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Dezoito das 20 nações mais afetadas pelo clima são africanas

Vista aérea da floresta de Garamba no Congo – Finbarr O’Reilly / Reuters

Um novo levantamento comprova a relação entre a pobreza e o aquecimento global. De acordo com estudo da consultoria Verisk Maplecroft, especializada em direitos humanos e questões ambientais, 18 dos 20 países mais vitimados pelas mudanças climáticas são africanos. Na outra ponta do ranking, quatro dos cinco menos afetados são europeus. Entre as 191 nações avaliadas, o Brasil figura na 91ª posição — quanto mais alta é a colocação no índice, menor é a ameaça de ocorrência de eventos extremos.

O Brasil sofre mais risco de mazelas climáticas do que a China (136ª) e os EUA (160º). A queda significativa da pluviosidade, sobretudo na Região Nordeste, contribuiria para que a temperatura média do país aumentasse mais de 2 graus Celsius até 2040.

— Os principais impactos estão relacionados ao aumento da estiagem e à variação do regime de chuvas — conta Richard Hewston, analista de riscos ambientais da Verisk Maplecroft. — A pluviosidade pode ser reduzida em até 40% no Nordeste. Essas mudanças vão repercutir no desempenho de culturas agrícolas, como a soja, o milho e o arroz.

O Centro-Sul do país, por sua vez, deve registrar maior pluviosidade. No entanto, este fenômeno ocorreria de forma irregular.

— Como resultado, a região terá mais inundações e deslizamentos de terra, como vimos no início do ano em São Paulo — lembra. — Como as hidrelétricas são fonte de pelo menos 60% da energia do país, a crescente alteração na ocorrência das chuvas sob as mudanças climáticas tornará o gerenciamento dos níveis de reservatórios mais desafiador.

PREOCUPAÇÃO COM OS EUA

A criação do ranking baseou-se no resultado de 44 questões, incluindo mudanças climáticas, desmatamento, água, riscos naturais e regulação ambiental. Os cientistas que assinam o trabalho temem que a boa posição americana corrobore a rejeição do presidente eleito Donald Trump a políticas para combate ao aquecimento global.

— Existem várias áreas de risco na Costa Leste americana, particularmente na Flórida — sublinha Hewston. — São regiões densamente povoadas e sujeitas a eventos como o furacão Matthew, em outubro, além de ciclones tropicais e surtos de tempestade. A população está em risco. Há a hipótese de que Trump, pensando nos próximos cinco ou dez anos, retire os EUA do Acordo de Paris (tratado internacional que propõe o limite do aquecimento global a 2 graus Celsius). Com isso, vai ignorar como as mudanças climáticas que ocorrerão depois deste período serão custosas.

Para Hewston, o relaxamento das políticas climáticas americanas pode desmotivar outras potências, como Índia e China, a cortar suas emissões de carbono. A Índia ocupa a 72ª posição no ranking elaborado pelo analista — é considerado um país que tem uma “elevada” exposição a danos ambientais.

Os países africanos, mais vulneráveis ao aquecimento global, são marcados por pobreza extrema, baixa qualidade de educação e saúde pública, além de governos corruptos. Estes fatores dificultam o desenvolvimento de projetos eficazes para adaptação ao clima.

— Outro problema considerável é o envolvimento recente ou em andamento desses países em conflito — destaca Hewston. — É o que ocorre em quatro dos cinco países com índices mais extremos de vulnerabilidade ao clima: República Centro-Africana, República Democrática do Congo, Libéria e Sudão do Sul. A guerra e o deslocamento da população dificultam o estabelecimento das estruturas necessárias para que as instituições e a sociedade administrem os impactos do aquecimento global.

Na Conferência do Clima de Marrakesh (COP-22), realizada em novembro, os países desenvolvidos comprometeram-se a destinar US$ 100 bilhões por ano, a partir de 2020, às nações pobres. O Fundo Verde contribuiria para a elaboração de projetos sustentáveis e a adaptação de economias baseadas em combustíveis fósseis. Sua administração é discutida sem sucesso há pelo menos três anos em fóruns internacionais. O ceticismo do governo americano, que seria um dos principais doadores de recursos, pode sacrificar o plano.

— O financiamento para as nações pobres é essencial para evitar que uma quantidade ainda maior de poluentes chegue à atmosfera — enfatiza o analista. — Estes países têm grandes desafios à frente, como a pobreza e a desigualdade, a insegurança alimentar e o precário acesso à água potável e ao saneamento básico.

As cinco nações com melhor desempenho no ranking da Verisk Maplecroft são Dinamarca, Reino Unido, Uruguai, Islândia e Irlanda. Seus governos contam com projetos de monitoramento do impacto das mudanças climáticas. Têm regime político estável, que permite desenvolver investimentos a longos prazo. A população beneficia-se de um bom acesso aos serviços de saúde e educação, além de infraestrutura para transporte e comunicações.

O mapa da vulnerabilidade climática mostra como os países da zona tropical devem ser os primeiros impactados pela elevação da temperatura do planeta. Os continentes menos afetados atualmente são a Europa e a América do Norte. Regiões de clima temperado, como o Sul das Américas (Argentina e Uruguai), também contam com baixo risco de danos ambientais. Na maior parte da Ásia, a ameaça é considerada média.

Fonte – Renato Grandelle, O Globo de 22 de dezembro de 2016

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