“A sustentabilidade deve ser para todos, a democratização do uso de energias renováveis faz parte disso”.
Esta é a afirmação da cientista Ambiental Graziela Dantas Gonzaga, idealizadora do projeto piloto da primeira instalação de um sistema fotovoltaico na periferia de São Paulo.
O sistema fotovoltaico de 8,91 kWp está instalado na sede atual do Instituto da Paz, na periferia do bairro Jardim Nakamura.
Ao total, são 22 painéis solares de 405W e um inversor.
Em entrevista ao Canal Solar, Graziela contou que o projeto foi desenvolvido quando ainda era estagiária na empresa que atua hoje.
Segundo ela, todo ano a companhia promove um desafio aos seus colaboradores.
E em 2019, o tema proposto foi energias renováveis e sustentabilidade.
Moradora da Zona Leste de São Paulo, Graziela disse que ao andar de trem para chegar até seu trabalho percebia a diferença entre o local onde morava e as regiões nobres, em que há mais arborização e melhor distribuição das casas.
“Na época eu pensei que se quer começar com algo que realmente tenha algum impacto, precisamos começar no lugar em que há mais pessoas morando.
A partir disso, veio o desejo de trazer energias renováveis para as regiões periféricas”, explicou.
Com isso, Graziela idealizou o projeto de instalar energia solar em comunidades periféricas na capital paulista.
O primeiro passo, após desenvolver a proposta, foi buscar parceiros para desenvolver a ideia. Devido à pandemia da Covid-19, toda trativa precisou ser realizada de forma online.
O projeto da estagiária ganhou o apoio dos colegas de trabalho, o engenheiro de projetos Denis Galindo, a engenheira ambiental Thais Donato e posteriormente, a bióloga Natalia Couto.
Além da colaboração voluntária de toda uma equipe de apoio.
Após várias tentativas de contato com diversas empresas e entidades, a cientista conseguiu o apoio da Periferia Sustentável, projeto existente há mais de dez anos no Brasil.
“Enquanto o sonho era só meu, nada saiu do plano das ideias. Quando encontrei pessoas incríveis que decidiram sonhar comigo, tudo tomou forma”, destaca a cientista.
“Eu entrei em contato com eles e fiquei sabendo que eles já tinham um projeto educacional sobre energia solar, ensinando as crianças para elas replicar conceitos de sustentabilidade.
Após aprovação da documentação do projeto, começamos a trabalhar juntos”, relatou.
“Quando a Graziela fez o convite eu não pensei duas vezes e aceitei participar. O projeto é fantástico e vai trazer um impacto muito grande na comunidade, trazendo a ideia de que o Sol está para todos”, conta Fábio Miranda, coordenador da Periferia Sustentável, iniciativa do Instituto Favela da Paz.
Segundo Graziela e Miranda, o objetivo do projeto não se limitava apenas na instalação de um sistema de energia solar, mas também que fosse feito um processo de capacitação.
“O projeto não era só instalar as placas. A ideia era que todos os moradores, de forma voluntária, participassem da instalação e fossem os agentes desta instalação” ressalta Graziela.
Para participar no projeto, Miranda convidou três pessoas: Elias Fonseca Damasceno, estudante de engenharia civil; André Luís de Carvalho, que atua na ONG PAC (Projeto Amigo das Crianças), trabalha na manutenção geral e fez o curso seja sustentável 4.0; e o eletricista Eraldo Moura de Carvalho, que apesar de atuar na área ainda não tinha experiência com instalação de sistemas fotovoltaicos.
Além do Instituto Favela da Paz, o projeto contou com a parceria da CL Solar, empresa especializada em instalações de sistemas fotovoltaicos.
“Nossa empresa fez a elaboração do projeto e encaminhou para a Enel fazer a homologação, requisito básico para que se possa injetar energia na rede. Somos os responsáveis pela parte técnica, tanto pelo dimensionamento, quanto pela homologação na distribuidora”, explica Rodrigo Coto Poppi, responsável técnico da CL Solar.
“Nosso encarregado Carlos Eduardo Miranda Mano foi responsável por coordenar a equipe formada 100% por voluntários da comunidade. Ele ensinou a forma que deveria ser feita a instalação e acompanhou se o trabalho estava sendo feito da forma correta”, acrescenta Poppi.
Para o desenvolvimento da instalação do sistema, os voluntários fizeram os cursos de NR 10 e NR35, além de receber todos os EPIs necessários para fazer a instalação. “Foi uma experiência muito legal. Tivemos acompanhamento do engenheiro eletricista Poppi da CL Solar. Além de sempre contar com o apoio da Graziela, do Denis e da Thais. Todo mundo estudou e se certificou”, destaca Miranda.
Todos os voluntários fizeram os cursos de capacitação. Imagem: Instituto Favela da Paz/Reprodução
Graziela destaca que este é um projeto piloto e que sua expectativa é replicar o modelo aplicado em mais comunidade, fomentando a geração de emprego no setor solar.
“Pensamos em criar uma empregabilidade porque o mercado de energia solar tem crescido e ainda tem poucos profissionais atuando nele. Então, pensamos que capacitar essas pessoas, fazerem elas participarem desta instalação também é uma forma de levar o projeto a frente, não só o sistema, mas também o conceito, trazer empregabilidade e mostrar que é possível instalar energia solar neste locais”, enfatiza.
Para o engenheiro Poppi, o mais importante do projeto foi a capacitação das pessoas e a economia que o sistema fotovoltaico trará para o instituto, além da sustentabilidade.
“Eu vejo com bons olhos porque todo mundo pensa que energia solar é coisa de rico. Colocando a energia solar em uma comunidade já se começa a viabilizar e mostrar às pessoas que qualquer um pode ter energia solar, que o Sol está para todos”, comenta.
Voluntários foram supervisionados por engenheiros especialistas em sistemas fotovoltaicos. Imagem: Instituto Favela da Paz/Reprodução
Miranda também destaca os ganhos para a comunidade.
“Foi uma experiência fantástica. Ganhamos não só com o sistema, mas também estamos contribuindo para um planeta mais saudável, pois quando você tem acesso a energias renováveis, você deixa de emitir CO₂, de derrubar árvores e de usar materiais poluentes como carvão para energia”, diz.
Ele ainda destaca que a fonte solar é democrática e acessível.
“Muita gente acha que a energia solar é uma coisa que é de outro mundo, que isso não pertence à gente ou que é uma tecnologia cara. A verdade é que ela é possível. O Sol está para todos e a ideia é trazer essa educação, essa visão que temos a possibilidade de gerar energia através do Sol, usando nossos recursos e a nossa rede pessoas que acreditam no possível”, concluiu Miranda.
Este Post tem 0 Comentários