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Estudo alerta que apenas 8 homens possuem a mesma riqueza que a metade mais pobre do mundo

dólarDólar. Foto: EBC

Estudo, baseado no Credit Suisse Wealth Report 2016 e na lista de milionários da Forbes, será apresentado no Fórum Econômico Mundial

Apenas oito homens possuem a mesma riqueza que os 3,6 bilhões de pessoas que compõem a metade mais pobre da humanidade, de acordo com um novo relatório publicado pela Oxfam, apresentado hoje na reunião anual de líderes políticos e empresariais em Davos. O documento Uma economia humana para os 99% mostra que a diferença entre ricos e pobres aumenta a cada edição do estudo, numa velocidade muito maior do que a prevista. Os 50% mais pobres da população mundial detêm menos de 0,25% da riqueza global líquida. Nesse grupo, cerca de 3 bilhões de pessoas vivem abaixo da “linha ética de pobreza” definida pela riqueza que permitiria que as pessoas tivessem uma expectativa de vida normal de pouco mais de 70 anos.

“O relatório detalha como os grandes negócios e os indivíduos que mais detêm a riqueza mundial estão se alimentando da crise econômica, pagando menos impostos, reduzindo salários e usando seu poder para influenciar a política em seus países”, afirma Katia Maia, diretora executiva da Oxfam no Brasil.

Os números da desigualdade foram extraídos do documento Credit Suisse Wealth Report 2016. (Veja link abaixo.) Segundo a organização, 1 em cada 10 pessoas no mundo sobrevive com menos de US $ 2 por dia. No outro extremo, a ONG prevê que o mundo produzirá seu primeiro trilhardário em apenas 25 anos. Sozinho, esse indivíduo deterá uma fortuna tão alta que, se ele quisesse gastá-la, seria necessário consumir US$ 1 milhão todos os dias, por 2.738 anos, para acabar com tamanha quantia em dinheiro. O discurso da Oxfam em Davos também mostrará que 7 de cada 10 pessoas vivem em países cuja taxa de desigualdade aumentou nos últimos 30 anos. “Entre 1988 e 2011, os rendimentos dos 10% mais pobres aumentaram em média apenas 65 dólares (US$ 3 por ano), enquanto os rendimentos dos 10% mais ricos cresceram uma média de 11.800 dólares – ou 182 vezes mais”, aponta o documento.

“A desigualdade está mantendo milhões de pessoas na pobreza, fragmentando nossas sociedades e minando nossas democracias. É ultrajante que tão poucas pessoas detenham tanto enquanto tantas outras sofrem com a falta de acesso a serviços básicos, como saúde e educação”, reforça Katia Maia.

O relatório destaca ainda a situação das mulheres que, muitas vezes empregadas em cargos com menores salários, assumem uma quantidade desproporcional de tarefas em relação à remuneração recebida. O próprio relatório do Fórum Econômico Mundial (2016) sobre as disparidades de gênero estima que serão necessários 170 anos para que as mulheres recebam salários equivalentes aos dos homens. Segundo o texto, as mulheres ganham de 31 a 75% menos do que os homens no mundo.

A sonegação de impostos, o uso de paraísos fiscais e a influência política dos super-ricos para assegurar benefícios aos setores onde mantêm seus investimentos são outros destaques do documento da Oxfam.

Uma Economia Humana para os 99% – Outras conclusões do Relatório da Oxfam (Davos, 2017)

• Desde 2015, o 1% mais rico detinha mais riqueza que o resto do planeta.[1]

• Atualmente, oito homens detêm a mesma riqueza que a metade mais pobre do mundo.[2]

• Ao longo dos próximos 20 anos, 500 pessoas passarão mais de US$ 2,1 trilhões para seus herdeiros – uma soma mais alta que o PIB da Índia, um país que tem 1,2 bilhão de habitantes.[3]

• A renda dos 10% mais pobres aumentou em menos de US$ 65 entre 1988 e 2011, enquanto a dos 10% mais ricos aumentou 11.800 dólares – 182 vezes mais.[4]

• Um diretor executivo de qualquer empresa do índice FTSE-100 ganha o mesmo em um ano que 10.000 pessoas que trabalham em fábricas de vestuário em Bangladesh.[5]

• Nos Estados Unidos, uma pesquisa recente realizada pelo economista Thomas Pickety revela que, nos últimos 30 anos, a renda dos 50% mais pobres permaneceu inalterada, enquanto a do 1% mais rico aumentou 300%.[6]

• No Vietnã, o homem mais rico do país ganha mais em um dia do que a pessoa mais pobre ganha em dez anos.[7]

• Uma em cada nove pessoas no mundo ainda dorme com fome[8].

• O Banco Mundial deixou claro que, sem redobrar seus esforços para combater a desigualdade, as lideranças mundiais não alcançarão seu objetivo de erradicar a pobreza extrema até 2030.[9]

• Os lucros das 10 maiores empresas do mundo somam uma receita superior à dos 180 países mais pobres juntos.[10]

• O diretor executivo da maior empresa de informática da Índia ganha 416 vezes mais que um funcionário médio da mesma empresa.[11]

• Na década de 1980, produtores de cacau ficavam com 18% do valor de uma barra de chocolate – atualmente, ficam com apenas 6%.[12]

• A Organização Internacional do Trabalho (OIT) estima que 21 milhões de pessoas são trabalhadores forçados que geram cerca de US$ 150 bilhões em lucros para empresas anualmente.[13]

• As maiores empresas de vestuário do mundo têm ligação com fábricas de fiação de algodão na Índia que usam trabalho forçado de meninas rotineiramente.[14]

• Embora as fortunas de alguns bilionários possam ser atribuídas ao seu trabalho duro e talento, a análise da Oxfam para esse grupo indica que um terço do patrimônio dos bilionários do mundo tem origem em riqueza herdada, enquanto 43% podem ser atribuídos ao favorecimento ou nepotismo.[15]

• Mulheres e jovens são particularmente mais vulneráveis ao trabalho precário: as atividades profissionais de dois em cada três jovens trabalhadores na maioria dos países de baixa renda consistem em trabalho vulnerável por conta própria ou trabalho familiar não remunerado.[16]

• Nos países da OCDE, cerca de metade de todos os trabalhadores temporários tem menos de 30 anos de idade e quase 40% dos jovens trabalhadores estão envolvidos em atividades profissionais fora do padrão, como em trabalho por empreitada ou temporário ou empregos involuntários em tempo parcial.[17]

• A edição de 2016 do relatório anual do Fórum Econômico Mundial sobre as disparidades de gênero revela que a participação econômica de mulheres ficou ainda mais baixa no ano passado e estima que serão necessários 170 anos para que as mulheres recebam salários equivalentes aos dos homens.[18]

Sugestões da Oxfam para uma economia mais humana

1. Governos que trabalhem para os outros 99%

2. Incentivo à cooperação entre os países

3. Modelos de empresas com melhor distribuição de benefícios

4. Tributação justa à extrema riqueza

5. Igualdade de gênero na economia humana

6. Tecnologia a serviço dos 99%

7. Fomento às energias renováveis

8. Valorização e mensuração do progresso humano

Links

Credit Suisse Wealth Report 2016 –

Bilionários da Forbes

Notas

[1] Banco Credit Suisse (2016) “Global Wealth Databook 2016”

[2] Cálculos da Oxfam baseados na riqueza dos indivíduos mais ricos segundo a lista anual de bilionários da Forbes e a riqueza dos 50% mais pobres segundo o relatório Global Wealth Databook do Banco Credit Suisse (2016)

[3] UBS Billionaire’s Report de setembro de 2016

[4] D. Hardoon, S. Ayele, e Fuetes Nieva, R., (2016), “Uma Economia para o 1%”. Oxford: Oxfam.

[5] Cálculos da Ergon Associates baseados em dados sobre os salários de diretores-presidentes estimados pelo High Pay Centre e os pacotes médios de benefícios oferecidos a trabalhadores.

[6] P. Cohen. (2016, December 6). ‘A Bigger Economic Pie, but a Smaller Slice for Half of the U.S’. New York Times

[7] Nguyen Tran Lam. (2017, no prelo), “Even It Up: How to tackle inequality in Vietnam”. Oxfam.

[8] O Programa Mundial de Alimentos estima que 795 milhões de pessoas no mundo não têm comida suficiente para levar uma ativa saudável. Isso é cerca de uma em cada nove pessoas na terra

[9] Banco Mundial (2016), “Poverty and Shared Prosperity 2016: Taking on Inequality”, Washington DC: Banco Mundial doi:10.1596/978-1-4648-0958-3.

[10] Global Justice Now. “Corporations vs governments revenues: 2015 data”. 

[11] M. Karnik. (6 de Julho de 2015). “Some Indian CEOs make more than 400 times what their employees are paid”. Site da Quartz India

[12] Site da campanha Make Chocolate Fair

[13] Protocolo da OIT relativo à Convenção sobre o Trabalho Forçado de 2014

[14] As empresas implicadas em um estudo realizado em 2012 pela ONG Anti-Slavery International intitulado “Slavery on the High Street: Forced labour in the manufacture of garments for international brands” incluem Asda-Walmart (Reino Unido/Estados Unidos), Bestseller (dinamarquesa), C&A (alemã/belga), H&M (sueca), Gap (americana), Inditex (espanhola), Marks and Spencer (Reino Unido), Mothercare (Reino Unido) e Tesco (Reino Unido)

[15] D. Jacobs. (2015). “Extreme Wealth Is Not Merited”. Documento para Discussão da Oxfam.

[16] OIT (2015). “Global Employment Trends for Youth 2015”. pág. 49.

[17] OCDE (2015), “In It together: Why Less Inequality Benefits All”. Paris: OECD Publishing. DOI.

[18] World Economic Forum. (2016). ‘The Global Gender Gap Report’.

Sobre a Oxfam – Trata-se de confederação internacional de 20 organizações que trabalham em mais de 90 países, incluindo o Brasil, com o intuito de construir um futuro livre das desigualdades e da injustiça causada pela pobreza. www.oxfam.org.br

Fonte – Mariana Diello, EcoDebate de 13 de janeiro de 2017

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