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Desperdício de alimentos chega a R$ 1 mil por família por ano, diz Embrapa

ESTADÃO CONTEÚDO – 

A pesquisa mostra que cada família desperdiça, em média, 128 quilos de alimentos por ano

Por pessoa, o desperdício de comida em casa atinge 41 quilos por ano – o equivalente a R$ 323 (Foto: Núcleo Editorial/CCommons)

O desperdício de alimentos de uma família brasileira composta por três pessoas em um ano pode ultrapassar R$ 1.002,00, valor superior ao salário mínimo nacional. Os dados são de estudo liderado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que ouviu 1.764 famílias em todo o País, em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV), em 2018.

A pesquisa mostra que cada família desperdiça, em média, 128 quilos de alimentos por ano. Por pessoa, o desperdício de comida em casa atinge 41 quilos por ano – o equivalente a R$ 323. Os cálculos foram realizados pelo analista Gustavo Porpino, um dos líderes do levantamento, com base nos valores do Instituto de Economia Agrícola (IEA), de São Paulo, em abril de 2019.

Os produtos mais perdidos são arroz – 28,33 kg -, carne, com 25,76 kg, feijão, com 20,60 kg, e frango, com 19,32 kg. O leite completa a lista dos principais alimentos jogados fora, com 5,15 litros anuais. Na avaliação do pesquisador, chama a atenção o fato de a renda não explicar totalmente a diferença entre as famílias que desperdiçam mais ou menos.

Porpino afirma que alguns hábitos esclarecem esse elevado desperdício, próximo ao de nações mais ricas. A compra mensal é um deles, assim como o hábito da “fartura”. “O costume de fazer uma grande compra depois de receber o salário e encher a despensa faz com que as famílias preparem porções muito grandes e não aproveitem as sobras. Esses fatores comportamentais estão associados à valorização da abundância, da preferência por uma comida ‘fresquinha’ e até por haver certo preconceito com sobras de refeição, a ‘comida dormida'”.

Segundo o especialista, planejar melhor as compras e refeições, não adquirir alimentos em excesso e reaproveitar sobras é fundamental para reduzir a quantidade jogada fora. “A cultura do ‘melhor sobrar do que faltar’ também deveria ser mudada”, avalia. Gustavo Porpino ressalta que as famílias brasileiras percebem que o desperdício causa impacto no orçamento, mas a força da cultura é tanta que o hábito de desperdiçar permanece.

Educação

Ele sugere ações educacionais e de comunicação realizadas por parcerias público-privadas para elevar conscientização da população sobre o problema. Recentemente, a Embrapa renovou memorando de entendimento com o WWF Brasil para dar continuidade à iniciativa “Sem Desperdício”, que inclui ações de comunicação para mudança comportamental.

“As estratégias para redução do desperdício podem ser direcionadas ainda para gerar novas oportunidades de negócio e incrementar a disponibilidade de alimentos saudáveis. O Brasil, por exemplo, produz muitas frutas e hortaliças mas, paradoxalmente, o consumo per capita é bem abaixo dos valores recomendados pela Organização Mundial de Saúde e as perdas e o desperdício são muito elevados”, diz.

Segundo Gustavo Porpino, mudar esse quadro demanda ações em diferentes elos da cadeia produtiva. Ele diz que vê no Brasil tecnologias disponíveis e uma geração jovem empreendedora antenada com inovações sociais. “Se houver vontade política, podemos avançar consideravelmente”, estima.

América Latina

Segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU), a América Latina desperdiça, em média, 127 milhões de toneladas de alimentos a cada ano. Em valores, seriam cerca de US$ 97 bilhões. A entidade elencou como um dos objetivos de desenvolvimento sustentável a redução pela metade do desperdício de alimentos até 2030. Para Porpino, os números mostram uma contradição e uma oportunidade de aliar o combate ao desperdício com o fortalecimento da segurança alimentar no Brasil.

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