Por Ellen Nemitz · ECO - 18 de dezembro de 2024 - Câmara ressuscitou “jabutis” da…
Estamos ceifando a árvore da vida
Sexta extinção em massa não está sendo causada por desastres naturais, mas por nós, humanos. (Barcroft Media / Contributor/Getty Images)
Desde a ascensão do Homo sapiens, mais de 300 espécies de mamíferos desapareceram, e, com elas, mais de 2,5 bilhões de anos de história evolutiva
A evolução de um ser vivo na Terra é marcada por ciclos de vida e morte. Nos últimos 450 milhões de anos, cinco grandes extinções em massa levaram ao desaparecimento de milhares de espécies de plantas e animais. Ao que tudo indica, vivemos um novo ciclo de extermínio. Atualmente, uma em cada cinco espécies corre risco de extinção e, até o final do século, metade de todas as espécies animais poderá sumir.
Mas, diferentemente dos processos anteriores, causados por fortes erupções vulcânicas, eras glaciais e queda de meteoritos (como o que extinguiu os dinossauros há 65 milhões de anos), a chamada sexta extinção em massa não está sendo causada por desastres naturais, mas por uma única espécie – nós, humanos.
Um novo e preocupante estudo, publicado na revista da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos (PNAS), estima que desde a ascensão do Homo sapiens, mais de 300 espécies de mamíferos desapareceram da face da Terra, e com elas, mais de 2,5 bilhões de anos de uma história evolutiva única.
História evolutiva? Pois é, a biodiversidade é mais do que o número de espécies presentes na Terra, e representa o conhecimento apreendido pelas espécies ao longo de milhares de anos de evolução.
A soma desses conhecimentos alimenta o que os cientistas chamam de árvore da vida, cujos galhos representam a história de cada espécie que já passou por aqui. E o que o novo estudo mostra é que as perdas nessa seara são desproporcionalmente grandes nas espécies de mamíferos em comparação com o número de espécies que foram extintas recentemente.
E isso é preocupante. Quanto mais diferenciada a espécie — como é o caso de grandes mamíferos, que levaram centenas de milhares de anos para evoluir a chegar a sua forma atual — maior é o galho e a perda evolucional quando a espécie some.
“Grandes mamíferos, ou megafauna, como preguiças-gigantes e tigres-dentes-de-sabre, extintos há cerca de 10.000 anos, eram altamente distintos em termos evolucionários. Como tinham poucos parentes próximos, suas extinções significavam que ramos inteiros da árvore evolutiva da Terra eram cortados” diz o paleontólogo Matt Davis, da Universidade de Aarhus, na Dinamarca, que liderou o estudo em comunicado da instituição.
Recuperação
Embora a cada extinção em massa, o tecido da vida preencha lentamente suas lacunas com novas espécies, nós humanos estamos exterminando animais tão rapidamente que o mecanismo de defesa embutido na natureza, que é a própria evolução, não consegue acompanhar, alerta o estudo, feito em parceria com a Universidade de Gotemburgo, na Suécia.
A queima de combustíveis fósseis, o desmatamento de florestas para o agronegócio, a construção de cidades em áreas sensíveis, o despejo de resíduos no oceano e a caça excessiva, todas essas atividades tornam a Terra mais hostil aos animais e os empurram para a extinção.
Se os atuais esforços de conservação não forem melhorados, os pesquisadores advertem que muitas espécies de mamíferos serão extintas ao longo dos próximos 50 anos, e será necessário de 3 a 5 milhões de anos para a natureza se recuperar dessas perdas.
Na prática, isso seria o tempo que mamíferos menores teriam que evoluir e diversificar para compensar a o sumiço dos grandes mamíferos. Em relação às perdas que ocorreram desde que os humanos modernos começaram a andar por aqui, seriam necessários de 5 a 7 milhões de anos, estima o estudo.
Para o estudo, os pesquisadores vasculharam um extenso banco de dados de mamíferos que inclui espécies existentes e que viveram no passado recente, mas foram extintas nos últimos 130 anos.
“Estamos começando a derrubar toda a árvore [da vida], incluindo o ramo em que estamos sentados agora”, disse Davis, da Universidade de Aarhus, ao britânico The Guardian. “Estamos entrando no que poderia ser uma extinção na escala da que matou os dinossauros.”
De maneira preocupante, algumas dos grandes animais mais icônicos da atualidade estão enfrentando taxas crescentes de extinção. Espécies criticamente ameaçadas, como o rinoceronte negro, correm alto risco de extinção nos próximos 50 anos. Outras, como os elefantes asiáticos, uma das duas únicas espécies sobreviventes de uma notável ordem de mamíferos que incluía mamutes e mastodontes, têm menos de 33% de chance de sobreviver até o final deste século.
“Apesar de termos vivido em um mundo de gigantes, como os castores, tatus e cervos gigantes, agora vivemos em um mundo cada vez mais empobrecido de grandes espécies de mamíferos selvagens. Os poucos gigantes remanescentes correm o risco de serem eliminados muito rapidamente “, disse Jens-Christian Svenning, da Universidade de Aarhus, no comunicado de imprensa.
A equipe de pesquisa não tem apenas más notícias, no entanto. Seus dados e métodos podem ser usados para identificar rapidamente espécies em risco de extinção.
Salvar animais com longas histórias evolutivas, como é o caso do grandes mamíferos ameaçados da atualidade, deveria estar no centro dos esforços de preservação dos governos mundiais, defende o principal autor da pesquisa. “É muito mais fácil salvar a biodiversidade agora do que voltar a evoluí-la mais tarde”, disse Davis.
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