O desmatamento impacta o solo e provoca erosão, o assoreamento nos rios e enchentes”, conclui.
O Brasil possui 15% do total da água doce existente em todo o mundo.
Ao todo, são 12 bacias hidrográficas, distribuídas em todo o território, com quatro redes principais:
Amazônica, Tocantins-Araguaia, Platina (do rio da Prata, formada pela bacia do Paraná, bacia do Paraguai e bacia do Uruguai) e do rio São Francisco.
Reunidas, as quatro cobrem cerca de 80% do território nacional.
Id Bacia | Nome UGRH | Decremento de mata (3ha) 2019-2020 |
27 | São Francisco | 2.037 |
20 | Jequitinhonha | 1.734 |
23 | Pardo | 1.344 |
4 | Iguaçu | 1.183 |
54 | Bacias Litorâneas Estaduais da BA | 1.079 |
16 | Doce | 988 |
14 | Paraguai | 768 |
7 | Paraná | 753 |
2 | Uruguai | 525 |
8 | Paranapanema | 410 |
Fonte: Fundação SOS Mata Atlântica
Publicação Ambiente Legal, 09/09/2021
Edição: Ana A. Alencar
Este Post tem 0 Comentários