Por Ellen Nemitz · ECO - 18 de dezembro de 2024 - Câmara ressuscitou “jabutis” da…
Economia deve ser transformada para se tornar sustentável
Inventor, arquiteto e designer francês Philippe Starck compartilha sua visão sobre como seria um futuro sustentável. Foto: ONU Meio Ambiente
Que critérios um produto deve atender para ser realmente “sustentável”? Como nossos lares serão no futuro? E como nossa economia deve mudar para as pessoas e o planeta?
Em uma entrevista exclusiva para a ONU Meio Ambiente, o renomado inventor, arquiteto e designer francês Philippe Starck compartilha sua visão sobre como seria um futuro sustentável.
Que critérios um produto deve atender para ser realmente “sustentável”? Como nossos lares serão no futuro? E como nossa economia deve mudar para as pessoas e o planeta?
Em uma entrevista exclusiva para a ONU Meio Ambiente, o renomado inventor, arquiteto e designer francês Philippe Starck compartilha sua visão sobre como seria um futuro sustentável.
Starck supervisionou 10 mil criações em seu país natal e no mundo todo, de mobília, termostatos inteligentes e bicicletas elétricas a casas pré-moldadas de madeira e edifícios. Ele acredita em “fazer mais com menos” e em criar objetos que ajudem a melhorar nossas vidas enquanto abraçam a natureza.
O conceito de propriedade pode desaparecer
No futuro, o conceito de propriedade pode desaparecer e ser substituído por uma economia do aluguel, acredita o designer. “Alguém que pega emprestado tem a responsabilidade de devolver o produto. Alguém que vende não tem essa responsabilidade – ele pode não se importar se um produto é reciclado ou não, por exemplo”, argumenta Starck.
“Nossa economia deve ser completamente transformada, uma vez que nosso planeta está sendo degradado a uma velocidade muito mais rápida do que jamais vimos”, diz.
Starck também acredita que podemos abrir mão de “cerca de 70%” de toda a mobília que usamos atualmente em nossas casas. “Nossas cortinas podem ser substituídas por um cristal de vidro líquido, enquanto a tinta pode ser eletroluminescente”, sugere.
“Não venderemos produtos, mas sim serviços integrados a produtos”, afirma. Segundo ele, a sociedade pode, entretanto, se dividir entre pessoas que escolhem comprar mais alimentos e roupas mais sustentáveis e aqueles que seguem a indústria de massa.
Surpreendentemente, o inventor prefere o uso de materiais sintéticos aos naturais para seu próprio trabalho, o que inclui design de interiores de hotéis como o Brach – um de seus projetos mais recentes em Paris.
“Materiais sintéticos nascidos da genialidade humana quase sempre têm um melhor desempenho”, argumenta, completando que “preferiria trabalhar com alguém que usa plásticos totalmente rastreáveis a alguém que derruba árvores”.
Reciclagem não é a solução
Para produtos serem chamados de sustentáveis, Philippe Starck acredita que eles não devem apenas recicláveis e usar o mínimo de materiais naturais e energia, mas devem também ser “politicamente justos” e favorecer a igualdade de gênero.
“Hoje, 80% dos produtos são ‘machos’. Se não for ‘macho’, não vende”, diz Starck.
O designer acredita que os consumidores devem querer viver com os produtos que compram, e não jogá-los fora por capricho. Ele considera que a indústria da moda traz “vergonha” à nossa sociedade de consumo por criar novas tendências muitas vezes ao ano. Também destaca que “antes de pensar em sustentabilidade, a primeira questão deve ser: eu realmente preciso desse produto?”.
Quando se trata do fim da vida de um produto, Starck alerta que “reciclagem não é a solução”. “Reciclagem só foi inventada para que pudéssemos continuar consumindo com a consciência tranquila. A realidade é que menos de 20% dos materiais usados em bens de consumo podem ser reciclados, já que isso requer condições especiais”.
Está em nosso DNA construir e criar
“O capitalismo não é adequado para o futuro. Ele depende de crescimento e produção, e nós não podemos produzir mais”, diz o designer.
Starck ilustra esse ponto pedindo cautela em relação às alternativas ao plástico. “Muitas alternativas biodegradáveis são feitas de coisas que as pessoas podem comer. Está fora de questão que comida deva ser sacrificada para fazer uma cadeira, por exemplo. Mesmo alternativas como linhaça ou cânhamo tomam espaço de plantação que poderia estar sendo usado para cultivar alimentos”, diz.
Apesar disso, o designer acredita que nós não devemos buscar refrear o instinto humano de criação. “A diferença entre nós humanos e outros animais é que somos criadores. Está em nosso DNA construir e criar – não podemos ir contra isso. A solução pode, então, ser um tipo de ‘decrescimento positivo’, onde decrescemos nossa produção enquanto aumentamos nossa criatividade”.
Clique aqui para ler a entrevista completa (em francês).
Fonte – ONU Brasil de 10 de outubro de 2018
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