Por Jean Silva* - Jornal da USP - 1 de novembro de 2024 - Tucuruvi,…
Desmatamento no Cerrado foi maior do que o da Amazônia em 15 anos
O Cerrado perdeu 236 mil quilômetros quadrados de mata entre 2000 e 2015. No mesmo período, a Amazônia perdeu 208 mil km2 – bioma duas vezes maior. Esse desmatamento no Cerrado gerou a emissão de 8,16 milhões de toneladas de CO2, o principal gás do efeito estufa. O volume equivale a 3,6 anos da emissão total do Brasil registrada em 2016.
A ocupação desordenada do segundo maior bioma do Brasil tem consequências para o próprio setor do agronegócio. Entre 2014 e 2015, mais de 4 mil quilômetros quadrados das plantações realizadas ali estavam localizados em áreas que não são aptas para a produção agrícola, com padrões irregulares de chuva, por exemplo.
Os dados, divulgados hoje pelo IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) na 23ª Conferência do Clima, em Bonn (Alemanha), em evento no Espaço Brasil, mostram como a expansão da agropecuária no bioma tem sido feita sem planejamento territorial adequado, colocando em risco a viabilidade do negócio e a conservação da natureza.
O Cerrado cobre 24% do território brasileiro e engloba oito das 12 bacias hidrográficas do país. Metade dele já foi derrubada e a área pode aumentar rapidamente: no Matopiba, área compreendida entre Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, a agricultura tem avançado sobre áreas onde antes havia vegetação natural, quando o padrão era ocupar terras já desmatadas, onde antes havia pasto.
“Cerca de 30 milhões de hectares do Cerrado já estão desmatados, sem uso ou com modelos ineficientes de produção. Trabalhar bem essas áreas deve ser prioridade da decisão sobre a expansão da agropecuária nesse bioma”, afirma o pesquisador do IPAM, Tiago Reis, principal autor da avaliação. “Planejamento territorial e incentivos para o uso eficiente do solo devem reorientar os investimentos, de forma a gerar benefícios econômicos, sociais e ambientais para o Brasil.”
Debate
Durante o evento de lançamento do estudo, Chris Meyer, gerente sênior de política florestal da organização Environmental Defense Fund, advogou sobre a importância de incluir o setor privado de commodities no debate. “É preciso que se exija o cumprimento da lei, como o Código Florestal, para trazer legalidade ao processo, e então trabalhar para aumentar as exigências de conservação.
Já o pesquisador Arnaldo Carneiro, do INPA (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), chamou a atenção para outro fator que incentiva o desmatamento no Cerrado: a especulação de terras.
“No Matopiba, o que tem estimulado a abertura de novas áreas são grandes investimentos imobiliárias, por vezes com fundos de pensão americanos que funcionam como esponjas, atraindo pessoas para novas fronteiras”, disse. “Isso vai além do diálogo com todo o setor privado e os consumidores.”
Fonte – IPAM de 09 de novembro de 2017
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