Por Ellen Nemitz · ECO - 18 de dezembro de 2024 - Câmara ressuscitou “jabutis” da…
Economia circular: o modelo que propõe um reaproveitamento sistemático de tudo o que é produzido
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Trata-se de uma mudança em toda a maneira de consumir, do design dos produtos até a nossa relação com as matérias-primas e resíduos
Você já parou pra pensar em como funciona a inteligência do planeta? Esse grande organismo vivo se gere e autorregula em um processo cíclico. A energia é provida pelo Sol em abundância e todo o ”lixo” de uma espécie é alimento de outra; tudo nasce para depois morrer e se transformar em energia para o ambiente novamente. O ciclo funciona em harmonia, ou deveria. O ser humano cada vez mais desequilibra essa balança e torna difícil para a natureza suportar. No entanto, certos estudiosos apontam que a economia circular pode ser uma solução para minimizar o impacto humano no meio ambiente.
O sistema de economia circular agregou diversos conceitos criados no ultimo século, como: design regenerativo, economia de performance, cradle to cradle – do berço ao berço, ecologia industrial, bioomimética e blue economy para desenvolver um modelo estrutural para a regeneração da sociedade. O conceito de economia circular é baseado nessa inteligência da natureza, onde os resíduos são insumos pra produção de novos produtos. No meio ambiente, restos de frutas consumidas por animais se decompõem e viram adubo para plantas. Esse conceito também é chamado de “cradle to cradle” (do berço ao berço), onde não existe a ideia de resíduo, e tudo é continuamente nutriente para um novo ciclo. Transportando essa dimensão para a industria de produtos, a cadeia produtiva seria repensada para que peças de eletrodomésticos usadas, por exemplo, pudessem ser reprocessadas e reintegradas à cadeia de produção como componentes ou materiais de outros.
Frente a isso, a economia circular é a ciência que repensa as práticas econômicas, indo além daqueles famosos três “R”s – reduzir, reutilizar e reciclar – pois ela une, pelo menos na teoria, o modelo sustentável com o ritmo tecnológico e comercial do mundo moderno, que não pode ser ignorado.
Atualmente, nosso sistema produtivo funciona de forma linear, o que não é sustentável devido ao grande acúmulo de resíduos, exploração excessiva de recursos, etc. Nós exploramos a matéria-prima, produzimos bens e depois os descartamos. A obsolescência programada gera resíduos que não recebem novos usos e se acumulam exponencialmente. Para se ter noção, no Brasil, temos hoje mais de 190 milhões de habitantes gerando resíduos. De acordo com dados do IBGE, cada brasileiro produz quase um quilo de lixo por dia, ou seja, 183 mil toneladas diárias (saiba mais sobre resíduos sólidos urbanos aqui)!
Além dos resíduos, o esgotamento de matérias-primas também é uma grande preocupação. De acordo com relatório da Ellen MacArthur Foundation – organização que estuda e estimula a adoção da economia circular –, 65 bilhões de toneladas de matéria-prima foram inseridas no sistema produtivo mundial em 2010. O instituto projeta que, até 2020, essa quantidade terá subido para 82 bilhões de toneladas por ano.
Como seria possível mudar esse paradigma?
E se, em vez do modelo em que se descartam os materiais não biodegradáveis, como máquinas de lavar roupa, smartphones, televisores, existisse outro em que esses materiais retornassem ao ciclo? Se eles fossem levados de volta a suas respectivas fábricas, desmontados, otimizados e trazidos de volta para nós? A economia lucra com a ausência de desperdício, e o planeta também! Em vez de uma reta final para os produtos, um novo ciclo: transformando resíduos em insumos, em nova matéria-prima. São novos “R”s que entram: de economia restaurativa e regenerativa. O que era fim é só um novo começo.
Para o desenvolvimento sustentável, deve-se controlar estoques finitos e equilibrar os recursos renováveis. Um primeiro passo é desmaterializar produtos e serviços (sistema que valoriza a função, a utilidade e nem tanto o produto em si). Além disso, há a necessidade de aprimorar a eficiência na criação de produtos e no reaproveitamento de resíduos sólidos. Já na concepção, os produtos devem ser pensados com a utilização de materiais facilmente recicláveis e não perigosos (substâncias puras, não tóxicas e segregáveis). É fundamental reduzir a contaminação para maximizar a circulação dos materiais. Os objetos devem ser concebidos para a remanufatura, a reforma e a reciclagem. Artigos com componentes e materiais no mais alto nível de utilidade, tanto no ciclo técnico quanto no biológico, otimizam a produção de recursos. Desse modo, componentes e materiais continuam circulando e contribuindo para a economia.
A economia circular segue uma utilização racional dos recursos. Com o uso em cascata dos materiais, eles permanecem o maior tempo possível na economia. Após um produto chegar ao fim de seu ciclo para o primeiro consumidor, ele pode ser compartilhado e ter sua utilização ampliada. Posteriormente ao esgotamento de reúso do artefato, ele pode ser material de upcycling (reaproveitamento), reformado, remanufaturado e, como última etapa, reciclado. As alternativas de reciclagem atuais operam sobre bens de consumo que não foram projetados com este cuidado. A economia circular parte da proposta de desconstruir o conceito de resíduo com a evolução de projetos e sistemas que privilegiam materiais naturais que possam ser totalmente recuperados.
Fundação Ellen MacArthur
A fundação Ellen MacArthur é especializada em difundir e apoiar a mudança das empresas para esse novo modelo, que é capaz de gerar mais de um trilhão de dólares de lucro para a economia global. Foi criada uma rede de parceria entre empresas (líderes e emergentes) para colaborarem no salto coletivo para essa nova estrutura, essa união foi chamada “CE100” (Circular Economy Hundred). Nomes como Coca-Cola, Unilever, Philips e Renault estão na lista.
Além da óbvia vantagem comercial, a parceria também cria uma rede de solução de problemas em coletivo, a construção de uma biblioteca com guias práticos para os respectivos negócios alcançarem sucesso com rapidez, e também proporcionar mecanismos para integrar a economia circular dentro de cada empresa.
Parece utopia para você? Pois saiba que diversas empresas já adotam essa abordagem. Em parceria com a Fundação Ellen MacArthur, o Google quer incorporar o conceito de economia circular na infraestrutura, na operação e na cultura da empresa.
Como funciona a implantação?
Para esse sistema funcionar, não depende apenas das empresas, todos os envolvidos no ciclo de vida de um produto devem entender seu papel nesse novo modelo. O consumo deve ser desacelerado e consciente. Vivemos em um mundo com relações de produção e comércio globalizadas, por isso há necessidade de disseminar o conceito de economia circular mundialmente.
Diversos países sabem da importância e estão progressivamente implantando os conceitos. A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), lei implantada no Brasil em 2010, visa garantir a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos, operação reversa e o acordo setorial. Assim, todos os agentes do ciclo produtivo, os consumidores e os serviços públicos devem minimizar o volume de resíduos sólidos e adotar práticas que assegurem que os produtos sejam reintegrados ao ciclo produtivo. Na China, a economia circular faz parte da Lei de Promoção da Produção Limpa, promulgada em 2002. Medidas como a rotulagem ecológica de produtos, difusão de informações sobre questões ambientais na mídia e cursos oferecidos pelas instituições de ensino são importantes para familiarizar a sociedade com a economia circular.
Fonte – eCycle
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