Por Jean Silva* - Jornal da USP - 1 de novembro de 2024 - Tucuruvi,…
El Pais se contradiz com matéria que aconselha a consumir agrotóxicos
Os perigos dos agrotóxicos
No último dia 19 de Dezembro o jornal El Pais publicou uma matéria com o título:
“Deixe de comprar comida orgânica se quiser salvar o planeta. Consumir ‘orgânico’ não faz de você amigo do meio ambiente: é uma ameaça para as florestas tropicais.”
Em 25 de Dezembro de 2015 o mesmo El Pais publicava uma matéria entitulada: “Se você compra comida orgânica, isto é o que você precisa saber” onde sentenciava:
“É considerado alarmante no Brasil, que ocupa desde 2008 o primeiro lugar global no uso de agrotóxicos e onde cada pessoa consome, por ano, o equivalente a 5 quilos de veneno. E, também, na América Latina, onde as vendas de pesticidas dobraram em 12 anos, segundo levantamento da revista Science. Mudar para o sistema orgânico beneficia a saúde e o meio ambiente.”
Há apenas poucas décadas, iniciou–se o uso de pesticidas no campo. Ninguém pode precisar a extensão dos malefícios que eles podem causar à nossa saúde. Sabe-se que são perigosos e que há pouquíssima instrução, controle e fiscalização. Uma pesquisa da UFSM, chamada “O impacto ambiental do uso de agrotóxicos no meio ambiente e na saude dos trabalhores rurais”, registrou o seguinte sobre o conhecimento acerca do manejo de agrotóxicos.
“Apenas 23,3% dos trabalhadores rurais costumam ler sempre o receituário agronômico e 30% compreendem todas as informações contidas na bula dos agrotóxicos. Somente 36,7% revelam compreender totalmente as tarjas, e 20% entendem todos os desenhos presentes nos rótulos dos agrotóxicos. Além disso, 83,3% dos agricultores utiliza algum tipo de EPI, no entanto o fazem parcialmente. Em relação ao armazenamento dos agrotóxicos, 60% revelaram não sinalizá-los adequadamente. E mais, 70% não sabem diferenciar um agrotóxico contrabandeado de um agrotóxico legal”
Os agrotóxicos contaminam o solo e a água e podem se espalhar até regiões distantes daquela onde estão. Alguns deles podem permanecer no corpo humano por décadas, causando disfunções hormonais e diversas doenças, incluindo câncer. Esse foi o tema desta matéria do Globo Rural que mostra como isso ocorre e dá exemplos.
Orgânicos são alimentos produzidos de forma natural. O uso do termo para a indústria alimentícia só se popularizou a partir da Segunda Guerra, com a expansão dos agrotóxicos — já que plantas na natureza crescem e formam biomas, como florestas, por exemplo, de forma orgânica. Todo cultivo ao longo de milênios de história da humanidade sempre foi neste sistema. Exatamente por este motivo, é loucura dizer que não devemos comer orgânicos.
Ao aconselhar as pessoas a somente consumir produtos com agrotóxicos, o El Pais além de se contradizer, agride os micro produtores brasileiros e aconselha os consumidores a se prejudicarem, para defender uma tese completamente absurda. Impossível não se perguntar, que força estaria por trás, dessa repentina mudança de opinião do Jornal em relação a questão.
Plantando as sementes de um mundo melhor
Existe um ganho ambiental e social na agricultura orgânica, ela pode ser feita por qualquer pessoa, pois não há risco de envenenamento. Cultivar assim, permite o aproveitamento de espaços que antes não poderiam ser usados a agricultura: tetos de prédios, jardins, varandas e outros ambientes ensolarados em locais que permitem hortas verticais. Um grande exemplo disso são as cidades que tornaram obrigatório o uso de tetos verdes, como Copenhagen. O aproveitamento destes espaços torna os locais que habitamos mais ecológicos e as pessoas mais próximas do alimento que consomem, solucionando um problema que a primeira matéria do El País aponta: “não sabemos o que comemos”.
Graças ao aumento da agricultura orgânica, há um movimento de pessoas que estão passando a produzir seu próprio alimento e outras buscando informações sobre ele, mantendo contato com as instituições que os cultivam e muitas vezes visitando os locais de plantio. Em sua maioria, a produção orgânica provém de pequenos núcleos familiares que têm na terra a sua única forma de sustento.
No Instituto Pindorama, o qual esse blog integra, recebemos anualmente pessoas para o curso “Da horta a mesa” que ensina a plantar, colher e criar receitas saudáveis com alimentos direto da horta, “Alimentos vivos” que ensina a cozinhar pratos deliciosos sem produtos industrializados e “Design em permacultura” que engloba produção de alimentos, recursos hídricos, sistemas econômico-sociais, energias renováveis e bioconstrução. Aqueles que querem descobrir mais sobre o que é Permacultura podem acessar nossa aula grátis aqui.
O Brasil é também uma referência em cultivo agroflorestal — um tipo de cultivo que produz alimentos em harmonia com as florestas, com taxas produção excelentes e recuperando para a natureza áreas degradadas. Um dos grandes expoentes desse trabalho é Ernest Grosht.
Você também pode aprender mais sobre como fazer uma agrofloresta usando este ótimo manual criado por Walter Steenbock e Fabiane Machado Vezzani.
Outra iniciativa que tem ganho adeptos é a de cultivar e catalogar os ‘PANCs’ (Plantas e Alimentos Não Convencionais), geralmente plantas nativas com alto valor nutricional que não usamos em nossa culinária por falta de conhecimento sobre suas propriedades.
Algumas matérias para saber mais sobre os PANCs:
Pancs, plantas citadas no programa MasterChef que talvez você não conheça
O caminho para se solucionar o problema da fome passa por aproximar as pessoas dos alimentos que elas consomem, ensiná–las a plantar, valorizar aqueles que plantam e aproveitar alimentos que não estão em sua cultura. Investir em alimentação é uma forma preventiva e eficaz de cuidar de sua saúde. Curar o corpo é o primeiro passo para curar o meio. Por isso, plante, incentive a agricultura local e valorize o alimento que você ingere. Como diz o ditado: “Somos o que comemos”.
Fonte – Marcel Segal Hochman, Blog Viver Fora do Sistema de 29 de dezembro de 2016
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