Por Pedro A. Duarte - Agência FAPESP - 12 de novembro de 2024 - Publicado…
Este marco aterrorizante que alcançamos não havia sido atingido nos últimos 800 mil anos
A humanidade acaba de atingir uma marca histórica. Infelizmente, esse não é um motivo para comemorações – muito pelo contrário. Pela primeira vez na história registrada, o nível médio mensal de CO2 na atmosfera excedeu 410 partes por milhão em abril, segundo observações do Observatório Mauna Loa, no Havaí.
Este recorde não é uma coincidência, apesar do que aqueles que negam o aquecimento global podem dizer. Os seres humanos transformaram rapidamente o ar que respiramos jogando CO2 na atmosfera nos últimos dois séculos. Nos últimos anos, colocamos esses níveis de gás em um território desconhecido.
Essa mudança tem conseqüências inevitáveis e assustadoras. Pesquisas indicam que, se não for controlado, o aumento dos níveis de CO2 poderia levar a dezenas de milhares de mortes relacionadas à poluição, atingir um ponto em que poderia diminuir a cognição humana e contribuir para o aumento do nível do mar e a chegada de ondas de calor e super-tempestades.
Registros no gelo
Nós temos uma boa ideia de como evoluiu a atmosfera da Terra nos últimos 800.000 anos. Humanos como nós, os Homo sapiens, evoluíram apenas cerca de 200.000 anos atrás, mas os registros do núcleo de gelo da Terra revelam detalhes intrincados da história de nosso planeta desde muito antes da existência dos seres humanos. Ao perfurar mais de 3 quilômetros de profundidade nas camadas de gelo sobre a Groenlândia e a Antártica, os cientistas podem ver como a temperatura e os níveis de dióxido de carbono da atmosfera mudaram desde então.
A partir desse registro, sabemos que a atmosfera e o ar que respiramos nunca tiveram tanto dióxido de carbono como hoje.
“Como cientista, o que mais me preocupa é o que esse crescimento contínuo realmente significa: que continuamos avançando a todo vapor com um experimento sem precedentes com nosso planeta, o único lar que temos”, alertou em seu Twitter a cientista do clima Katharine Hayhoe.
Nos 800.000 anos para os quais temos registros, os níveis globais médios de CO2 flutuaram entre aproximadamente 170 ppm e 280 ppm. Uma vez que os humanos começaram a queimar combustíveis fósseis na era industrial, as coisas mudaram rapidamente. Somente na era industrial o número subiu para mais de 300 ppm. A primeira vez que a concentração subiu acima de 400 ppm foi em 2013, e tem continuado a subir desde então.
O ar de um novo mundo
Há um debate entre os cientistas sobre a última vez que os níveis de CO2 foram tão altos. Pode ter sido durante a era do Plioceno, entre 2 milhões e 4,6 milhões de anos atrás, quando os níveis do mar estavam de 18 a 24 metros acima dos atuais. Ou pode ter sido no Mioceno, de 10 milhões a 14 milhões de anos atrás, quando o nível dos mares estava mais de 30 metros acima do atual.
Em nosso registro de 800.000 anos, levou cerca de 1.000 anos para os níveis de CO2 aumentarem em 35 ppm. Atualmente, estamos calculando um aumento de mais de 2 ppm por ano, o que significa que podemos atingir uma média de 500 ppm nos próximos 45 anos. Os seres humanos nunca tiveram que respirar ar assim. E isso não parece ser bom para nós.
Consequências
A temperatura global acompanha muito de perto os níveis atmosféricos de CO2. Os efeitos potenciais de temperaturas médias mais altas incluem dezenas de milhares de mortes por ondas de calor, aumento da poluição do ar que leva ao câncer de pulmão e doenças cardiovasculares, maiores taxas de alergias e asma, eventos climáticos mais extremos e disseminação de doenças transmitidas por carrapatos e mosquitos – algo que já estamos vendo.
Níveis mais altos de CO2 também aumentam os efeitos da poluição por ozônio. Um estudo de 2008 descobriu que para cada grau Celsius a temperatura aumenta devido aos níveis de CO2, pode-se esperar que a poluição por ozônio mate mais 22.000 pessoas por doenças respiratórias, asma e enfisema. Um estudo recente descobriu que, em geral, a poluição do ar já mata 9 milhões de pessoas todos os anos.
Outra pesquisa levantou ainda mais preocupações. O nível médio de CO2 não representa o ar que a maioria de nós respira. As cidades tendem a ter muito mais CO2 do que a média – e esses níveis sobem ainda mais dentro de casa. Algumas pesquisas indicam que isso pode ter um efeito negativo sobre a cognição humana e a nossa tomada de decisões.
Os efeitos na saúde humana nos aumentos de CO2 são apenas uma parte dos problemas. A mudança que vimos recentemente nos níveis de CO2 tem sido muito mais rápidas do que as tendências históricas. Alguns especialistas acham que estamos no caminho para atingir 550 ppm no final do século, o que faria com que a temperatura média global subisse 6 graus Celsius. Isso seria catastrófico: para contextualizar, o aumento das tempestades, a subida do nível do mar e a disseminação de doenças transmitidas por carrapatos, que já estamos vendo, vêm após um aumento de 0,9 graus.
Projeções de aumento do nível do mar continuarão à medida que os níveis de CO2 continuarem a subir. Neste momento, as emissões de dióxido de carbono ainda estão aumentando. A meta estabelecida no acordo de Paris sobre mudança climática é limitar o aumento da temperatura global a 2 graus Celsius ou menos. Mas, como um artigo recente publicado na revista Nature, estamos a caminho de mais de 3 graus de aquecimento. As últimas medições de Mauna Loa mostram que, se quisermos evitar isso, precisaremos fazer mudanças drásticas.
Fontes – Business Insider / Jéssica Maes, Hypescience de 08 maio de 2018
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