Por Elaine Patricia Cruz – Repórter da Agência Brasil - 18/12/2024 - Para cientista brasileiro,…
Entenda como microplástico presente em ‘quase tudo’ está matando os oceanos
Partículas microscópicas liberadas por roupas sintéticas e pneus passam por sistemas de tratamento de água e vão parar no mar
De pneus a roupas e cosméticos, o microplástico se encontra praticamente em todos os objetos do dia a dia. E seu impacto sobre as águas do planeta é catastrófico: calcula-se que, dos 9,5 milhões de toneladas de matéria plástica que flutuam nos mares, até 30% sejam compostos por partículas minúsculas. Invisíveis a olho nu, elas constituem uma fonte de poluição mais grave do que se pensava, como mostra o mais recente relatório da International Union for Conservation of Nature (IUCN).
“Nossas atividades diárias, como lavar roupas e andar de carro, contribuem significativamente para a poluição que sufoca os nossos oceanos, tendo efeitos potencialmente desastrosos para a rica diversidade que vive neles e para a saúde humana”, afirma a diretora geral da IUCN, Inger Andersen.
Segundo o estudo da organização, cerca de dois terços do microplástico encontrado nos oceanos são originados dos pneus de automóveis e das microfibras liberadas na lavagem de roupa. Outras fontes poluidoras são a poeira urbana, marcações rodoviárias e os barcos.
Perigo invisível
As imagens de tartarugas presas em redes de pescar e pássaros com anéis de latas de cerveja em volta do pescoço há muito correm mundo. O problema do microplástico, contudo, é invisível, só tendo sido recentemente detectado como tal. Assim, ainda se sabe relativamente pouco sobre sua escala e verdadeiro impacto ambiental.
Ao contrário do lixo plástico convencional, que se degrada na água, o microplástico já é lançado no ambiente em partículas tão microscópicas que driblam os sistemas de filtragem das estações de tratamento de água. É exclusivamente nesse tipo de dejeto que o relatório da IUCN se concentra.
A atual quantidade de microplástico nas águas é de 212 gramas por ser humano, o equivalente a se cada pessoa do planeta jogasse uma sacola plástica por semana no oceano.
Ingeridos por peixes e outros animais marinhos, os minigrãos podem ter sério impacto sobre seus sistemas digestivos e reprodutivos, e há sérias suspeitas de que acabem chegando aos humanos, cadeia alimentar acima.
Ao pensar em lixo nos oceanos costumamos lembrar de macroplástico, como sacolinhas. Mas o microplástico, liberado quando lavamos roupas sintéticas também prejudica o meio ambiente
Maus hábitos de consumo
Como lembra João de Sousa, diretor do Programa Marinho Global do IUCN, as estratégias globais de combate à poluição marítima se concentram em reduzir o tamanho dos fragmentos do lixo plástico convencional. No entanto essa concepção precisa ser revista.
“As soluções devem incluir design de produtos e de infraestrutura, assim como o comportamento do consumidor. Pode-se projetar roupas sintéticas que liberem menos fibras, por exemplo, e os consumidores também podem agir, optando por tecidos naturais, em vez de sintéticos.”
Segundo outros especialistas, contudo, essa estratégia não tem o alcance necessário, e se precisa também abordar outros hábitos de consumo. Para Alexandra Perschau, da campanha “Detox” da organização ambiental Greenpeace na Alemanha, o real problema não é o tipo de casaco que se compra, mas sim quantos.
“O sistema de moda como um todo é o problema, é excesso de consumo”, comentou à DW. “Em diversos levantamentos, seja na Ásia ou na Europa, grande parte dos consumidores admite possuir mais roupas no armário do que precisam, mas continua comprando mais e mais.”
A produção mundial de vestuário dobrou a partir do ano 2000, excedendo os 100 bilhões de peças em 2014, de acordo com uma sondagem da Greenpeace. Além disso, atualmente as peças de vestuário tende a ser de difícil reciclagem.
“Temos cada vez mais peças confeccionadas com fibras mistas de poliéster e algodão, portanto nem temos como reciclá-las devidamente. No momento a tecnologia não está tão avançada que possamos separar esses tipos de fibras”, explica Perschau.
Entre a moda e meio ambiente
O relatório da IUCN saúda os esforços para banir as microesferas de plástico dos produtos cosméticos, inspirados por relatórios recentes. Trata-se de uma “iniciativa bem-vinda”, porém com impacto restrito, uma vez que esse tipo de material só responde por 2% da poluição com microplástico.
Em vez disso, seria necessária uma investida mais ampla e de impacto real contra as atividades geradoras das minúsculas partículas, segundo Maria Westerbos, diretora da Plastic Soup Foundation, que luta para que se pare de despejar matéria plástica no oceano.
“Somos todos responsáveis: é a ciência, a indústria, são os legisladores – e os consumidores. Todos nós precisamos fazer algo. Todos estamos usando plástico e todos o jogamos fora”, pleiteia Westerbos, sugerindo o desenvolvimento de tecidos que não desfiem e a adoção de novos filtros nas máquinas de lavar roupa – que só devem ser usadas com carga completa e de preferência com sabão líquido.
Perschau, da Greenpeace, acrescenta a importância de aumentar a vida útil das roupas. Em vez de jogar fora as que não se deseja mais, faria mais sentido trocá- las por outras ou entregá-las nas lojas de segunda mão. “Não estamos dizendo que não se deva usar roupa da moda, mas sim ser mais inteligente, vivendo de acordo com os próprios desejos sem comprometer os recursos do planeta.”
Com 7 bilhões de seres humanos e uma população crescente, será preciso mudar nossas atitudes em relação ao plástico, se quisermos salvar os oceanos, observa Westerbos:
“Não compre maçãs embaladas em plástico, não use sacolas plásticas descartáveis, nem canudinhos para descarte imediato. Há um monte de modos de evitar usar plástico, vamos começar por aí”
Nota do Instituto IDEAIS
Microplástico é resultado da degradação que acontece durante a degradação dos plásticos convencionais de origem fóssil e do plástico polietileno de origem renovável, no Brasil conhecido como plástico verde. Estes plásticos, em pedaços, atraem substâncias tóxicas e segundo algumas pesquisas, são ingeridos por plânctons que por sua vez são comidos por peixes e podem estar contaminando os peixes que as pessoas consomem. Os falsos plásticos biodegradáveis, oxibiodegradáveis, de fonte renovável etc não certificados e suas fraudes também se enquadram como geradores de microplásticos.
Plásticos biodegradáveis (oxibiodegradáveis, hidrossolúveis e hidrobiodegradáveis) certificados em conformidade com normas ABNT, OPA, AFNOR, BS e IDEAIS não atraem substâncias tóxicas por que durante o estágio da degradação deixam de ser plásticos. Eles atraem a água, são colonizados por microrganismos aquáticos e são completamente biodegradado, resultando sempre em água, biomassa e Dióxido de Carbono. Estes modernos tipos de plásticos não entram na cadeia alimentar. Exija a certificação ABNT, OPA e IDEAIS do seu fornecedor de plásticos fabricados com aditivos oxibiodegradáveis e da European Bioplastics para os plásticos hidrobiodegradáveis e compostáveis se esta for sua escolha.
Fontes – Louise Osborne, DW / UOL de 28 de fevereiro de 2017
Boletim do Instituto IDEAIS de 28 de março de 2017
Instituto IDEAIS
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