Por Renata Fontanetto, dGCIe Baku (Azerbaijão) - Pesquisa FAPESP - Dezembro de 2024 - Foto:…
Do Ceticismo à COP 21
“Aquele que duvida por não conhecer as razões da credibilidade não passa de um ignorante.” Diderot, Pensamentos Filosóficos.
Oriunda do sol, a luz visível é a energia responsável pelo clima em nosso planeta. Enquanto porção da luz é refletida de volta para a atmosfera, a outra porção aquece a
Terra, sendo liberada na forma de calor. Gases de efeito estufa (GEE) na atmosfera absorvem o calor e o mantém próximo à superfície da Terra. Isso mantém a temperatura de 14⁰ C. Sem os gases de efeito estufa, nosso planeta seria mais frio com aproximadamente -19⁰ C. Esse aquecimento natural é responsável pela vida na Terra.
Ocorre que um aumento de emissões de gases de efeito estufa para a atmosfera tem causado maiores retornos de calor enviados de volta à superfície da Terra, aquecendo o planeta. Isso sintetiza o aquecimento global, fenômeno em que cada vez mais inexiste espaço para o ceticismo.
Vários fatores podem influenciar o clima, a camada de ozônio e as correntes oceânicas. Por isso, climatologistas constroem modelos climáticos para identificar os padrões climáticos prováveis no futuro. Devido à incerteza inerente a tais modelos, há naturalmente alguma incerteza envolvendo a ciência do clima.
No Brasil, um claro exemplo de ceticismo apareceu no relatório final do Novo Código Florestal Brasileiro: “Não há consenso, porém, sobre até que ponto as mudanças climáticas recentes decorrem da ação humana ou de processos cujos ciclos podem ser medidos em centenas, milhares ou milhões de anos. (…) Diante do elevado grau de incerteza da maioria das hipóteses [relativas ao aquecimento global] …”
Apesar dos céticos do aquecimento global, cada vez menores, construiu-se nas últimas décadas um crescente consenso científico para a adoção de medidas urgentes para um futuro com reduzido aquecimento planetário.
Inegavelmente, o relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas de 2007 foi decisivo para a adoção de tal consenso, demonstrando como a ciência pode influenciar as mudanças políticas. Esse relatório foi bastante generoso em evidências científicas e contundente em suas conclusões sobre as causas humanas gerando o aquecimento planetário. E uma informação interessante sobre esse relatório de 2007: ali trabalhava-se com a possibilidade de uma média mínima da temperatura global, não aumentando mais que 0.6⁰ C em 2007; na COP 21, a referência utilizada é um aumento de 1.5⁰ Celsius.
Um trocadilho pode expressar a relação entre o aquecimento global e a espécie humana: ao mesmo tempo em que as ações humanas são responsáveis pelo aquecimento global, o aquecimento global representa uma ameaça real aos seres humanos.
Alguns cenários de aquecimento global preveem consequências catastróficas, tais como, o aumento da temperatura do oceano, causando o derretimento de geleiras, o aumento do nível do mar, tempestades tropicais mais intensas, a redução na produção de alimentos, e a alteração das correntes oceânicas. Água potável e populações de peixe também podem ser reduzidas.
Ecossistemas e a produtividade agrícola também podem ser afetados negativamente. A floresta amazônica pode ter redução de chuvas em até 20%, sendo as regiões leste e nordeste da Amazônia as mais propensas à redução de chuvas como consequência direta do aquecimento global, enquanto a produtividade agrícola deverá diminuir nos trópicos e subtrópicos. E um dado interessante: acredita-se que a cada 1⁰ C de aumento na temperatura existirá um declínio de 10% na produção de grãos.
Se o ceticismo quanto ao aquecimento global parece superado e a ignorância afastada, o consenso não se traduziu ainda em efetivas ações capazes de garantir um futuro sadio às futuras gerações. Mais que trocadilhos, o pós COP-21, e o futuro de um modo geral, pedirão um efetivo comprometimento de todos.
Artigo 1 da série de artigos Desenvolvimento Sustentável da Amazônia.
Fonte – Rinaldo Segundo, promotor de justiça no MPE/MT e mestre em direito (Harvard Law School), é autor do livro “Desenvolvimento Sustentável da Amazônia: menos desmatamento, desperdício e pobreza, mais preservação, alimentos e riqueza,” Juruá Editora.
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