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Empreendedores precisam estar preparados para a sustentabilidade

Em entrevista à Pequenas Empresas & Grandes Negócios, a coordenadora técnica do Programa de Responsabilidade Social no Varejo da Fundação Getulio Vargas (FGV), Roberta Cardoso, dá exemplos de como as pequenas e médias empresas podem se tornar mais sustentáveis

Doutora em administração e coordenadora técnica do Programa de Responsabilidade Social no Varejo da Fundação Getúlio Getulio Vargas (FGV), Roberta Cardoso é uma das defensoras de práticas sustentáveis pelas empresas varejistas. Em entrevista à Pequenas Empresas & Grandes Negócios, a doutora diz que nos próximos anos a tendência é ocorrer uma conscientização dos consumidores, que estarão em busca de produtos e serviços que não agridem o meio ambiente. “A mudança vai acontecer gradualmente e os empreendedores precisam estar preparados para elas”.

Que dicas você dá para empresas que querem ser sustentáveis e não sabem por onde começar?

É interessante começar pelo público interno. Explicar para os funcionários o que é sustentabilidade, dizer que a questão vai além de cuidar do meio ambiente, ensinar formas de ser mais sustentável na vida pessoal e dentro da empresa. Feito isso, pode-se começar a desenvolver alguns projetos como, por exemplo, coleta pós-consumo e reciclagem. Dar oportunidade a fornecedores locais para gerar renda local e diminuir a emissão de Co2 também é um bom início.

Quais são os principais desafios para as empresas se tornarem sustentáveis?

O primeiro deles é a massificação dos produtos. Mudança de cultura também é um impasse. Porque para haver sustentabilidade dois elementos são necessários: tecnologia, que possibilita fazer mais com menos, e a mudança de hábito, o que é mais complicado porque mexe com a mentalidade das pessoas e com estilo de vida. De qualquer forma, acho que temos feitos avanços. Muitos consumidores já estão sensibilizados. Há três anos, quando eu ia fazer compras e recusava sacolas, as pessoas achavam estranho. Hoje é um comportamento normal

A sociedade atual é muito consumista e a sustentabilidade prega consumir apenas o necessário. Como vai se dar essa mudança de comportamento e de escolha da população?

O estilo de vida das pessoas vai mudar e a legislação será precisa e eficiente. Na verdade, certos abusos vão começar a ficar caros. A taxa do lixo aplicada em São Paulo é uma tendência, medidor individual de água nos prédios é outra. Desperdiçar recursos vai sair caro porque tem um impacto muito grande. As pessoas vão ter que reduzir ou modificar a forma de consumo. Não há outra saída.

Não corre o risco das empresas terem seus lucros diminuídos?

Não. O que vai acontecer é uma mudança na forma de consumo. Vamos consumir mais serviços. Muitos produtos vão ser de propriedade das empresas e terão vida útil maior. O site Susteintable Everyday apresenta algumas soluções interessantes. Por exemplo, ao invés de todas as casas terem máquina de lavar e secadora, lavanderias comunitárias serão instaladas nos prédios, em condomínios ou em regiões. O usuário paga pelo serviço. O empresário precisa estar atento a essas mudanças, saber que elas estão acontecendo e encontrar novas oportunidades de negócio que certamente vão surgir. Fecham-se algumas portas, mas abrem-se outras. A mudança vai acontecer gradualmente e os empreendedores precisam estar preparados para elas.

Que empresas têm maior dificuldade de ter uma estrutura sustentável? As grandes ou as pequenas e médias?

As grandes possuem mais recursos, mas por outro lado elas têm uma organização complexa. Então, para haver mudanças é mais demorado. Por outro lado, essas empresas conseguem abarcar um número maior de ações porque têm mais recursos e são bem estruturadas. Em relação às pequenas, o tamanho é uma das principais vantagens. Geralmente a equipe é reduzida e o dono tem como acompanhar todo o processo de mudança, que é bem rápido. É mais fácil adotar medidas e ver se estão sendo cumpridas. Dá para perceber o resultado logo e corrigir o rumo rapidamente. Agora, geralmente, as ações das pequenas empresas são localizadas, há uma dificuldade em aplicar iniciativas em todos os setores da gestão. Alguns são ótimos com o meio ambiente, outros mexem com o público interno. São ações isoladas bem interessantes, mas isoladas.

Produtos sustentáveis são mais caros?

Às vezes sim, mas esses produtos estão se tornando mais populares e isso diminui o preço. Os orgânicos, por exemplo, estão barateando. É importante que ocorra a popularização dos produtos para que a massa tenha acesso e a sustentabilidade do planeta se torne viável. Caso contrário, não funciona. O preço é um fator que inibe a experiência, principalmente nas classes sociais mais baixas. A redução do IPI foi uma medida interessante porque permitiu à população comprar eletrodomésticos mais eficientes, que gastam menos energia e são menos poluentes.

O que as empresas devem fazer para popularizar os produtos sustentáveis? Como mudar a mentalidade do consumidor?

O consumidor, na maioria das vezes, compra o que está acostumado. Ele sai esperando determinado serviço e produto. Então, para popularizar o consumo sustentável é preciso mostrar aos clientes quais são as motivações e a importância delas. Qualquer procedimento deve ser explicado para evitar ruídos. Deve-se tornar eficiente a comunicação nos pontos de venda e treinar funcionários para esclarecer possíveis dúvidas. Em geral, o empreendedor se surpreende com a resposta positiva dos clientes porque é impressionante como os consumidores querem fazer parte, como eles estão ávidos para contribuir de alguma forma.

Como lidar com os erros?

O erro vai acontecer. Estamos abrindo caminhos que não existiam. É diferente de você aplicar uma teoria que já foi testada há anos e deu certo. Sustentabilidade é um assunto que, apesar de ter um histórico de discussão sobre ele, a aplicação no meio empresarial é recente. No Brasil, o tema só começou a despontar no final da década de 90. Porém, ao errar, o empreendedor não pode desistir e nem desanimar. É preciso se aperfeiçoar, corrigir as falhas e nunca desfazer o compromisso com o objetivo final.

Tem alguma empresa no Brasil com práticas de sustentabilidade admiráveis?

O WalMart implementou ações inovadoras e coerentes. A empresa montou um comitê para revistar monitorar se as práticas sustentáveis têm sido cumpridas e há metas de percentual de produtos sustentáveis dentro de cada linha. Etiquetas informam o grau de sustentabilidade de cada produto. Além disso, eles desenvolveram cooperativas nas regiões aonde atuam e têm mobilizado os fornecedores. É um projeto muito sério, mas não é o único. Várias medidas em paralelo têem sido feitas por empresas de todos os portes.

Fonte – Ana Cristina Dib, PEGN / www.varejosustentavel.com.br

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