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Entidades se posicionam contra pesquisa geológica na região

Caminhões vibradores passaram pelas rodovias de Francisco Beltrão em janeiro, mas estão na região desde novembro, para realização de pesquisas geológicas no Sudoeste.

Grupos alegam que a pesquisa geológica causa danos ambientais e, diferente do afirmado pela ANP, procura por xisto no subsolo do Sudoeste.

Desde novembro de 2016, uma cena inusitada tem se repetido pelas rodovias do Sudoeste. Dez caminhões grandes, diferentes dos geralmente vistos na região, passam pelas estradas parando de pouco em pouco e interrompendo o trânsito.

Esses caminhões são da empresa Global Geophysical Services (Global Serviços Geofísicos), que está instalada em Dois Vizinhos para fazer uma pesquisa sísmica na Bacia Sedimentar do Paraná. A pesquisa é encomendada pela Agência Nacional do Petróleo (ANP), para aquisição de dados geológicos e geofísicos do subsolo da região.

A ANP, contatada pelo Jornal de Beltrão, afirmou que o estudo não tem qualquer ligação com o gás não convencional (gás de xisto), cuja pesquisa e extração são proibidas por lei estadual. Além disso, afirmou que o trabalho feito pelos caminhões – que causam pequenos tremores de terra para emitir vibrações e avaliar o subsolo de forma semelhante à que um ultrassom faz com o corpo humano – não causa dano ambiental. No entanto, entidades ambientalistas são contra essa pesquisa e contestam as duas afirmações.

Pesquisa pode abrir portas para extração de xisto

Desde setembro de 2013, um grupo denominado Coalizão Não Fracking Brasil (Coesus) – formado por ambientalistas, cientistas, geólogos, hidrólogos, engenheiros, biólogos e gestores públicos – luta publicamente contra a extração do gás de xisto feita através da técnica de fraturamento hidráulico (fracking), uma técnica polêmica, proibida em diversos países e envolta em relatos de grandes danos ambientais (leia mais no box abaixo: “Riscos do fracking”).

O coordenador nacional da Coesus e também coordenador de campanhas climáticas da 350.org (entidade internacional do setor), Juliano Bueno de Araújo, conversou com a reportagem do Jornal de Beltrão e alega que a pesquisa que acontece hoje na região, apesar de não ser oficialmente um estudo para procurar o gás, abre caminhos para que novas pesquisas aconteçam.

“Essa pesquisa de agora é uma aquisição de dados geológicos. Depois disso, esses dados podem ser usados como subsídio para leilões e pesquisas voltadas à extração do gás de xisto, que é danosa para o meio ambiente e para as pessoas”, afirma Juliano.

Entidade diz que estudo é prejudicial

A entidade Coesus afirma ainda que, além de abrir as portas para as pesquisas do xisto, o estudo geológico que acontece na região também causa danos ambientais, de saúde e estruturais por onde passa, através do que eles chamam de “terremotos induzidos”.

“Muitos prédios não estão preparados para suportar as vibrações dos caminhões. Temos relatos de mais de 500 residências, de diversas classes sociais, que já sofreram rachaduras por causa dos testes sísmicos”, afirma Juliano. O ambientalista acrescenta: “É comprovado que os abalos causam queda de produção da piscicultura e também quebra de ovas de peixes, inclusive em lagos e rios”.

A Coesus aponta ainda relatos de outros países, como Inglaterra e Estados Unidos, onde moradores de áreas que passaram por este tipo de estudo sofreram com os abalos sísmicos. No Estado americano do Colorado, por exemplo, houve reclamações de rachaduras em paredes e também em poços de água. Segundo a Coesus, moradores de Londrina também relataram estragos depois da passagem dos caminhões na região.

A ANP alega, no entanto, que não há dano algum. O chefe do escritório regional do Instituto Ambiental do Paraná (IAP), Dirceu Abatti, pondera: “As informações que temos em mãos indicam que a quantidade de oscilações não tem potencial para realmente causar dano ambiental, porque, segundo os estudos a que temos acesso, ela chega no máximo a 1,9 graus na Escala Richter”.

A Escala Richter é o sistema de medição de terremotos usado internacionalmente e considera que tremores de magnitude menor do que dois graus dificilmente são sentidos por pessoas, podendo ser captados apenas por sismógrafos.

Legislação proíbe pesquisa e extração de xisto no Paraná

Ainda em 2014, em Cascavel, o procurador Carlos Bara conseguiu uma liminar contra a extração do gás de xisto. Atualmente o procurador está de férias, mas o Jornal de Beltrão falou com sua assessora, Priscila Berté. “Como ainda há muita incerteza sobre o assunto e muitos países já proibiram e apresentaram danos causados pela exploração do xisto, decidimos entrar com essa ação”.

A ação em questão visa embargar um leilão federal que liberaria a exploração de gases não convencionais no subsolo da região. Segundo Priscila, a ação ainda está correndo, mas a Justiça já deu a liminar para suspender a licitação e ainda este ano deve sair uma sentença em 1º grau.
Francisco Beltrão também tem uma lei no setor. Ainda no fim de 2015, projeto de lei da vereadora Elenir de Souza Maciel (PP) proibiu no município a extração de xisto.

Em dezembro de 2016, o Governo do Paraná proibiu para os dez próximos anos o estudo e a extração do gás de xisto por meio do fracking em todo o Estado. O Paraná é o primeiro em todo o País a tomar essa iniciativa.
Baseando-se nessa proibição, Juliano, coordenador da Coesus, afirma que a entidade está entrando com ação pública contra a ANP e a empresa, para que parem as atividades e respondam criminalmente pelos meses de pesquisa. “Porque o teste está vetado. É uma lei sancionada!”, diz.
A ANP, por sua vez, mantém-se na posição de que sua pesquisa não tem relação com a extração de xisto, por isso não se enquadraria na proibição mencionada.

Neste mês, caminhões da pesquisa geológica passaram pelas rodovias de Beltrão. Fotos: Rubens Anater/JdeB

Autoridades discutem o fracking em Francisco Beltrão

JdeB – Na quarta-feira, dia 25, autoridades de Francisco Beltrão reuniram-se para discutir o assunto do fraturamento hidráulico para extração de xisto. Esmeralda Gusmão, da Defesa Civil, o capitão Eriksen Mafra, dos bombeiros (representando o major Schinda), o vice-prefeito Antonio Pedron (PSC), o major Luiz Roberto, do Exército, e a promotora Maria Fernanda Salvadori Belentani, do Ministério Público do Estado, estiveram presentes.

A reunião foi provocada pela Prefeitura, como uma forma de nivelar e compartilhar os conhecimentos entre os setores do município.
O capitão Mafra comentou que existem riscos na utilização da técnica, por isso é importante discutir a questão. Segundo ele, o grupo deverá se reunir novamente em breve, para talvez definir alguma ação ou posição do município.

Esmeralda Gusmão comenta que, da parte da Defesa Civil, o conselho é que os municípios da região também proíbam o fracking, como Beltrão já fez em 2015.

Riscos do fracking

A extração do gás de xisto do subsolo pela técnica de fraturamento hidráulico acontece através da perfuração de um poço, no qual é injetada, sob alta pressão, uma mistura de água e substâncias químicas, que fraturam a rocha e liberam o gás.

A crítica à técnica considera que tanto os gases quanto as substâncias utilizadas podem vazar, contaminando solo, ar, animais e água – inclusive o Aquífero Guarani, no subsolo do Paraná. Além disso, a técnica utiliza quantidades enormes de água, um desperdício na opinião de quem se posiciona contra a técnica.

Juliano Bueno de Araújo, coordenador da Coalizão Não Fracking Brasil (Coesus), diz que a contaminação é grave e compromete todo o futuro da região em que a exploração do gás acontece. “Visitamos cidades no exterior que já passaram pelo processo e o que a gente vê não é a riqueza e o desenvolvimento que eles prometem, é pobreza e a decadência da infraestrutura do local.”

Esmeralda Gusmão, da Defesa Civil, pondera que a extração do xisto poderia até enriquecer algumas pessoas, como o proprietário da terra onde o gás fosse encontrado. “Mas não vale a pena. Essa exploração vai acabar causando desertificação, a terra não vai produzir mais nada e nem ter condições de habitar.”

O chefe do escritório regional do IAP, Dirceu Abatti, disse que o instituto não se posiciona contra as pesquisas geológicas, mas diz que se elas abrirem portas para a utilização do fracking, “a situação é diferente. Temos o entendimento que esse método de extração é altamente prejudicial”.

Mundo afora, a discussão também acontece. Países europeus e os Estados Unidos passam por diversas polêmicas no setor – de um lado fica a possível geração de energia e dinheiro através da extração do gás. Do outro, a preocupação em manter o ambiente limpo, habitável e sustentável para as próximas gerações.

Fonte – Rubens Anater, Jornal de Beltrão de 30 de janeiro de 2016

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