Skip to content

Emissões de gases-estufa por incêndios na Amazônia aumentaram 30% em 12 anos

Fogo na floresta: efeitos de incêndios não são devidamente detectados por satélites – Adam Ronan / Divulgação

Degradação não é registrada em inventário nacional sobre liberação de poluentes

Os projetos do governo federal voltados para a preservação da Amazônia podem ser prejudicados pela falta de fiscalização da mata. Um estudo publicado esta terça-feira na revista “Nature Communications” mostra que, entre 2003 e 2015, o Brasil reduziu em 76% as emissões de gases-estufa que vêm de queimadas. No entanto, no mesmo período, houve um aumento de 30% na liberação de poluentes relacionados ao alastramento dos incêndios para florestas próximas às áreas desmatadas.

Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), as emissões de gases-estufa podem crescer até 50% nos anos de seca. Diversos prognósticos mostram que, com as mudanças climáticas, a estiagem será cada vez maior na Amazônia, facilitando a difusão de incêndios. Outro fator preocupante, segundo os cientistas, é a falta de controle sobre como os moradores da região administram suas propriedades, usando fogo para abrir espaço para a agropecuária.

A ameaça detectada pelo estudo, porém, ainda não é contabilizada nas estatísticas oficiais sobre o desmatamento da Amazônia. Assim, o país não teria informações completas sobre a conservação da floresta. Também teria dificuldades para cumprir as metas que assumiu para reduzir o aquecimento global, apoiadas principalmente na redução do desmatamento.

— Uma coisa é o desmatamento por degradações sucessivas da floresta, que é detectado e levado para o inventário nacional. Outra coisa, que não está incluída nele e vimos agora, são as áreas afetadas por incêndios — explica Luiz Aragão, pesquisador da Divisão de Sensoreamento Remoto do Inpe e autor principal do estudo, que teve a colaboração de cientistas dos EUA e do Reino Unido.

De acordo com Aragão, a observação das imagens de satélite das florestas afetadas por incêndios é mais difícil que a detecção do desmatamento:

— No caso dos incêndios, a mudança nas tonalidades de cores refletidas para o sensor são muito tênues. Já quando a área é desmatada, a mudança de floresta para área aberta é muito evidente para o satélite.

Mudanças climáticas estão aumentando ocorrência de secas, que facilitam propagação do fogo pelo interior da floresta – Divulgação

No período do estudo, a Amazônia passou por três grandes secas: em 2005, 2010 e 2015. As estiagens deixam a floresta mais suscetível a incêndios do que no período em que a mata está úmida. Então, se o homem perder controle do fogo que usa em sua propriedade, a devastação pode chegar com mais força a áreas abertas no interior da vegetação.

Até agora, ressalta Aragão, o governo federal ainda não contava com a tecnologia necessária para distinguir as áreas desmatadas através destes incêndios. Além disso, a pesquisa indica que estas áreas podem demorar até dez anos para se recuperarem do impacto causado pelo fogo, e que por este tempo emitirão carbono para a atmosfera. Acreditava-se que sua recuperação seria mais rápida.

— Algumas políticas para reduzir o desmatamento foram bem sucedidas, mas ainda não estamos abordando o fogo como deveríamos, porque ele é uma importante fonte de gases de efeito estufa — alerta Aragão. — Na grande maioria das vezes, estas queimadas começam por ação humana, mas seu impacto é fortalecido pela seca.

Uma das prioridades do governo, então, deve ser ensinar aos desmatadores como manejar sua terra sem usar fogo. Aragão avalia que a penalidade e a fiscalização não surtem efeito a longo prazo — o ideal é fornecer a infraestrutura necessária, como máquinas e ferramentas, para o trabalho destes proprietários. Também deve-se desenvolver um sistema de previsão de fogo eficiente, que forneça informações precisas para bombeiros e brigadas de incêndio.

Como não há recursos para levar este trabalho a toda a borda da Amazônia — as áreas onde há maior intervenção de agricultores e pecuaristas na floresta —, Aragão recomenda que o governo federal selecione, através de um monitoramento, as áreas cuja preservação é mais urgente. Estas seriam as primeiras contempladas pelas novas políticas públicas.

— Com as mudanças climáticas, as estiagens ficarão cada vez mais severas, e estes eventos extremos podem contribuir para fragmentar a floresta amazônica — adverte o pesquisador.

Em 2014, um levantamento liderado pelo Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares publicado na revista “Nature” mostrou que, em 2010, um ano extraordinariamente seco na Região Norte, mais de 60 mil queimadas foram registradas na Amazônia. Já um estudo publicado na “Science” sublinhou que, naquele mesmo ano, 78% dos incêndios na floresta ocorreram em regiões onde a precipitação foi abaixo do normal.

Fonte – Renato Grandelle, O Globo de 

Este Post tem 0 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Back To Top